Dov Hikind, membro do Legislativo estadual de Nova York, visitou a cidade disputada de Jerusalém na quarta-feira, em busca de um imóvel para comprar. Ele afirmou que estava mais entusiasmado quanto a um novo complexo de apartamentos com vista para a Cidade Velha, chamado Nof Zion.

Mais que uma transação imobiliária, porém, isso seria uma declaração de propósitos: Nof Zion, um projeto privado judaico, fica em Jebel Mukader, um bairro árabe do leste de Jerusalém, em território que os israelenses capturaram à Jordânia na guerra de 1967. Israel reivindica soberania sobre toda Jerusalém; os palestinos exigem a parte leste da cidade como capital de seu futuro Estado.
Mesmo dentro de Israel, a ideia de judeus se instalarem nos bairros predominantemente árabes de Jerusalém ainda causa debate feroz. Duas famílias israelenses conhecidas recusaram a oferta da prefeitura de batizar as ruas que conduzem ao complexo Nof Zion com os nomes de seus parentes falecidos, de acordo com a imprensa local da cidade.
Mas, como ilustração da complexidade dos dilemas que Jerusalém apresenta, outros argumentam que judeus, muçulmanos e cristãos deveriam poder viver onde quer que prefiram, na cidade. Não permitir que judeus vivam em certos bairros da cidade constitui "segregação", disse Hikind, membro do Partido Democrata e representante de um distrito eleitoral formado por bairros habitados por judeus ortodoxos, em Brooklyn.
Com novas tensões surgindo entre o governo Obama e Israel devido a projetos de construção em áreas contestadas de Jerusalém, o caráter e futuro da cidade continuam a ser temas centrais nas negociações de paz entre Israel e os palestinos, que estão há muito paralisadas.
A cerimônia da pedra fundamental no novo estágio do complexo de Nof Zion aconteceu um dia depois que as autoridades israelenses decidiram levar adiante os planos para a expansão de Gilo, um distrito residencial judaico no sul de Jerusalém, também localizado em território capturado na guerra de 1967. Os planos para construir 900 unidades habitacionais novas foram fortemente criticados pela Casa Branca.
O presidente Barack Obama, em entrevista à rede de TV Fox News, em Pequim, disse que "a construção de assentamentos adicionais não contribui para a segurança de Israel" e pode dificultar os esforços de paz. "Creio que isso gere amargura entre os palestinos, de uma maneira que pode se provar muito perigosa no futuro", ele afirmou.
De 1948 a 1967, Jerusalém esteve dividida entre a Jordânia e Israel. A cidade está unida, ao menos nominalmente, há 42 anos. No período, as porções de Jerusalém que os árabes reivindicam se tornaram em uma colcha de retalhos de bairros árabes e assentamentos judaicos, e abrigam cerca de 250 mil árabes e 190 mil judeus.
Enquanto as duas populações continuarem a viver em áreas separadas, os defensores da ideia de dois Estados, judaico e palestino, coexistindo lado a lado, dizem que pode ser encontrada uma fórmula de acordo para Jerusalém, sob a qual as áreas judaicas seriam administradas por Israel e as áreas árabes ficariam sob o controle das autoridades palestinas na Cisjordânia.
Mas os críticos argumentam que a mistura das duas populações porá fim às perspectivas de uma solução que envolva a coexistência de dois Estados. Como primeiro passo para retomada do processo de paz, o governo Obama e a liderança palestina vêm tentando convencer Israel a deter todas as atividades de colonização, de maneira a criar um ambiente mais conducente a negociações. O governo israelense ofereceu desacelerar as construções, mas sem detê-las completamente, e se recusa a incluir Jerusalém em qualquer congelamento de projetos.
No começo da semana, o grupo liderado por ele visitou os assentamentos judaicos em Samaria, no norte da Cisjordânia, com o objetivo de comprar casas ou trailers que seriam alugados para as famílias de colonos. Na manhã de quarta-feira, antes da cerimônia de colocação da pedra fundamental, o grupo, que visitou os assentamentos como demonstração de solidariedade, foi a Siwan e outros bairros árabes de Jerusalém nos quais israelenses nacionalistas se instalaram.
Nof Zion foi construído em terreno de propriedade particular adquirido por um empresário do setor imobiliário israelense ao longo dos anos. No primeiro estágio do projeto, foram construídos 91 apartamentos, 70 dos quais já estão ocupados. Há jardins de infância, um pequeno parque para as crianças e planos para uma grande sinagoga.
Do outro lado da cidade, em Issawiya, um bairro árabe do leste de Jerusalém, na quarta-feira as autoridades israelenses demoliram uma casa palestina construída sem alvará. As forças de segurança que acompanhavam as escavadeiras foram atacadas com pedras. Diversas outras estruturas não autorizadas foram demolidas em outras áreas árabes, entre as quais Siwan.
No que tange a demolições, a prefeitura de Jerusalém diz que aplica a lei igualmente a todas as partes da cidade, independentemente de religião ou raça. Mas funcionários municipais reconhecem que o processo de obtenção de alvarás é extremamente complicado e dispendioso. A maioria dos moradores palestinos não se qualifica para obtê-los.
Muitos deles sentem que os israelenses estão forçando sua saída. "Em Gilo eles estão construindo; aqui, demolindo", disse Abdul Halim Dari, 44, proprietário da casa destruída em Issawiya.
Tradução: Paulo Migliacci ME