ARTIGO DE DIOGO MAINARDI NA VEJA - NOTA DA ISTOÉ
RELATÓRIO SOBRE FAROUK HOSNY
O Ministro da Cultura do Egito Farouk Hosny, no cargo há 22 anos, está sendo indicado pelo Brasil para futuro Diretor Geral da UNESCO, em detrimento do brasileiro Márcio Barbosa, atual diretor-adjunto da UNESCO.
Relacionamos abaixo algumas das declarações racista de uma figura que deseja dirigir um órgão dedicado a educação, ciência e a cultura mundial.
Citações sobre Israel e os Judeus
Quando acusado por um membro da irmandade muçulmana no Parlamento Egípcio de permitir a entrada de três livros de literatura israelenses na Biblioteca de Alexandria, o Ministro Hosni respondeu:
“Vamos queimar estes livros, se eles forem encontrados, e eu os queimarei na frente de vocês”.
E o ministro acrescentou:
“Tenho estado contra a normalização (cultural) por 30 anos”.
“Falta uma cultura autêntica para Israel e para os judeus, mas eles roubam a herança dos outros”.
“As reivindicações dos israelenses de que eles construíram as pirâmides não param, sendo assim, devemos nos opor à eles e responder firmemente, sem recuar, até um final amargo...mesmo que leve à uma crise, porque estes piratas estão executando um roubo...os israelenses querem tudo”.
“Me oponho a subestimação (da ação israelense) e sou a favor de uma resposta decisiva e uma posição firme...já que os israelenses tomaram a Palestina desta maneira...de tempos em tempos eles dizem que isto é nosso por milhares de anos...Agora eles estão dizendo isto em relação à Grande Pirâmide...Este é um plano contínuo – povos vêm, roubam sua história e civilização – e isto é prova de que Israel não tem uma história ou civilização, pois alguém que tem sua própria história não precisa roubar a história de outro...”
“As palavras dos judeus derivam da ignorância, eles não persuadem ninguém que entende, e não podem alcançar pessoas que pesquisam. Mas suas ramificações ao nível das massas são perigosas ...Sendo assim, há uma obrigação de encará-los...as reivindicaçoes dos judeus são muito estranhas – eles dizem: Nós construímos as pirâmides e estruturas arqueológicas...”
“(Os israelenses) têm muitos objetivos políticos. Antes de tudo, roubam nossa história e civilização. Em segundo lugar, lhes falta uma civilização, em outras palavras não tem um país – eles não merecem ter um país – portanto, criam um país à força. Em terceiro lugar, (este) tipo de jogo e a imposição de pressão é porque rechaçamos firmemente a normalização cultural”.
(Entrevista em Ruz Al-Yusuf, Egito, 5 de maio de 1997, com o título de “Israel roubou as pirâmides como roubou a Palestina”).
(Em resposta à uma pergunta sobre a “invasão cultural sionista”)
“Eles não querem nos invadir culturalmente, mas querem roubar nossa cultura e nossa herança”.
(Entrevista à As-Safir, Líbano, 7 de dezembro de 2000)
“Israel não deixa nenhuma herança duradoura para a civilização, em nenhuma era”.
(Alguns de seus comentários durante a abertura de um encontro em 24 de abril de 2001, na Liga Árabe, de especialistas árabes responsáveis pela proteção de antiguidades do mundo árabe, com o objetivo de analisar as maneiras de lutar contra as intenções de Israel em persuadir as organizações internacionais de registrar as antiguidades de Jerusalém sob o nome de Israel. Agência de Notícias Qatari, 25 de abril de 2001).
“Israel é conhecido no campo internacional como um país que rouba qualquer coisa e a si mesmo se atribui isto (...); Israel leva vantagem com a infiltração dos judeus nos diversos meios de comunicação internacionais, com o intuito de disseminar suas reclamações”.
“A cultura israelense é uma cultura desumana. É uma cultura agressiva, racista e arrogante, e é baseada em roubar os direitos de outro povo, e se recusar a reconhecer estes direitos”.
