
Israel intensifica preparativos para invasão, mas discute trégua nos bastidores
Após um dia em que anunciou que o bombardeio de Gaza era apenas a primeira fase de uma operação militar que poderia incluir a invasão por terra, o governo israelense está considerando aceitar a proposta de fazer um cessar-fogo de 48 horas feita pelo ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, em nome de ministros da União Européia. O Quarteto do Oriente Médio (EUA, UE, ONU e Rússia) também pressionou pelo fim dos ataques.
Os bombardeios sobre Gaza começaram no sábado (27) e têm o objetivo declarado de destruir a capacidade militar do grupo extremista Hamas. Segundo levantamento de agências internacionais, o número de palestinos mortos ultrapassou 370 e há ao menos 1.700 feridos. Segundo Israel, a ofensiva é uma resposta à violação --com o lançamento de foguetes-- do Hamas a uma trégua de seis meses que acabou oficialmente no último dia 19.
A informação sobre a mudança de ânimo entre os líderes israelenses foi repassada a vários jornais internacionais por fontes próximas ao governo, que pediram para não ser identificadas. Uma das fontes chegou a dizer que uma reunião para discutir a trégua seria realizada na noite desta terça-feira, mas aparentemente qualquer decisão só será tomada na quarta-feira.
"Nossa principal opção neste momento ainda é uma invasão por terra [em Gaza], mas o objetivo dessa operação é um cessar-fogo eficiente, e, se isso puder vir sem a invasão, está bem", disse um assessor próximo do ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, segundo o jornal americano "The New York Times". "Mas é claro que o Hamas tem de concordar e deve haver um mecanismo para fazer isso funcionar", afirmou o assessor.
A atual operação militar contra Gaza começou uma semana depois do fim de um cessar fogo entre Israel e o grupo radical Hamas, que domina a faixa de Gaza desde junho de 2007. O acordo foi negociado sob intermediação egípcia, mas não foi renovado devido a acusações mútuas entre Israel e o Hamas de desrespeito aos termos da trégua.
Enquanto há sinais nos bastidores de que pode haver uma solução negociada para a atual crise, o governo israelense demonstra ostensivamente seus preparativos para continuar combatendo. Na noite desta terça-feira foi discutida a convocação de mais reservistas para apoiar uma possível invasão de Gaza.
Já o Hamas ameaçou atingir o território israelense de forma mais profunda, com foguetes, se o Estado judaico continuar sua ofensiva.
"Dissemos aos dirigentes do inimigo: se vocês continuarem seu assalto, nossos foguetes atingirão ainda mais profundamente do que as cidades que já atingimos", declarou, em entrevista coletiva em Gaza, um porta-voz mascarado do braço armado do Hamas, as Brigadas Ezzedin al-Qassam.
Pressão internacional
Em Paris, a União Européia e os outros membros do Quarteto para o Oriente Médio, que estão em uma reunião de emergência, apelam por uma trégua humanitária em Gaza.
À tarde, os ministros das Relações Exteriores do Quarteto e o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, fariam uma teleconferência para trabalhar em uma declaração comum, segundo fontes diplomáticas.
A Comissão Européia, em Bruxelas, voltou a pedir ao Hamas e a Israel que cessem os ataques e fez um apelo por "medidas urgentes" para permitir o acesso de ajuda humanitária à população civil de Gaza.
No Egito, o presidente Hosni Mubarak também pediu o fim imediato dos ataques aéreos israelenses. "Nós dissemos a Israel que suas agressões são rejeitadas e condenadas e que devem cessar imediatamente", frisou.
Na manhã desta terça-feira, o presidente dos EUA, George W. Bush, telefonou para o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e para seu primeiro-ministro Salam Fayad para conversar "sobre as condições de um cessar-fogo duradouro" na faixa de Gaza, anunciou a Casa Branca.
"Primeira fase"
Desde o início da ofensiva, Israel atacou a faixa de Gaza basicamente pelo ar e, de forma episódica, pelo mar, sempre lançando a ameaça de operações terrestres.
