
O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, abriu ontem a conferência das Nações Unidas contra o racismo com uma mensagem de ódio contra Israel, questionando o Holocausto e atacando a "arrogância" do Ocidente.
Cerca de 30 delegados, a maioria de países europeus, deixaram a sala em protesto e o discurso foi interrompido por manifestantes, que se vestiram de palhaço e chegaram a atirar um nariz vermelho de plástico no presidente iraniano. Em meio ao tumulto, seguranças corriam pela sala do evento tentando prender os manifestantes, enquanto Ahmadinejad sorria.
O inflamado discurso provocou duras críticas. Os presidentes americano, Barack Obama, e francês, Nicolas Sarkozy, condenaram Ahmadinejad e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou a falar em adotar "medidas disciplinares?.
A conferência já estava envolta em polêmica por causa da decisão dos EUA e de outros sete países, entre eles Alemanha, Canadá, Itália e Holanda, de boicotar o evento, alegando exatamente o temor de que ele se transformasse em um palanque contra Israel.
A diplomacia brasileira havia pedido "moderação" no discurso de Ahmadinejad. Ban, que se havia reunido pela manhã com o líder iraniano, também tinha pedido a ele que não atacasse outros países e "olhasse para o futuro". Mas o pior dos cenários se confirmou. Ahmadinejad, que tinha 7 minutos para falar, discursou por 32 minutos.
O iraniano comparou o sionismo ao racismo e acusou o Ocidente de ter estabelecido um "governo racista" no Oriente Médio. Ele também acusou Israel de ser o "regime mais cruel e repressivo".
"O sionismo personifica o racismo que usa falsamente a religião para esconder ódio", disse Ahmadinejad. "O regime sionista nos ameaça com guerra."
O líder iraniano, que já havia pedido a destruição de Israel em outras ocasiões, chegou perto de repetir isso na ONU. Ele também jogou com as palavras para questionar o Holocausto no dia do 120º aniversário de Adolf Hitler. Ahmadinejad, que já havia classificado o Holocausto como "um mito", disse que Israel foi criado "sob o pretexto do sofrimento dos judeus e da ambígua e duvidosa questão do Holocausto". "Eles enviaram imigrantes da Europa, dos EUA e de outras partes do mundo para estabelecer um governo totalmente racista na Palestina ocupada", declarou.
"O boicote é uma prova clara de que apoiam o racismo", disse Ahmadinejad, referindo-se aos países que não compareceram à reunião. "Esta é a liberdade de expressão e os defensores desta liberdade têm agora medo de participar. Isso é arrogância."
Em Jerusalém, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, advertiu que não permitirá que os que negam o Holocausto tenham a chance de cometer um novo massacre contra o povo judeu. Netanyahu discursou durante cerimônia anual que lembra os mortos pelo Holocausto durante a 2ª Guerra.
O governo israelense também decidiu convocar o embaixador da Suíça para manifestar seu descontentamento pelo encontro, no domingo, entre Ahmadinejad e o presidente suíço, Hans-Rudolf Merz. "Tem de haver um limite à neutralidade suíça", afirmou o presidente israelense, Shimon Peres.
CONTRADIÇÕES
O discurso de Ahmadinejad foi repleto de contradições. Apesar de atacar o Ocidente, se disse disposto a manter um diálogo com Obama. "Sempre estou disposto a ter relações com base no respeito mútuo e justiça. Foram os americanos quer cortaram relações conosco", disse. "Saudamos as mudanças básicas nos Estados Unidos."
Obama, por meio de seu porta-voz, afirmou que "discordava veementemente" do presidente iraniano. O porta-voz do Departamento de Estado, Robert Wood, disse que "esse tipo de retórica é inútil, contraproducente e só serve para alimentar o ódio racial". Mas ele reiterou que os EUA querem manter um diálogo direto com o Irã.
O secretário-geral da ONU denunciou energicamente a atitude de Ahmadinejad, dizendo que ele usou seu discurso para "acusar, dividir e até mesmo provocar". "Isso não pode mais ocorrer no futuro. O que aconteceu é deplorável", disse Ban. "Peço ao Irã que respeite os demais países."
"Ele deveria ser preso por incitar o genocídio", declarou o prêmio Nobel da Paz de 1986, Elie Wiesel.
Dividida e esvaziada, a cúpula termina na sexta-feira, com poucas chances de aprovar um documento final. Delegados de 103 países, dos 192 que compõem a ONU, e militantes de ONGs reuniram-se com o propósito de criar um plano internacional para melhorar a luta contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e as diversas formas de intolerância.
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Magal
A única coisa maior do que aquilo que nos divide, é o sonho que compartilhamos.