Palestinos derrubam coluna de concreto do muro que Israel constrói na Cisjordânia
Renata Malkes
JERUSALÉM - Aproveitando as celebrações dos 20 anos da queda do muro de Berlim , ativistas palestinos destruíram ontem uma parte do muro de segurança erguido por Israel para separar seu território da Cisjordânia. Num dos mais ousados protestos contra a barreira, pelo menos 100 jovens encapuzados usaram um caminhão para derrubar a pesada estrutura de concreto, de oito metros de altura, no campo de refugiados de Qalandia, junto ao principal posto de controle que dá acesso à cidade de Ramallah. Entoando gritos de ordem, os manifestantes passaram para o lado israelense da fronteira empunhando bandeiras palestinas e incendiaram pneus. Eles foram contidos pelo Exército israelense com bombas de efeito moral e reagiram, atirando pedras contra as tropas. Pelo menos dois palestinos foram detidos.
Os manifestantes usavam camisetas com o slogan "Jerusalém, estamos chegando". A ação foi um dos pontos altos da campanha "Unidos Contra o Apartheid", lançada na última sexta-feira pela ONG palestina "Stop the Wall" para defender a derrubada da muralha israelense. Nos próximos dias serão realizados protestos em diversas cidades do mundo para denunciar a barreira e recrutar apoio e sanções internacionais e boicotes a Israel até que o governo de Jerusalém concorde em demolir o muro, já considerado ilegal pelo Tribunal Internacional de Haia desde 2004. No Brasil, está previsto para amanhã um ato público na Praça da República, em São Paulo.
- Pelo menos 20 países vão participar da mobilização. É um ato contra esse muro de tortura, humilhação e apartheid. Divisões vergonhosas como a da Alemanha ficaram para trás no século 20. Não queremos entrar no século 21 diante de um muro construído não sobre fronteiras, mas sobre discriminação e limpeza étnica - disse ao Globo o coordenador da ONG, Abdullah Abu Rahma.
Na última sexta-feira, ativistas já haviam conseguido derrubar uma parte do muro no vilarejo de Ni'ilin, palco de manifestações semanais e violentos enfrentamentos entre o Exército e ativistas palestinos. Segundo a ONU, o muro já tem hoje 413 dos 709 km previstos de extensão. Estimativas apontam que pelo menos 85% da obra estão situados em terras palestinas, anexando 9,5% da Cisjordânia, cortando vilarejos pela metade e deixando isolados pelo menos 35 mil civis palestinos entre a barreira e a Linha Verde, a fronteira imaginária que delimitava o território israelense até 1967.
Os protestos ganham força no auge de uma nova crise política nos territórios palestinos. Depois do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, ter anunciado que não vai concorrer à reeleição no pleito previsto para o próximo dia 24 de janeiro, crescem na sede do governo especulações de que Abbas pretende ainda renunciar ao cargo antes mesmo das eleições. Preocupados com a falta de liderança política capaz de substituí-lo, a Liga Árabe pediu que o presidente permaneça no cargo.
- O cenário palestino já tem problemas suficientes - afirmou num comunicado o secretário-geral da organização, Amr Mussa.
De acordo com pesquisa publicada pela agência palestina Maan, pelo menos 62% dos palestinos são contrários à decisão de Abbas e apenas 38% dos entrevistados são a favor de seu afastamento da política. Os números, coletados pela consultoria "Near West", de Ramallah, mostram ainda que 76% dos palestinos ainda acreditam que o presidente vai voltar atrás e concorrer à reeleição. Os estatísticos ouviram 780 pessoas em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental e a margem de erro da pesquisa é de 3,5%.
em 10/11/2009