*Daniel Presman
“E o Deus falou a Moisés, dizendo... Estas são as festividades de Deus... No primeiro mês, aos 14 dias do mês, à tarde, é Pessach [Páscoa] para Deus... a festa dos pães não fermentados [Matsá]... por sete dias comereis Matsá...” (Bíblia, Levítico 23:1-6)
De acordo com a Bíblia, os judeus devem celebrar anualmente por sete dias, desde o dia 14 do mês de Nissan do calendário judaico (que este ano coincide com o dia 8 de Abril), a festa de Pessach [Páscoa], que comemora a saída dos judeus do Egito.
Pessach é a festa da liberdade, já que se trata da comemoração da libertação dos judeus que eram escravos no Egito e partiram para uma vida livre na Terra Prometida de Israel. De acordo com a tradição judaica, este episódio, cercado de incríveis milagres, é central na história da humanidade, pois o povo recém saído do Egito dirigiu-se ao Monte Sinai, onde recebeu de Deus a Torá, que contém as orientações e ensinamentos fundamentais para a sustentação do mundo.
Esta festa também possui um papel essencial na transmissão da tradição. Em Pessach, as crianças são especialmente lembradas. A família se reúne para uma refeição chamada Seder, na qual se narra toda a história da escravidão e da libertação do judeus no Egito. Deste modo as próximas gerações aprendem sobre Pessach e podem transmitir sua história e seus valores para as gerações seguintes.
Outra importante regra que vigora durante os dias da festa de Pessach é que os judeus se abstêm de comer pão ou qualquer alimento fermentado, chamado de Chamêts. O único pão permitido é o pão ázimo, chamado de Matsá. De acordo com a Bíblia, quando os judeus saíram do Egito, saíram às pressas, e a massa do pão não teve tempo para fermentar. Por este motivo, na festa de Pessach se come Matsá.
Existem diversas explicações e ensinamentos a respeito das tradições, leis e costumes da festa de Pessach. A própria Matsá pode nos ensinar muito sobre o ser humano. Afinal de contas, a Matsá, assim como o pão é feita de farinha e água. O pão, no entanto, dá a impressão de ser bem maior, porque fermenta e se enche de ar, mas, se o amassamos veremos que ele não é maior que uma Matsá.
O pão simboliza o orgulho que temos dentro de nós – tentar mostrar aos outros algo que não somos por dentro. A Matsá, por outro lado, representa a humildade – um simples biscoito de farinha. A festa de Pessach e a Matsá nos lembram que devemos nos afastar desse orgulho e procurar dentro de nós mesmos nossa essência para poder sempre crescer.
* Daniel Presman é Rabino da sinagoga Linat Hatsédek, coordenador do projeto universitário Kiruv no Rio Grande do Sul e professor do Colégio Israelita Brasileiro de Porto Alegre.