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Abrindo as portas trancadas

 PARASHÁ BALAK 5770 (25 de junho de 2010)



“Harry Houdini, um dos maiores mágicos de todos os tempos, tinha uma habilidade especial: ele conseguia escapar de qualquer cela trancada em, no máximo, 60 minutos, com as condições de que o deixassem entrar na cela com suas roupas normais e que ninguém ficasse observando seu trabalho para escapar.

Os moradores de uma pequena cidade britânica decidiram então desafiar o grande Houdini. Eles anunciaram que tinham acabado de desenvolver uma cela à prova de fuga e convidaram Houdini para testá-la. O desafio foi imediatamente aceito. No dia marcado, deixaram-no entrar na cela com suas roupas normais. Uma pessoa fechou a porta da cela, girou a chave de uma maneira estranha e todos se afastaram para deixar Houdini trabalhar sozinho.

O segredo de Houdini é que ele escondia uma barra de aço longa e flexível no seu cinto e utilizava-a para abrir as trancas das celas de onde escapava. Assim que as pessoas se afastaram, ele retirou a barra e trabalhou por 30 minutos, com seu ouvido muito próximo da tranca, mas nada acontecia. 45 minutos se passaram, depois uma hora, ele transpirava muito mas não conseguia abrir a tranca. 

Parecia realmente à prova de fuga, era impossível abrir aquela cela! Depois de duas horas trabalhando incessantemente ele caiu, exausto, apoiado na porta da cela. Para sua surpresa, a porta se abriu. Eles não haviam trancado a porta! Este era o truque para enganar o mais famoso artista das grandes fugas.

Houdini aprendeu naquele dia uma das lições mais importantes de sua vida: ele podia escapar de qualquer cela e abrir qualquer porta. A única porta que ele não conseguia abrir era a que estava trancada na sua mente”

Muitas vezes pensamos que somos incapazes de vencer nossos problemas e superar nossas limitações. Mas o único lugar onde as coisas são impossíveis é na nossa mente. É a única coisa que está realmente “trancada”.

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A Parashá desta semana, Balak, nos conta sobre um dos personagens mais contraditórios da Torá: Bilaam. Por um lado ele tinha um gigantesco potencial espiritual, ao ponto de conseguir ver anjos e falar diretamente com D’us. Por outro lado, ele se corrompeu completamente por causa de seus desejos insaciáveis e desceu aos níveis mais baixos. Justamente por causa dos seus “dons” espirituais é que ele foi procurado por Balak, rei do povo de Moav. As histórias das milagrosas e devastadoras vitórias militares do povo judeu contra inimigos poderosos causavam temor em todos os povos, e a aproximação dos judeus causou inquietação em Balak. Mas ele era sábio e entendeu que as vitórias do povo judeu não eram por causa de sua força militar e sim por causa de sua força espiritual. Enquanto o povo judeu tivesse as Brachót (bênçãos) de D’us, ninguém conseguiria vencê-los. Portanto Balak contratou Bilaam, por uma enorme quantia de ouro, para que ele utilizasse seus “dons” espirituais para amaldiçoar o povo judeu, o que talvez possibilitasse uma vitória na guerra.

Mas a idéia de Balak, apesar de ter sido genial, não funcionou, pois ele esqueceu que ninguém pode levantar nem mesmo um dedo se D’us assim não o permitir. Apesar de Bilaam ter feito três tentativas de amaldiçoar os judeus, D’us os protegeu e, ao invés de maldições, da boca de Bilaam só saíram Brachót. Balak então se irritou muito com Bilaam, como está escrito “E Balak se enfureceu com Bilaam e bateu as palmas. E disse Balak a Bilaam: ‘Eu te trouxe para amaldiçoar meus inimigos e você os abençoou três vezes!’ ” (Bamidbar 24:10).

Mas se voltarmos ao início da Parashá, surge uma pergunta. Desde o momento da contratação, Bilaam já havia avisado a Balak que talvez não conseguisse amaldiçoar o povo judeu, como está escrito “Você pensa que eu consigo dizer qualquer coisa? Eu somente consigo dizer as palavras que D’us coloca na minha boca” (Bamidbar 22:38). Então por que Balak ficou tão bravo com Bilaam? Se houvesse a expectativa de que o sucesso estava garantido, a frustração seria entendida, mas depois de Bilaam ter deixado clara a possibilidade de fracasso, por que foi tão grande a insatisfação de Balak?