“Eles roubam tudo: herança musical, cinema, e até vestimentas, e eles devem ser tratados no mesmo nível de abominação”.
(Entrevista à Al-Wasat, Londres, 13 de junho de 2001)
"Eu queimaria pessoalmente qualuqer livro israelense que se encontrasse nas bibliotecas do Egito."
(Declaração em convenção política de 10 de maio de 2008)
ARTIGO DE DIOGO MAINARDI NA VEJA
O Goebbels egípcio
“Eu queimaria pessoalmente qualquer livro israelense que se encontrasse nas bibliotecas do Egito”.
A frase é de Farouk Hosni, o ministro da Cultura egípcio. Ele a pronunciou num congresso de seu partido, em 10 de maio de 2008. O diretor do Centro Simon Wiesenthal acusou-o de se inspirar em outro ministro da Cultura incendiário: Josef Goebbels. Acusou-o também de ter disponibilizado a TV estatal do Egito a um notório negador do Holocausto, Roger Garaudy, o antigo filósofo comunista que se converteu ao islamismo – o Cat Stevens de Auschwitz.
Farouk Hosni é candidato ao cargo de presidente da UNESCO. Isso mesmo, da UNESCO: o organismo internacional que se ocupa prioritariamente de livros e bibliotecas. Quem o apóia? O Brasil. O Itamaraty. Lula. Celso Amorim. Apoiamos um antissemita. Apoiamos um queimador de livros. É o nosso “Fahrenheit 451” diplomático.
Mas o antissemitismo é só um dos aspectos escandalosos da candidatura de Farouk Hosni. Há outro. Uma das metas da UNESCO, segundo seus estatutos, é promover os princípios democráticos. Há até um departamento de Democracia na UNESCO, que zela pela liberdade de opinião e pela liberdade de imprensa. Farouk Hosni é ministro da Cultura do regime militar de Hosni Mubarak. O mesmo Mubarak que persegue seus opositores. O mesmo Mubarak que pretende transferir o poder para seu filho, Gamal. O mesmo Mubarak que tem a prerrogativa, entre muitas outras, de nomear os diretores dos principais jornais do país, todos pertencentes ao Estado. E tem mais: Farouk Hosni é o ministro da Cultura do Egito desde 1987. Isso significa que nosso candidato para a UNESCO, aquele que terá de tutelar os valores da democracia, da liberdade de opinião, da liberdade de imprensa, está enraizado no poder, em sua suserania ministerial, há exatamente 22 anos, protegido por um ditador.
Para apoiar Farouk Hosni, o Itamaraty abandonou a candidatura de um diplomata brasileiro, Márcio Barbosa. Especulou-se que isso poderia ser usado numa barganha com os países árabes para eleger Celso Amorim à chefia de outro organismo da ONU, a Agência Internacional de Energia Atômica. Celso Amorim negou esse propósito, declarando que o Brasil apoiaria a candidatura do sul-africano Abdul Minty para a AIEA. Faz sentido. Abdul Minty, assim como Celso Amorim e Lula, defende o programa nuclear iraniano, opondo-se a qualquer medida retaliatória contra o regime de Mahmoud Ahmadinejad, o negador do Holocausto, o Roger Garaudy radioativo, o Cat Stevens de Natanz. Ahmadinejad esnobou o convite de Lula para visitar o Brasil. Quem sabe Roger Garaudy aceite.
ISTOÉ, Edição 2062 - 20 MAI/2009
A polêmica visita do presidente do Irã e o apoio a egípcio para chefiar a Unesco mostra a divisão da diplomacia brasileira
Claudio Dantas Sequeira
A gestão do ministro Celso Amorim à frente do Itamaraty ganhou o respeito da comunidade internacional. Combinando habilidade de negociação com certa ousadia diplomática, o chanceler conseguiu projetar a imagem do Brasil como interlocutor em importantes fóruns, como é o caso das Nações Unidas e do G-20. Até então, apenas tinham vez os pesospesados do tabuleiro geopolítico mundial. No entanto, apesar desses avanços, os setores mais à esquerda da diplomacia brasileira têm levado Amorim a um terreno minado. É o que revela a recente decisão de apoiar um obscuro candidato do Egito para chefiar a Unesco - abrindo mão da candidatura brasileira - e o polêmico episódio em torno da visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Classificada pelo embaixador Roberto Abdenur de "extemporânea e equivocada", a iniciativa de estender o tapete vermelho a Ahmadinejad abriu um racha na comunidade diplomática e no próprio Ministério das Relações Exteriores. De um lado, a corrente xiita, que transita sem embaraço na cúpula da diplomacia brasileira, acena para a Coreia do Norte e se cala ante as violações de direitos humanos no Sudão.