A ofensiva militar israelense contra o Hamas na faixa de Gaza está apenas na primeira fase e pode durar semanas, conforme advertência lançada nesta terça por Israel, que mantém tropas terrestres preparadas para entrar no território palestino.
"As operações aéreas e marítimas do Exército israelense constituem a primeira fase entre várias já aprovadas pelo gabinete de segurança", disse o premier Ehud Olmert, durante uma reunião com o presidente Shimon Peres, em Tel Aviv.
De acordo com Peres, "o que nós queremos não é um cessar-fogo, mas o fim do terrorismo".
O vice-ministro da Defesa, Matan Vilnai, afirmou que Israel está disposto a lutar durante semanas contra o Hamas. "Estamos preparados para um conflito prolongado e para semanas de combate", disse ele à rádio pública israelense.
"O Hamas ainda dispõe de centenas de foguetes, mas perde força a cada dia. Queremos fazer uma mudança radical na situação de segurança no sul de Israel", afirmou.
No terreno, as forças terrestres israelenses se preparavam para intervir na faixa de Gaza. "As forças terrestres estão prontas para agir. Todo mundo está em posição no terreno", garantiu à porta-voz do Exército, Avital Leibovitz.
"A opção existe. Pode ser aplicada, mas no momento só atacamos por ar e pelo mar", acrescentou, explicando que "restam muitos alvos que ainda não atacamos".
"Agimos de acordo com o plano inicial e constatamos sinais de enfraquecimento no Hamas, mas isso não significa que tenha perdido a capacidade de disparar foguetes contra Israel", justificou a porta-voz.
O ministro israelense das Infra-Estruturas, Binyamin Ben Eliezer, já descartou a possibilidade de um cessar-fogo.
"Israel não está interessado, neste momento, em um cessar-fogo com o Hamas na faixa de Gaza. Se acontecer um cessar-fogo, isso permitirá ao Hamas recuperar suas forças e preparar um ataque mais duro contra Israel", alegou.
Quarto dia
No quarto dia da ofensiva israelense, os ataques aéreos prosseguiram durante a madrugada e a manhã desta terça na faixa de Gaza. No fim da tarde, a Força Aérea israelense bombardeou, pela segunda vez em dois dias, túneis de Rafah utilizados para o contrabando no sul da Faixa de Gaza, relataram testemunhas. Aviões F16 largaram 12 bombas de forte potência, perto da fronteira com o Egito.
Duas irmãs palestinas de 4 e 11 anos, Lama e Haya Hamdan, morreram em um bombardeio que teve como alvo um carro puxado por uma mula em Beit Hanun, norte da faixa de Gaza.
Na região de Khan Yunis, sul da faixa de Gaza, um palestino morreu, e dois ficaram feridos em um ataque aéreo contra um posto policial do Hamas.
Ao todo, 368 palestinos, em sua maioria membros do Hamas, mas também mais de 50 civis, morreram e 1.700 foram feridos desde sábado na ofensiva aérea israelense contra o movimento radical islamita, de acordo com novo balanço divulgado pelo diretor dos serviços de emergências de Gaza, Muawiya Hasanein.
Entre os mortos, há 39 crianças e 13 mulheres, acrescentou a mesma fonte.
No lado israelense, mais de 20 foguetes foram lançados nesta terça-feira contra o sul do país, deixando um ferido em Sderot, informou o porta-voz da polícia, Micky Rosenfeld.
As sirenes ecoaram pela primeira vez em Beersheva, a cerca de 40 km da faixa de Gaza, mas nenhuma queda de foguete foi registrada no setor, completou Rosenfeld.
Desde sábado, os disparos de foguetes e projéteis de morteiro deixaram quatro mortos em Israel: três civis e um soldado. Segundo o Exército, nesse período, mais de 200 foguetes e projéteis foram disparados.
Com agências internacionais