O abuso dos direitos humanos e do direito internacional como armas para demonizar Israel difundiu-se rapidamente na sequência do infame “Fórum das ONGS’, celebrado na “Conferência de Durban”. Desde o mito do “massacre” de Jenin até as acusações de crimes de guerra feitas no “Relatório Goldstone”, esses ataques, frequentemente liderados por grupos que recebem financiamento de governos, se multiplicaram como cogumelos após a chuva.
Efetivamente, em uma exposição recente feita perante a Knesset, o primeiro ministro Binyamin Netanyahu reconheceu a extensão da ameaça, comparando-a ao programa nuclear iraniano. Mas em agudo contraste com muitos outros países envolvidos nesse processo, particularmente na Europa, o Canadá inverteu o processo.
O governo de Ottawa procurou interromper o fluxo de fundos extraídos dos contribuintes e destinado a um grupo conhecido como “Kairos”, que desempenhou um papel central na estratégia de demonização conhecida pela sigla BDS - boicote, desinvestimento e sanções. Paralelamente, a liderança canadense atual também designou novos membros para o conselho governamental conhecido como Direitos e Democracia.
Esse grupo recebe um estipêndio anual, extraído dos impostos, de mais de 11 milhões de dólares, oficialmente destinado a “encorajar e apoiar os valores universais de direitos humanos e a promoção de instituições e práticas democráticas em todo o mundo”.
Entretanto, durante muitos anos, em relação a Israel, esse grupo deixou de lado esses princípios ao apoiar o processo de demonização de Israel, inclusive fornecendo fundos para ONGs palestinas radicais, cujo trabalho consiste em satanizar e deslegitimar Israel. Dois destinatários, Al-Haq e Al Mezan, estão entre os movimentos que lideram o BDS e as campanhas de “lawfare” (guerra legal).
Em total contradição com a intenção declarada de defender os direitos humanos, Al Mezan repete a retórica palestina de violência, a ponto de denominar os ataques a civis israelenses como “resistência”.
Durante a Operação Chumbo Fundido do ano passado, Al Mezan acusou Israel de “genocídio” e “crimes contra a humanidade”. Outras imputações incluíram “apartheid”, “limpeza étnica”, “massacres” e “assassinato de civis”. A organização usa retórica altamente ofensiva, referindo-se ao “incitamento” israelense do “holocausto (genocídio)”. Al-Haq é liderada por Shawan Jabarin.
O Supremo Tribunal de Israel referiu-se a Jabarin como uma espécie de “Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, cuja participação no primeiro escalão do grupo terrorista Frente Popular de Libertação da Palestina contradiz suas alegações de ser um defensor dos direitos humanos.
No Canadá, Al-Haq desencadeou uma ação judicial no Quebec contra empresas canadenses, alegando que elas estavam “ajudando, apoiando, assistindo e conspirando com Israel” para infringir a Convenção de Genebra.
Essa mesma ONG, em conjunto com Al Mezan, tentou fazer com que o ministro de defesa Ehud Barak fosse investigado por crimes de guerra no Reino Unido, e ambas estão preparando novas ações judiciais por “crimes de guerra”.
Se o financiamento de tais grupos, que operam sob a fachada de defender “Direitos e Democracia”, já é um absurdo, descobriu-se em acréscimo que esse departamento governamental agia secretamente, sem mencionar suas práticas nas publicações ou relatórios de atividades.
Quando o novo conselho de membros obteve essa informação, seus membros foram advertidos para não fazer qualquer revelação a respeito por Remy Beauregard, o presidente da organização. Beauregard e seus aliados recusaram-se a cumprir os requisitos de transparência e responsabilidade.
De acordo com o Toronto Globe and Mail, “o conselho do departamento decidiu desaprovar as concessões financeiras feitas a Al-Haq e Al Mezan”, ao que Beauregard se opôs. Mas quando Beauregard faleceu subitamente no mês passado, o financiamento ilícito para grupos como Al Mezan e Al-Haq terminou. (Para aferir a proximidade do relacionamento entre ambos, basta ler o obituário escrito por Jabarin, diretor do Al-Haq, no site de “Rights and Democracy”).
Outra questão prestes a emergir é a viagem de Beauregard em novembro de 2008 ao Cairo, na qual ele gastou $9.431,99 do tesouro nacional (inclusive $6.562,79 pela passagem aérea — uma quantia exorbitante até mesmo para bilhetes de primeira classe).
No Cairo, ele participou de um diálogo regional sobre “Liberdade de Associação” em conjunto com representantes da Liga Árabe e do regime sírio, entre outros.
Essas revelações desencadearam agudos debates e crescentes críticas, em resposta aos quais os aliados de Beauregard recorreram a amargos ataques pessoais. Declaradamente, “os membros escreveram uma carta pedindo que os três membros do conselho renunciassem, alegando que eles haviam ofendido o Sr. Beauregard”.
Ed Broadbent, ex-presidente de Direitos e Democracia, pertencente ao New Democratic Party, tem liderado a oposição a atender aos pedidos de transparência e responsabilidade. Em contraste, os membros do conselho que não fazem parte da velha guarda, bem como os funcionários do governo que se recusaram a ceder às ameaças, estabeleceram um importante precedente, que vai além da situação no Canadá.
Além das revelações conhecidas até o presente momento, o próximo passo será a nomeação de auditores profissionais e independentes encarregados de preparar um relatório, que será integralmente publicado, sobre todas as atividades anteriores, com a finalidade de acabar com os segredos e prevenir futuros abusos. Adicionalmente, a atuação das ONGs não pode estar sujeita a políticas partidárias.
Os funcionários do governo e os líderes da oposição devem assegurar em conjunto que a retórica da moralidade e dos direitos humanos não sejam explorados por agendas políticas imorais.
No passado, o Canadá seguiu na mesma direção que a Europa, permitindo que organizações dedicadas a direitos humanos e ajuda humanitária, financiadas pelos respectivos governos, fossem utilizadas para fins de guerra ideológica, inclusive a demonização de Israel.
Agora, o Canadá conseguiu estabelecer um importante exemplo para a Europa ao reverter esse processo, encerrando os danos causados.
Os últimos acontecimentos em Rights and Democracy sublinham a necessidade de uma revisão profunda no que se refere ao critério de financiamento das ONGs que operam sob a bandeira da defesa dos direitos humanos.
Publicado no The Jerusalem Post