De outro lado, diplomatas afeitos à tradicional escola do Barão do Rio Branco lembram que o Brasil participou da fundação do Estado de Israel e acham que interesses comerciais não podem se sobrepor a princípios históricos. A visita de Ahmadinejad obedecia à orientação do assessor internacional da presidência, Marco Aurélio Garcia, e do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães. Ambos pressionavam pelo encontro havia pelo menos dois anos. Mas o momento não poderia ser pior. O próprio subsecretário de assuntos políticos Roberto Jaguaribe achou a visita precipitada. Muitos diplomatas da ala mais tradicional bombardearam a ideia. As críticas assumiram tom formal com a convocação do embaixador brasileiro em Tel-Aviv, Pedro Motta, à chancelaria israelense e protestos ganharam as ruas com manifestações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Diante da resistência. O menu já estava contratado, as reservas feitas, os carros alugados e a segurança a postos. A justificativa oficial, de preocupação com as eleições no Irã, não convenceu. O governo Lula ficou irritado, mas diplomatas experientes avaliaram que o cancelamento da visita caiu do céu. "Não tínhamos nada a ganhar com essa visita. Antes de convidar Ahmadinejad, temos que pressioná-lo para que o Irã se mova no sentido de uma inserção internacional mais cordata e transparente", diz Abdenur, surpreso com o fato de o convite ter sido "um ato voluntário do ministro Amorim". O chanceler, porém, defendeu a visita. "Temos interesse em cooperação com o Irã porque não dialogamos apenas com países com os quais estamos de acordo.
"Há rumores de que Amorim precipitou a visita de Ahmadinejad num esforço diplomático para fortalecer sua candidatura à Secretaria Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), mas o ministro nega. Com o mesmo objetivo, o chanceler teria decidido apoiar o egípcio Farouk Hosni, conhecido por suas posições antissemitas, para a direção geral da Unesco. Amorim preteriu o brasileiro Marcio Barbosa, diretoradjunto do organismo e favorito para o cargo, e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). "O Brasil precisa de uma estratégia para se aproximar e fortalecer relações com o mundo árabe", disse Amorim, em reunião no seu gabinete. "O Brasil nunca dirigiu uma organização da ONU e agora abdica dessa oportunidade. Estou frustrado com a decisão do Itamaraty", reagiu Barbosa. Para o ex-chanceler Celso Lafer, "é um desrespeito ao histórico de serviços prestados por brasileiros em organismos internacionais, como Sérgio Vieira de Mello e Rubens Ricupero." Lafer também adverte que "se a visita de Ahmadinejad tivesse se materializado geraria uma importação de ódios do Oriente Médio." Ele explica que um dos princípios que regem a política internacional brasileira é o da prevalência dos direitos humanos. A posição do presidente do Irã, na conferência antirracismo em Genebra - quando pregou o fim de Israel e negou o Holocausto -, representou um descumprimento dessa linha. Lafer ressalta que a visita poderia ser interpretada como apoio de Lula à reeleição de Ahmadinejad, um contrassenso, considerando que o Irã está submetido a sanções do Conselho de Segurança da ONU. Nos meios diplomáticos, comenta-se que a possibilidade de uma visita de Lula a Israel deixou de ser vista com bons olhos pelas autoridades de Tel-Aviv. Esse é um dos preços do racha ideológico no Itamaraty. Espera-se que o Brasil retome sua tradição de equilíbrio. Foi assim que o País se fez respeitar nos foros internacionais.