Explica o Rav Yossef Dov Solovetchik, mais conhecido como Beit Halevi, que existem dois tipos de “não consigo”. Por exemplo, se uma pessoa pedisse para um amigo dar um tapa na cara de alguém importante e oferecesse dinheiro para isso, a pessoa responderia “não consigo”. Se a pessoa oferecesse dinheiro para o mesmo amigo escalar um prédio de 40 andares, ele também responderia “não consigo”. Apesar das duas respostas serem iguais nas palavras, elas são completamente diferentes no seu conteúdo. Não conseguir dar um tapa em outra pessoa não é uma incapacidade física, está relacionado com valores intelectuais e morais. Uma pessoa normal não conseguiria dar um tapa em outra pessoa por dinheiro, pois sua consciência o impediria. Já em relação a escalar um prédio de 40 andares, a pessoa não conseguiria por uma real impossibilidade física.

Qual a diferença prática entre os dois “não consigo”? No primeiro “não consigo”, se o valor oferecido fosse gradualmente aumentado, chegaria um momento em que os valores monetários falariam mais alto do que os valores morais e a pessoa conseguiria dar o tapa. Mas o ato de escalar o edifício continuaria sendo impossível, independente de quanto dinheiro fosse oferecido.

Estas duas formas de entender a expressão “não consigo” explicam a grande irritação de Balak. Bilaam, ao ser contratado, realmente disse que talvez não conseguisse amaldiçoar o povo judeu. Mas como Balak conhecia o desejo incontrolável de Bilaam por dinheiro e honra, imaginou que a resposta significava “por este valor talvez eu não consiga fazer este ato moralmente feio, mas se você oferecer mais, quem sabe eu consiga superar este bloqueio”. Como Balak estava disposto a pagar o que fosse pela maldição, ele ficou confiante que o acerto econômico ocorreria facilmente. O que ele não esperava é que Bilaam estava realmente se referindo à impossibilidade de amaldiçoar o povo judeu se D’us não permitisse, independente de quanto dinheiro recebesse.

Apesar da Torá ter sido escrita há mais de 3.000 anos, ela continua atual como nunca. Da mesma forma que Balak se confundiu sobre qual era o sentido verdadeiro da expressão “não consigo” dita por Bilaam, muitas vezes nós cometemos o mesmo erro. Às vezes dizemos para nós mesmos “gostaria de ser uma pessoa melhor, ajudar mais aos outros, fazer mais Mitzvót no meu dia a dia, mas eu não consigo”. O que significa este “não consigo”, que é realmente impossível, que tentamos de tudo para alcançar nossos objetivos espirituais e descobrimos que não temos como fazer mais nada? Certamente que não. Mas mesmo assim desistimos sem nem mesmo tentar.

A grande maioria das nossas limitações é imposta por nós mesmos. A depressão, uma das piores doenças da atualidade, que atinge uma elevada parcela da população mundial, é muitas vezes consequência da nossa falta de auto-estima. Achamos que somos pequenos, que não conseguiremos nunca chegar a níveis mais elevados, que é realmente impossível. Mas vemos que na prática isto é um grande erro. Se alguém nos perguntasse se conseguiríamos jogar uma partida de tênis por 11 horas seguidas, qualquer um responderia imediatamente que não, pois é impossível. Mas nesta semana dois tenistas passaram mais de 11 horas jogando uma única partida, em um dos torneios mais tradicionais do mundo, o de Wimbledon. De onde surgiu esta força? Na verdade ela sempre existiu dentro de cada um deles, apenas estava adormecida, esperando o momento de aflorar. E o que despertou esta força? Os milionários prêmios e a honra de ser o melhor tenista do mundo. Isto quer dizer que, em geral, o “não consigo” é consequência da falta de motivação adequada.

Se pararmos para refletir, chegaremos a uma conclusão lógica: se uma pessoa se esforça neste nível para ganhar um prêmio em dinheiro e fama, coisas passageiras que vem e podem ir embora de um instante para o outro, quanto mais temos que nos esforçar por nossa eternidade, algo que é garantido e para sempre. Por que não nos esforçamos assim espiritualmente? Pois não colocamos no coração a idéia de que cada ato neste mundo vale nossa eternidade. Investimos todo o nosso esforço nas coisas passageiras e não sobra tempo para as aquisições verdadeiras. Portanto, da próxima vez que quisermos crescer espiritualmente e a expressão “não consigo” vier à nossa cabeça, é bom verificar se realmente é impossível ou se estamos apenas enganando a nós mesmos.


Rav Efraim Birbojm
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