Superioridade Militar, Parte I: Definição e Situação Atual
O jornal judaico The Forward introduziu o assunto em dezembro e o Haaretz o abordou este mês, onde se lê: "a administração Bush violou acordos de segurança com Israel em que os EUA se comprometeram a manter a superioridade militar israelense sobre as forças árabes, segundo altos oficiais do governo de Obama e de Israel. O mesmo artigo sugere que o Conselheiro para a Segurança Nacional, Jim Jones, teria viajado a Israel para discutir o assunto. Mas logo se verificou que a viagem visava a pressionar Israel a mais conversas inúteis com os palestinos, que se recusaram a cooperar.
O objetivo parecia ser o de fazer relações públicas para o governo Obama, cuja popularidade entre os israelenses é baixíssima. Falar mal do governo anterior é uma tática sempre usada, mas a verdade é ao mesmo tempo menos e mais do que parece.
·Em primeiro lugar, o conceito de superioridade militar é um tanto vago;
·O governo Bush tomou medidas que reduziram a capacidade militar de Israel contra alguns de seus inimigos, ainda que tenha fortalecido o país em outros aspectos;
·O governo Obama está repetindo os erros de Bush em dose dupla e ainda acrescentando seus próprios erros;
·Israel não protesta contra medidas que o afetam direta e demasiadamente.
A idéia da superioridade militar israelense teve início com uma promessa (não um tratado) do governo Johnson de manter a capacidade israelense de enfrentar qualquer possível combinação de forças árabes numa guerra não nuclear. A promessa vem sendo repetida por sucessivos governos, porém não quantificada e não quantificável. As armas em si podem ser contadas uma a uma, mas a superioridade militar israelense sobre as forças árabes sempre foi mais do que isso. Ela foi e continua sendo uma combinação dos seguintes itens:
·Melhor qualidade e maior quantidade de armas;
·Melhor tática e treinamento dos soldados;
·Melhor qualidade em geral dos soldados e de seus líderes.
É somente neste último item que Israel é independente.
No início foi fácil. Quando os soviéticos supriam os árabes e os EUA supriam Israel, a qualidade das armas ocidentais compensava a quantidade das armas russas. A tática e o treinamento dos soldados israelenses era estupefaciente – após a guerra do Líbano em 1982, em que Israel derrubou 82 MiGs (russos) sobre o Líbano, os pilotos israelenses disseram que se os sírios estivessem usando caças F-16 e os israelenses usando os MiGs, a proporção teria sido outra mas o resultado teria sido o mesmo.
Ocorre que esses tempos já se foram. Ao longo das décadas de 1980, 1990 e a primeira deste século, os EUA vêm vendendo aos árabes grande quantidade de armas de ponta (começando pelo governo Reagan, que vendeu caças F-16 para a Arábia Saudita em 1981) – inclusive cartuchos de urânio desgastado para tanques e bombas bunker-buster. Além disso, os EUA vêm treinando pilotos sauditas, condutores de tanque egípcios e operadores de radar kuwaitianos. Israel, por ter uma paz formal com o Egito, não se opõe ativamente contra essas vendas, preferindo e compreendendo a necessidade de ficar calado enquanto mantém a superioridade tecnológica. É por isso que Israel sempre "adapta" o que compra dos EUA, para estender a ponta na tecnologia com conhecimento produzido em casa.
Por razão semelhante, Israel se negou a participar de alguns exercícios aéreos americanos na década de 1980. Israel sabia que suas táticas desenvolvidas para uso nos caças americanos seriam compartilhadas com os pilotos americanos, que por sua vez as compartilhariam com os pilotos sauditas. Segundo um piloto israelense na época, "uma coisa é a tua mulher tirar fotos no quarto de dormir. Outra coisa é ela sair vendendo as fotos pela rua".
O governo dos EUA afirma que vendas específicas de armas a países árabes específicos não alteram o equilíbrio da região, e que Israel basicamente continua tendo o direito de comprar mais de qualquer item que precise (exceto, como veremos na parte II deste relatório, os helicópteros Apache e a nova geração de caças F-35). A questão, no entanto, é que Israel tem a sua limitação de recursos – se os sauditas têm 153 caças F-15 americanos de vários tipos, e seis caças Eurofighter Typhoon, e ainda anuncia a compra de mais 71 Typhoons, de que maneira pode Israel manter alguma superioridade quando o governo Obama anuncia a venda de mais 24 caças F-16 para o Egito e 24 caças F-16 para o Marrocos?
Como já observamos acima, Israel mantém o controle sobre a qualidade dos soldados que entram no IDF e de seus líderes.