A História de Leah Attali - Como fui salva da Shoá
Nasci no fim de 1939 - o início da 2a Guerra Mundial - sendo a mais nova de três irmãos, no pequena cidade chamada Trouville, perto do mar. Meus pais eram mercadores, judeus religiosos, pessoas simples, que não acreditavam que nada lhes aconteceria, pois eram honestos e corretos... Meu pai, de abençoada memória, foi para Paris com meu irmã e minha irmã, enquanto eu (com 2 anos), fiquei com minha mãe, de abençoada memória).
Minha mãe e eu fomos levadas para o Campo de Concentração de Beurron La Motte, que era comandado por um homem francês, nomeado para a função (aparentemente contra sua vontade), que queria nos salvar, e tentava convencer minha mãe a esconder sua judeidade, para que fossemos consideradas polonesas, e então recebermos um melhor tratamento, mas ela recusava, orgulhosa de ser judia! Ele, Raymond Ettlein, o Diretor, retirou-me para o orfanato do Hospital, em Blois, que era dirigido por um amigo seu.
Este seu amigo, Pierre Allart, vinha visitar o hospital com sua mulher, Blanchette, e no dia em que me viram, levaram-me para sua própria casa (eles tinham apenas um filho - Claude - que já não era mais criança). Meu estômago estava ferido da comida do campo, e eles me ajudaram a me recuperar, cuidaram de mim, e então eu vivi com eles... por anos maravilhosos, no auge da Guerra!
Eles me diziam que eu tinha um pai e uma mãe "reais", apesar de meu pai ter sido levado para o Campo de Drancy e de lá para Auschwitz - eu não tenho memória dele.
A vida foi muito boa com eles, eles eram nobres, tinham uma empregada, um jardineiro, governanta, etc... Tinham uma propriedade com campos de caça, e posso me lembrar com detalhes da minha vida lá - Não tinha amigos, mas havia várias brincadeiras, e o jardineiro havia feito meu próprio jardim. Todo ano eu escrevia para o Papai Noel, pedindo brinquedos e presentes para o resto da família, e que ele me trouxesse de volta meu pai e minha mãe. Os Allarts tentaram manter contato com minha mãe e até mesmo com meus irmãos (encontrei cartas que confirmam isso).
A guerra cabou, e minha mãe verdadeira se transformou numa mulher 'quebrada' - tanto fisicamente, quanto mentalmente. Ela foi convidade para a propriedade dos Allarts para que eu me acostumasse com ela, mas era extremamente difícil para todos nós: eles tinha planejado que eu voltaria para ela, mas estavam muito apegados a mim (estive com eles por 5 anos), enquanto para mim, não queria deixá-los, e minha mãe doída por eu não quer deixá-los para ir com ela - para mim, este era o início da Shoá!!
Gradualmente, voltei para minha mãe, e ia visitar os Allarts a cada férias; minha mãe vivia na pobreza, não tinha uma casa, e nós nos mudavamos de lugar em lugar, ficando com outros pessoas, com ou sem água e eletricidade (literalmente, para "Mama Blanchette", como se tivesse nascido lá).
Como disse, minha mãe tinha perdido tudo, exceto os 3 filhos - o marido, a casa, seus pertences. A primeira coisa que ela queria, entretanto, foram candelabros para que ela pudesse acender as velas de Shabat: então, Blanchette pegou seus candelabros de seus móveis, e deu para ela - eu ainda uso eles. Minha mãe concordou que eu poderia continuar visitando-os, mas insistia que eu comesse somente comida kasher. Então, eles compraram um Shulchan Aruch (Código da Lei Judaica) em francês, e também louça de vidro, que mantinham separados para quando eu ia visitá-los.
Pierre inclusive veio ao nosso casamento, a cerimônia civil no Town Hall de Paris. Ele era verdadeiramente um homem justo entre as nações, e sua memória merece ser abençoada.
Fonte: Central Pedagógica da Agência Judaica