Israel, cuja ideia fundadora foi considerada racista pela Assembleia Geral da ONU em 1975 e que enfrenta um boicote árabe há décadas, está acostumado ao isolamento. Mas nas semanas que se seguiram à sua guerra em Gaza, e no momento que se prepara para empossar um governo linha-dura de direita, Israel está enfrentando sua pior crise diplomática em duas décadas.
São muitos os exemplos. Suas equipes esportivas foram recebidas com hostilidade e protestos violentos na Suécia, Espanha e Turquia. A Mauritânia fechou a embaixada de Israel.
As relações com a Turquia, uma importante aliada muçulmana, sofreram gravemente. Um grupo de importantes juízes internacionais e investigadores de direitos humanos pediu recentemente pela investigação das ações de Israel em Gaza. A "Semana do Apartheid de Israel" atraiu participantes em 54 cidades de todo o mundo neste mês, duas vezes mais do que no ano passado, segundo seus organizadores. E mesmo na comunidade judaica americana, apesar de sua inclinação liberal, há um abatimento.
A questão não passou despercebida aqui, mas ela gerou duas reações distintas e um tanto contraditórias. De um lado, há uma preocupação real. Pesquisas de opinião globais estão sendo atentamente examinadas e o Ministério das Relações Exteriores recebeu uma verba adicional de US$ 2 milhões para melhorar a imagem de Israel por meio de diplomacia cultural e de informação.
"Nós enviaremos romancistas e escritores renomados para o exterior, companhias de teatro, exposições", disse Arye Mekel, o vice-diretor geral do ministério para assuntos culturais. "É uma forma de mostrar a face mais bonita de Israel, para não sermos vistos apenas no contexto da guerra."
Mas também há uma crescente sensação de que os forasteiros não entendem a situação difícil de Israel, de forma que a crítica é rejeitada.
"As pessoas aqui sentem que independente do que você faça, você será culpado por todos os problemas no Oriente Médio", disse Eytan Gilboa, um professor de política e comunicação internacional da Universidade Bar Ilan. "Até mesmo os atentados suicidas realizados pelos palestinos são vistos como sendo nossa culpa, pela não criação de um Estado palestino."
É claro, para os críticos de Israel, incluindo aqueles que apoiam firmemente a existência de um Estado judeu, o problema não é de imagem, mas de política. Eles apontam para quatro décadas de ocupação, o assentamento de meio milhão de judeus israelenses em terras capturadas em 1967, o estrangulamento econômico de Gaza nos últimos anos e a crescente indiferença da sociedade em relação à criação de um Estado palestino como motivos para a perda de apoio de Israel no exterior, e dizem que nenhum esforço para melhorar a imagem vai mudar isso.
O enorme uso de força por Israel na guerra em Gaza, em janeiro, cristalizou grande parte destas críticas.
A questão de um Estado palestino é central para a reputação de Israel no exterior, porque muitos governos e organizações internacionais defendem sua criação na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental. E apesar do governo de saída do primeiro-ministro Ehud Olmert ter negociado esse Estado, o futuro governo de Benjamin Netanyahu diz que o assunto não faz parte de sua agenda imediata.
Javier Solana, o alto comissário de política externa da União Europeia, disse em Bruxelas, na segunda-feira, que o grupo reconsiderará seu relacionamento com Israel caso o país não permaneça comprometido com o estabelecimento de um Estado palestino.
Além disso, Netanyahu deverá nomear Avigdor Lieberman, líder do partido ultranacionalista Yisrael Beiteinu como ministro das Relações Exteriores. Isto por si só causa preocupação entre os israelenses e seus aliados na Europa e nos Estados Unidos, por causa das posições de Lieberman a respeito dos árabes israelenses serem consideradas racistas por muitos.
Lieberman fez campanha pela necessidade de um juramento de lealdade a Israel, para que aqueles que não apoiem um Estado judeu democrático percam sua cidadania. Um quinto dos cidadãos israelenses é árabe, e muitos não apoiam a definição do Estado como judeu. Ele também conta com poucos fãs no Egito, que tem atuado como intermediário para Israel em vários assuntos. Há alguns meses Lieberman se queixou do fato do presidente do Egito, Hosni Mubarak, não ter aceito vir a Israel. "Se ele não quiser vir, ele pode ir para o inferno", ele acrescentou.
"Imagine se Hossein Mousavi vencer a presidência iraniana e indicar Mohammad Khatami como ministro das Relações Exteriores", disse Meir Javedanfar, um analista de Irã em Israel, se referindo aos dois líderes iranianos vistos como parte do campo pragmático. "Tendo Lieberman como ministro das Relações Exteriores aqui, Israel terá dificuldade em demonstrar ao mundo que o Irã é o fator desestabilizador na região."
É claro, tudo isto está sendo visto no contexto de um novo governo democrata nos Estados Unidos, que anunciou um desejo de pressionar pela solução de dois Estados. A secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton, já criticou os planos israelenses de demolir os lares palestinos em Jerusalém Oriental, e seu departamento criticou a proibição por Israel de certos produtos de Gaza.
Isso representa uma clara mudança de tom em relação ao governo Bush. Um relatório interno do Ministério das Relações Exteriores israelense, feito durante a guerra em Gaza, notou que em comparação aos outros nos Estados Unidos, "liberais e democratas demonstram menos entusiasmo por Israel e sua liderança".
A diferença entre os israelenses e muitos judeus americanos liberais pode ser vista na terça-feira em um blog de Bradley Burston, que escreve para o site do jornal de esquerda "Haaretz". Ele disse que enquanto visitava Los Angeles, ele enfrentou muitas questões que se resumiam a "o que há de errado com estas pessoas, seus amigos, os israelenses?"
Ele citou um artigo de Anne Roiphe, uma judia americana liberal, que disse que testemunhar a popularidade de Lieberman em Israel a fazia se sentir "como se meu marido tivesse me traído com Mussolini".
Ela acrescentou: "Nós aqui na América estamos esperando, enquanto escrevo esta coluna, pelo surgimento de um governo em Jerusalém, e a maioria de nós continua esperando que sua forma não obstrua o processo de paz, não condene a solução de dois Estados, não destrua a esperança que nosso novo presidente traz à mesa".
Burston apontou para os milhares de foguetes disparados de Gaza contra Sderot e outras cidades israelenses e intitulou seu artigo "O Fascista Racista Israelense em Mim".
Algumas autoridades israelenses dizem acreditar que o país precisa de uma nova "imagem". Elas dizem que Israel gasta tempo demais defendendo as ações contra seus inimigos. Ao fazê-lo, eles dizem, a narrativa é sempre de conflito.
"Quando mostramos Sderot, outros também veem Gaza", disse Ido Aharoni, diretor da equipe de imagem do Ministério das Relações Exteriores. "Tudo ganha um lado oposto quando visto pelo conflito. O país precisa se posicionar como uma personalidade atraente, fazer as pessoas de fora vê-lo em sua realidade. Em vez disso, nós nos concentramos em gestão de crise. E isso nunca vai nos levar para onde precisamos a longo prazo."
Gilboa, o cientista político, disse que uma mudança de imagem não basta.
"Nós precisamos fazer muito mais para educar o mundo a respeito de nossa situação", ele disse. Em relação ao orçamento extra de US$ 2 milhões para isto, ele disse: "Nós precisamos de 50 milhões. Nós precisamos de 100 milhões".
Tradução: George El Khouri Andolfato
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Magal
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Israel lida com o isolamento após divisão causada pela guerra em Gaza
quinta-feira, março 19, 2009
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