O espião libanês que trabalhava para Israel e a tenista israelense barrada em Dubai
Beirute é a terra dos espiões. Quando estava na cidade, alguns amigos meus desconfiavam de mim. Esta história de brasileiro, neto de libaneses e a maneira de falar o "r" em Bahrein não enganava. "O Guga deve ser agente israelense", chegaram a dizer. Um pouco em tom de brincadeira, um pouco não. Eu mesmo suspeitava de um ex-colega da Universidade Columbia, americano, que vivia em um bom apartamento em Ashrafyieh enquanto era free-lance de publicações americanas e libanesas.
As próprias autoridades libanesas e sírias desconfiam muito de quem chega aos aeroportos. Mas este não é o motivo usado para barrar cidadãos israelenses ou pessoas com carimbo de Israel, como ocorreu recentemente com a tenista nos Emirados Árabes. Negar a entrada de israelenses é mais uma forma de boicote, especialmente no caso da atleta Shahar Peer, cuja única arma é a raquete. Afinal, os espiões não precisam entrar pela fronteira e muito menos usar um passaporte original. Seria extremamente amador enviar um agente secreto com um passaporte israelense para um país árabe. Tampouco precisariam se disfarçar de jornalista brasileiro neto de libaneses. Os espiões no Oriente Médio, muitas vezes, são cidadãos do próprio país. Claro, Israel usa drusos e judeus originários de países árabes. Para operações de alto risco, como na fracassada tentativa de matar Khaled Meshal na Jordânia, enviam os seus melhores homens do Mossad. Mas, em grande parte das vezes, os israelenses usam libaneses, sírios e palestinos que fazem o serviço em troca de dinheiro.
Foi desta forma que Israel matou muitos líderes palestinos, como o xeque Ahmed Yassin, do Hamas. Um palestino liga e informa que determinada pessoa está saindo de um prédio ou de uma mesquita em certo momento e Israel bombardeia. Este artifício também foi usado em Gaza. Entre os palestinos, é muito fácil conseguir colaboradores. Há membros radicais do Hamas pregando da boca para a fora a destruição de Israel, mas sem perder a boquinha de ganhar uns dólares para delatar seus superiores.
Com o Hezbollah, é bem mais difícil. São raros os colaboradores do grupo xiita libanês. A disciplina na organização é bem maior do que no Hamas. Quase como uma máfia. Para completar, o Hezbollah tem bastante dinheiro. Mas, se Israel não consegue colaboradores dentro do grupo, pode conseguir espiões em outros segmentos da sociedade libanesa. O que não falta em Beirute é gente que odeia o Hezbollah. Muitos sunitas, alguns cristãos.
Em 1982, pouco depois de Israel invadir Beirute, na época da valsa com Bashir, Ali al Jarrah passou a espionar para os israelenses. Inicialmente, os sírios, depois, o Hezbollah. Eu escrevi sobre ele aqui no blog em novembro. Também fiz reportagem para o jornal. Na época, em Beirute, as pessoas desenvolveram mil teorias da conspiração, pois Jarrah é primo e morava na mesma cidade que Ziad Jarrah, um dos terroristas do 11 de Setembro.
O jornalista Robert Worth, do New York Times, foi a Maraj, no vale do Beqaa, e conversou com muitos moradores para saber a história de Jarrah (o espião, não o terrorista). Por anos, ele tirou fotos e enviou informações para os israelenses. Chegou a ir à Bélgica e a Itália, onde recebia um passaporte de Israel e voava para Tel Aviv. Entre os amigos, era um defensor árduo da causa palestina para não levantar suspeitas. Mas acabou descoberto no ano passado por autoridades libanesas. O governo israelense afirmou que não iria se pronunciar sobre o episódio.
Antes que critiquem Israel, lembro que muitos países do mundo espionam. É uma prática normal e foi ainda mais comum na Guerra Fria. Os árabes também tentam conseguir infiltrar espiões dentro de Israel. Faz parte da política da região e de todo o planeta.
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Magal
Encontre sua Alma gêmea
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