Thomas L. Friedman
Colunista do The New York Times
Peça que eu pare, caso você já tenha ouvido esta história: "Um cara
entra em um bar...". Não. A história certa é esta: "Este é o ano mais
crítico da história para a diplomacia palestino-israelense. Faltam
cinco minutos para a meia-noite. Se não fizermos rapidamente com que a
diplomacia volte aos trilhos, teremos o fim da solução baseada em dois
Estados".
Eu ouvi esse comentário quase todos os anos durante os últimos 20
anos, mas nunca acreditei nele. Bem, hoje estou acreditando.
Estamos nos aproximando perigosamente do fechamento da janela de
oportunidade para uma solução de dois Estados, já que os dois
principais fechadores de janelas - o Hamas, em Gaza, e os fanáticos
colonos judeus na Cisjordânia - têm ocupado o banco do motorista. O
Hamas está ocupado em tornar uma solução de dois Estados inconcebível,
enquanto os colonos judeus trabalham sistematicamente no sentido de
torná-la impossível.
Se o Hamas continuar obtendo e usando foguetes com raio de alcance
cada vez maior, não haverá como o governo israelense tolerar o
controle palestino independente da Cisjordânia, já que um foguete
lançado do território poderia facilmente fechar o aeroporto de Tel
Aviv e paralisar a economia de Israel.
E, caso os colonos judeus continuem com o seu "crescimento natural"
com o objetivo de devorarem a Cisjordânia, a solução se tornará também
impossível. Nenhum governo israelense esforçou-se para retirar sequer
os assentamentos "ilegais", ou não autorizados pelas autoridades
israelenses, apesar de terem prometido aos Estados Unidos que tomariam
essa medida, de forma que está ficando difícil enxergar como os
assentamentos "legais" serão algum dia removidos. É necessário que,
nas eleições israelenses de 10 de fevereiro, obtenha-se um governo
centrista de unidade nacional que seja capaz de resistir à chantagem
dos colonos judeus e dos partidos direitistas que os protegem, para
que ainda seja possível implementar uma solução com base em dois
Estados.
Isso porque, sem uma solução estável com base em dois Estados, o que
teremos será uma nação israelense escondendo-se atrás de um muro alto,
defendendo-se de um Estado palestino fracassado governado pelo Hamas
na faixa de Gaza, de um Estado fracassado governado pelo Hizbollah no
sul do Líbano e de um Estado fracassado governado pelo Fatah em
Ramallah.
Portanto, se você acredita na necessidade de um Estado palestino, ou
se gosta de Israel, é melhor começar a prestar atenção. Isto não é um
teste. Estamos em uma encruzilhada da história.
O que torna a questão tão difícil para a nova equipe de Obama é o fato
de a diplomacia do Oriente Médio ter se transformado como resultado da
desintegração regional desde Oslo - de três formas fundamentais.
Primeiro, nos velhos tempos, Henry Kissinger podia voar para três
capitais, reunir-se com três reis, presidentes ou primeiro-ministros,
e firmar um acordo que podia ser mantido. Mas isso não ocorre mais.
Atualmente um diplomata que luta pela paz precisa ser ao mesmo tempo
construtor de nações e negociador.
Os palestinos encontram-se tão fragmentados política e geograficamente
que metade da diplomacia dos Estados Unidos terá que se dedicar a
encontrar uma forma de obter a paz entre eles e a construir as suas
instituições, para que haja uma instituição coerente e legítima para a
tomada de decisões - antes que possamos promover a paz entre
israelenses e palestinos.
Segundo, o Hamas conta agora com poder de veto sobre qualquer acordo
de paz palestino. É verdade que o Hamas acaba de provocar uma guerra
irresponsável que devastou o povo da faixa de Gaza. Mas o Hamas não
sairá do cenário. Ele está bem armado e, apesar do seu recente
comportamento suicida, profundamente enraizado.
A Autoridade Palestina liderada por Mahmoud Abbas na Cisjordânia não
assumirá nenhum compromisso com Israel enquanto temer que o Hamas, que
estará de fora, denuncie-a como traidora. Portanto, a segunda tarefa
para os Estados Unidos, Israel e os Estados árabes é encontrar uma
forma de trazer o Hamas para um governo palestino de unidade nacional.
Conforme disse o especialista em Oriente Médio Stephen P. Cohen: "Para
Israel não basta que o mundo reconheça que o Hamas faltou
criminalmente com a responsabilidade para com o seu povo. O interesse
de longo prazo de Israel é garantir que tenha um parceiro palestino
para as negociações, um parceiro que conte com legitimidade suficiente
junto ao seu povo para assinar acordos e cumpri-los. Sem que o Hamas
faça parte de uma decisão palestina, qualquer acordo de paz
israelense-palestino não terá significado".
Mas, trazer o Hamas para um governo de unidade palestino, sem
enfraquecer os moderados da Cisjordânia que atualmente lideram a
Autoridade Palestina, será complicado. Precisaremos de que a Arábia
Saudita e o Egito aceitem, bajulem e pressionem o Hamas para que este
mantenha o cessar-fogo, apóie as negociações de paz e abandone os seus
foguetes - enquanto o Irã e a Síria puxam o Hamas no sentido inverso.
E isso conduz a um terceiro e novo fator - o Irã como
protagonista-chave na diplomacia palestino-israelense. A equipe de
Bill Clinton tentou atrair a Síria ao mesmo tempo em que isolava o
Irã. O presidente Bush procurou isolar tanto o Irã quanto a Síria. A
equipe de Obama, conforme Martin Indyk argumenta no livro "Innocent
Abroad: An Intimate Account of American Peace Diplomacy in the Middle
East" ("Inocente no Exterior: Um Relato Íntimo da Diplomacia de Paz
Norte-Americana no Oriente Médio"), "precisa tentar trazer a Síria
para a mesa de negociações, o que enfraqueceria o Hamas e o Hizbollah,
e, ao mesmo tempo, conversar com o Irã".
Então, apenas para recapitular: faltam cinco minutos para a
meia-noite, e antes que soem as doze badaladas, tudo o que precisamos
fazer é reconstruir o Fatah, aglutiná-lo ao Hamas, eleger um governo
israelense capaz de congelar os assentamentos judaicos na Cisjordânia,
cortejar a Síria e negociar com o Irã - ao mesmo tempo impedindo que
este último adquira capacidade nuclear - de forma que possamos
conseguir que todas as partes envolvidas passem a conversar. Quem for
capaz de alinhar todas as peças desse Cubo de Rubik diplomático
merecerá dois prêmios Nobel.
--
Magal
Encontre sua Alma gêmea
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