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Grupos pró-Israel também ganham força na Europa

David Cronin

Artigo publicado originalmente no site do IPS


Há muitos anos, os grupos defensores de Israel são reconhecidos como
uma força que molda a política externa dos Estados Unidos. Menos
conhecidos são os esforços do lobby pró-israelense para intensificar
sua presença na Europa.

A determinação desse lobby de impressionar os políticos da União
Européia (UE) ficou em evidência em um novo folheto publicado em 28 de
janeiro.

Intitulado Squaring the Circle: EU-Israel Relations and the Peace
Process in the Middle East (algo como Desatando o nó: as relações
UE-Israel e o processo de paz no Oriente Médio), o livreto afirma que
o bloco deveria "reavaliar suas prioridades" e buscar relações mais
íntimas com o Estado israelense, independentemente do avanço ou não na
busca de uma solução para o conflito com os palestinos.

Ao contrário das inúmeras publicações sobre assuntos da UE que
rapidamente desvanecem na obscuridade, há boas razões para acreditar
que isso não passará despercebido pelos corredores do poder.

Antes de mais nada, a nova publicação foi divulgada pelo Centro de
Estudos Europeus, organização oficial de especialistas da rede de
democratas-cristãos e partidos conservadores que dominam os governos
do bloco.

Em segundo lugar, seu autor, Emanuele Ottolenghi, já demonstrou sua
capacidade de chamar a atenção dos políticos redigindo vários
panfletos para os Amigos Trabalhistas de Israel, organização que tem
em suas fileiras as principais figuras do Partido Trabalhista da
Grã-Bretanha..

Ottolenghi é diretor do Instituto Transatlântico, sediado em Bruxelas
e criado em 2004 pelo Comitê Judaico Americano (AJC, na sigla em
inglês).

"O AJC é o braço de política externa do lobby israelense", disse
Mohammad Idrees Ahmad, pesquisador da Universidade de Strathclyde, na
Escócia e que acompanha as atividades de entidades conservadoras
pró-israelenses para o website Neoconeurope.eu.

"Os dois lugares nos quais (o grupo) decidiu se concentrar são a
América Latina e a Europa. Isso se deve à sensação de que o poder
norte-americano estaria em decadência", afirmou.

Difamações

O AJC conseguiu convencer a UE de que muitas críticas a Israel podem
ser consideradas difamações contra os judeus em geral.

Em 2005, o Centro de Monitoração de Racismo e Xenofobia do bloco
(depois rebatizado de Agência dos Direitos Fundamentais) publicou uma
definição de anti-semitismo em consulta com o AJC e a Liga
Antidifamatória, de mentalidade similar.

Segundo esta definição, as críticas a Israel, as afirmações de que a
criação do Estado judeu foi "um esforço racista" e as comparações do
tratamento dispensado pelos israelenses aos palestinos com o
comportamento dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) deveriam ser consideradas manifestações de anti-semitismo.

O novo folheto de Ottolenghi invoca esta definição para pedir que a UE
declare os ativistas críticos de Israel como desqualificados para
receber fundos das seções do bloco dedicadas à promoção dos direitos
humanos e da democracia.

É "curioso" que o apoio financeiro da UE chegue a organizações
não-governamentais "cujo trabalho mostra Israel como uma sociedade
racista e um regime de apartheid", afirmou.

"Em outras palavras, o dinheiro da Comissão da UE está ajudando certas
organizações não-governamentais a difundir uma mensagem que, segundo
outra agência da UE, é anti-semita e, portanto, contrária aos valores
do bloco", escreveu ele.

Ottolenghi também conclamou a UE a adotar uma política linha-dura
contra as ambições nucleares do Irã. Seu livro Under a Mushroom Cloud
(Sob uma nuvem em forma de cogumelo), publicado no ano passado,
defendeu a teoria de que, para os líderes árabes, não importa como
Israel desenvolveu suas próprias armas nucleares décadas antes de o
Irã começar a trabalhar em seu programa nuclear.

"Os líderes árabes dormem profundamente sob a proteção do guarda-chuva
nuclear de Israel; é a busca nuclear do Irã que lhes causa pesadelos",
escreveu Ottolenghi.

"Eles sabem - sempre souberam - que a capacidade militar de Israel é
importante para sua sobrevivência e não busca impor um decreto
político aos vizinhos. Não se pode dizer o mesmo do Irã, com suas
ambições hegemônicas e seu desejo de reformar a região", acrescentou.

Armas atômicas

No entanto, depois da publicação do livro, os governos árabes
patrocinaram uma resolução sobre Israel aprovada pela Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA).

A resolução observa que Israel é o único Estado da região que não
assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, de 1968, concebido para
reduzir a disseminação das armas atômicas. Foi a primeira advertência
desse tipo da AIEA (que funciona na órbita da ONU) a Israel em 18
anos.

Além do ACJ, várias outras organizações pró-israelenses abriram
escritórios em Bruxelas na última década. Entre elas, estão o
Congresso Judeu Europeu e a B"nai B"rith.

Outra entidade, Amigos Europeus de Israel (EFI, na sigla em inglês),
surgiu como uma aliança multipartidária de membros do Parlamento
Europeu.

Durante a ofensiva de Israel contra Gaza entre 27 de dezembro de 2008
e 18 de janeiro de 2009, a EFI divulgou informes que defendiam a
matança de civis palestinos.

Segundo esta organização, era impossível para Israel evitar as mortes
de civis porque o Hamas (acrônimo árabe do Movimento de Resistência
Islâmica) havia ordenado que seus membros "tirassem o uniforme e
vestissem roupas comuns que os tornassem indistinguíveis da população
civil".

O europarlamentar alemão Michael Gahler, um democrata-cristão que se
diz pró-israelense, afirmou que esses grupos de pressão "sempre foram
muito influentes na Europa".

Gahler argumentou, no entanto, que essas organizações não deveriam
ignorar a oposição generalizada na Europa às ações israelenses nos
territórios palestinos ocupados.

"Eles deveriam estar aqui e escutar. Não deveriam ser apenas um
alto-falante", disse o parlamentar à IPS.

Luisa Morgantini, ex-vice-presidente do Parlamento Europeu e veterana
ativista pela solidariedade com os palestinos, disse que é preciso
opor-se a toda forma de racismo e anti-semitismo.

Mas Morgantini também sugeriu que as organizações pró-Israel estão
explorando a história do sofrimento judeu na Europa para dissuadir
seus políticos atuais de adotar uma ação forte contra a opressão
israelense na Palestina.

"Elas estão usando o Holocausto como um meio de chantagem. É hora de
determos esta chantagem", afirmou.

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