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De Damasco a Nabatieh – A história da tranferência de mísseis da Síria ao Hezbollah

 Gustavo Chacra


Ao longo de toda a semana, a suposta transferência de mísseis Scuds da Síria para o Hezbollah tem dominado os debates de Beirute a Tel Aviv, de Ramallah a Damasco. A notícia surgiu primeiro em um jornal kuwaitiano. Depois, repercutiu em declarações do presidente de Israel, Shimon Peres. O regime de Bashar al Assad e a organização libanesa negaram.

Os Estados Unidos suspeitam de que seja verdade. Enviaram o senador John Kerry para a Síria e convocaram um diplomata sírio em Washington para dar explicações. Na Itália, o premiê libanês, Saad Hariri, acusou Israel de mentir sobre o episódio.

Independentemente de ser verdade ou não, a acusação da transferência dos mísseis reascendeu a tensão na fronteira do Líbano com Israel, em um momento em que os israelenses também observam o recrudescimento nos disparos de foguetes vindos de Gaza e, agora, também do Sinai.

ISRAEL - Israel teme o Hezbollah. Afinal, a organização libanesa é a mais poderosa milícia armada do mundo e inimiga declarada dos israelenses. Os Scuds fortalecem ainda mais o grupo xiita. Mesmo sem estas armas, o Hezbollah possui capacidade para alvejar Tel Aviv e Haifa com seus atuais mísseis de localidades tão distantes como o norte do vale do Beqaa. Com elas, cresce a ameaça psicológica. Os Scuds foram usados por Saddam Hussein contra os israelenses na Guerra do Golfo – um conflito que, sob qualquer ponto de vista, Israel foi apenas uma vítima. Agora, em Tel Aviv, certamente os habitantes temem que em um conflito com o Irã o Hezbollah use estas armas.

LÍBANO – O que esquecem é da dinâmica da política interna libanesa. O Hezbollah é xiita e também libanês. E, para ter legitimidade interna, depende de acordos com os cristãos ligados a Michel Aoun e algumas facções sunitas e druzas. Sabem que uma nova guerra contra Israel, em nome do Irã, arrasaria a imagem da organização em Beirute, especialmente na ala cristã, onde conta com relativa simpatia. Além disso, não podemos esquecer que os iranianos foram covardes nas guerras do Líbano e Gaza. Em nenhum momento o regime de Teerã teve coragem de bater de frente com Israel para defender seus aliados Hamas e Hezbollah. Por que os palestinos e os libaneses ajudariam o Exército do Irã caso Israel decida bombardear instalações iranianas para frear o programa nuclear?

SÍRIA – Assad, na Síria, sabe que os EUA precisam dele. O subsecretário de Estado dos EUA, Jeffrey Feltman, que nunca simpatizou com Damasco nos seus tempos de embaixador americano em Beirute, defendeu a manutenção da aproximação com os sírios em depoimento a deputados em Washington e o diálogo de Kerry com Assad será mantido em segredo. Sabendo disso, a Síria faz seus tradicionais jogos, provocando um aqui, agradando outro ali, enquanto restaura sua influência no Líbano. E esta, hoje, independe do Hezbollah. Os sírios se aliaram novamente ao líder druzo Walid Jumblatt e mantém amizade pessoal com o presidente Michel Suleiman. Os dois são poderosíssimos no Líbano. Para que armar ainda mais o Hezbollah? Para ter uma força ainda mais poderosa no Líbano que pode futuramente se voltar contra a Síria? Não faz sentido. Mas, na região, tudo é como no filme Poderoso Chefão. Nunca se sabe.

Falta ainda discutir afirmação de Hariri, negando a transferência. E o premiê está longe de ser um amigo da Síria, a quem acusa de ter matado seu pai em atentado em 2005. Além disso, o Hezbollah invadiu a sua casa (de Saad) e queimou seu canal de TV. Por que ele iria proteger os sírios e o grupo xiita? Segundo Haaretz, porque o primeiro-ministro, que é um dos homens ricos do mundo, teme que uma nova guerra afete seus investimentos bilionários em Beirute. Pode ser verdade. Mas, no Líbano, todos, incluindo Hariri, voltaram a levantar a história de que Israel quer mais uma vez estragar o verão libanês, com suas praias paradisíacas, sua vida noturna incomparável naquela parte do mundo e a chegada de um número recorde de turistas. Aliás, como também se espera em Tel Aviv, outra cidade fantástica. Espero apenas que libaneses e israelenses não sejam atraídos para um conflito de Teerã, estragando os dias de sol no Mediterrâneo.

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