
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, ressaltou nesta segunda-feira que não reconhecerá Israel como Estado judaico, condição imposta pelo novo primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, para avançar nas negociações de paz.
"O que significa um Estado judaico? Chamem como quiser, mas eu não o aceito e digo isso publicamente", afirmou o presidente da ANP em discurso a jovens parlamentares na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, território palestino que governa.
Esta é a primeira declaração pública de Abbas contra a aceitação de Israel como Estado judaico depois que, segundo a imprensa israelense, Netanyahu estabeleceu que o reconhecimento do país é fundamental para avançar nas negociações de paz na região. O primeiro-ministro, contudo, afirmou que esta não é uma exigência prévia.
Abbas insistiu em que não é sua função, mas das autoridades israelenses, definir as características do país.
"Tudo o que sei é que há um Estado de Israel nas fronteiras [prévias à Guerra dos Seis Dias] de 1967, nem um centímetro mais, nem um centímetro a menos. Qualquer outra coisa, não aceito", acrescentou.
A Organização para a Libertação da Palestina (OLP), responsável pelas negociações com Israel, reconheceu o Estado vizinho sobre 78% da Palestina histórica em 1988. Entretanto, a OLP se nega a aceitá-lo como Estado judaico, entre outros motivos, por receio de que acabe com o direito de retorno dos milhões de refugiados palestinos --aprovado pela ONU (Organização das Nações Unidas), mas ainda sob negociações com os israelenses.
Apoio
Uma pesquisa divulgada na semana passada aponta que mais de 70% dos israelenses e dos palestinos apoiam uma solução de "dois Estados para os dois povos" nas negociações de paz para a região.
A proposta de dois Estados foi acordada na rodada de negociações de Annapolis, mediada pelos Estados Unidos em 2007. Desde então, contudo, os governos israelense e palestino falharam em avançar com a proposta e com um acordo de paz efetivo.
O novo chanceler ultraconservador de Israel, Avigdor Lieberman, disse recentemente que seu governo não se sente obrigado a seguir o processo de paz de Annapolis, assim como uma solução de dois Estados para o conflito palestino-israelense. Netanyahu se manteve distante do tema e apenas deu indicações de que apoia a declaração de Lieberman.
A pesquisa aponta que 74% dos palestinos e 78% dos israelenses apoiam o Estado palestino. Além disso, 59% dos palestinos e 66% dos israelenses rejeitam a opção de um Estado binacional. A sondagem aponta ainda que 55% dos israelenses e 61% dos palestinos se opõem à divisão de Jerusalém, cidade que os dois povos reivindicam como capital.
Já 53% dos palestinos estão interessados em um reconhecimento de Israel do sofrimento de seus refugiados.
Mais metade dos palestinos consultados disse ainda que os refugiados devem retornar à Cisjordânia e à faixa de Gaza, enquanto alguns poucos voltariam a Israel. Esta possibilidade é rejeitada por 60% dos israelenses.
Disputas palestinas
Em seu discurso, o presidente da ANP também se referiu ao início, também nesta segunda-feira, no Egito, da quarta rodada do diálogo de reconciliação entre o movimento que lidera, o secular Fatah, e o radical islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza.
"Peço ao diálogo no Cairo que feche um acordo para a formação de um governo que reconstrua a faixa de Gaza para depois ir às urnas. Não podemos reconstruir Gaza sem esse governo", declarou Abbas.
Na rodada anterior de diálogo, Fatah e Hamas decidiram formar um governo de união nacional que convoque eleições para antes de 25 de janeiro de 2010.
Abbas prometeu que esse eventual pleito será "honesto" e que, se o Hamas vencer --como ocorreu em janeiro de 2006--, permitirá seu acesso ao poder sem impedimentos.
Fontes da ANP revelaram nesta segunda-feira, sob condição de anonimato, a existência de contatos para formar um "governo amplo" com todas as facções palestinas caso o diálogo no Cairo fracasse.