Jayme Copstein
A vida copia a ficção ou a ficção copia a vida? Ou a ficção se disfarça de vida para esconder as ficções da vida? É complicado este caso de Dubai, aonde Mahmoud al Mabhouh, líder do Hamas, fora praticar seu inocente passatempo de comprar armas e explosivos de traficantes internacionais e acabou assassinado.
A primeira versão veio da gerência do hotel – morte natural. Como todos estamos carecas de saber, em hotéis de cinco estrelas para cima, tudo é muito natural e está sempre sob controle, de furtos, estupros e assassinatos a terremotos e erupções vulcânicas.
As câmeras do sistema de vigilância mostraram desusada movimentação de 11 pessoas em torno de Abud Bud Bud, na portaria do hotel, o que despertou a suspeita de assassinato. A BBC de Londres, em sua guerrinha particular contra Israel, logo obedeceu à palavra de ordem "culpar Israel" e adotou a versão da Polícia de Dubai, de o crime ter sido cometido por agentes do Mossad, já que os assassinos clonaram passaportes de pessoas de várias nacionalidades, mas sete delas residentes em Israel. Ou já não se fazem mais Mossads como antigamente ou é a nova versão da velha anedota do agente secreto português, cujos cartões de visita diziam: "Manoel dos Anzóis, espião". No caso, "Itzak Khamor, shmock" (Isaac Jumento, babaca).
Foram omitidos da versão dois insignificantes pormenores. Primeiro, um líder como Mahmoud al Mabhouh não se desloca sem forte esquema de segurança, o que explicaria a presença de 11 agentes de sua guarda pessoal registrada pelas câmaras de vigilância. Ou alguém consegue acreditar que ele desembarcou do táxi, sozinho, carregando a mala e foi entrando sem mais, sem menos, no meio de uma manada de turistas? Nem o nosso Lula da Silva faria isso, naquela pousada do litoral paulista onde passa as férias.
O segundo pormenor é o sigilo absoluto em torno da missão de alguém que vai comprar armas clandestinamente de traficantes internacionais. Só quem sabia da movimentação de Mahmoud al Mabhouh era o alto comando do Hamas. Logo, só "alguém de dentro" é que poderia vazar a informação, com o objetivo de eliminá-lo.
Se foi o Mossad quem assassinou ou deixou de assassinar, não pode ficar fora de foco que, quem dedou Mahmoud al Mabhouh, ou com ele disputava poder dentro do Hamas. ou se desentendeu quanto ao dinheiro que flui generosamente do Irã e da Síria para os cofres da organização.