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Parashá Vaishlach 5769 (12 de dezembro de 2008)
"Em uma aula o professor perguntou aos seus alunos:
- Por que as pessoas gritam quando estão bravas umas com as outras?
Os alunos não sabiam a resposta, mas muitos tentaram arriscar. Um dos
alunos respondeu que as pessoas gritam porque perdem a calma, mas a resposta
não convenceu o professor, pois perder a calma não explica o ato de gritar com
alguém que está perto de você. Outro aluno respondeu que as pessoas gritam
porque querem que a outra pessoa escute. Mas
isso também não convenceu o professor, afinal, se duas pessoas estão uma
do lado da outra, é suficiente falar baixo para ser escutado.
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o professor.
Até que um dos alunos se levantou e falou:
- Acho que eu sei a resposta. Quando duas pessoas estão aborrecidas,
seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância, precisam gritar
para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais
forte terão que gritar para ouvir um ao outro, pois maior a distância entre
seus corações. Mas ao contrário, quando duas pessoas se amam, elas falam
suavemente, pois seus corações estão muito perto um do outro. E quando o amor é
muito intenso não necessitam sequer falar, apenas um olhar carinhoso basta para
seus corações se entenderem."
Esta é a lição que fica: quando duas pessoas discutem, devem tomar
cuidado para não deixar que seus corações se afastem, devem evitar dizer
palavras que os distanciem mais, pois podem chegar a uma distância tamanha que
não encontrarão mais o caminho de volta.
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A Parashá desta semana, Vaishlach, nos conta sobre a volta de Yaacov
para casa, depois de passar muitos anos fugindo de seu irmão Essav.
Essav era o filho primogênito de Itzchak e tinha direito a uma Brachá
(benção) especial. Porém, como estava ligado somente à busca de prazeres do
mundo material, ele desprezou seu direito espiritual da primogenitura e
vendeu-a para Yaacov por um prato de lentilhas. Mas quando Essav viu que Yaacov
havia recebido a Brachá no seu lugar, ele se arrependeu, odiou seu irmão com
todas as suas forças e decidiu em seu coração que iria matá-lo. Yaacov fugiu
para a casa de seu tio Lavan, onde casou-se e construiu uma família. Passados
34 anos, ele acreditava que o ódio de Essav já havia passado e decidiu voltar.
Porém, a Parashá nos ensina justamente o contrário. Yaacov enviou
mensageiros para buscar uma reconciliação com Essav, mas eles voltaram com um
terrível relato: Essav vinha ao encontro de Yaacov acompanhado de 400 homens,
certamente não em missão de paz. O encontro seria explosivo, e Yaacov se
preparou para a inevitável batalha sangrenta.
Mas algo estranho aconteceu no caminho, pois a Parashá conta que
finalmente os irmãos se encontraram, se abraçaram e choraram um sobre o ombro
do outro. O que ocorreu que causou esta mudança tão drástica nos acontecimento?
Conhecemos as leis do mundo material e sabemos o quanto elas são
rígidas. Se jogamos para cima uma maça, a força da gravidade faz com que a maça
caia de volta. Da mesma forma, o mundo espiritual também tem suas leis rígidas.
Nos ensina Shlomo Hamelech (Rei Salomão), o mais sábio de todos os homens, em
seu livro Mishlei (Provérbios), uma das leis espirituais que regem o mundo:
"Da mesma forma que a água reflete o rosto da pessoa, assim também o
coração do homem reflete o coração de seu companheiro". Quando uma pessoa
olha para a água, ela vê seu próprio rosto refletido. Se ela sorri, vê um rosto
sorridente, mas se ela está irritada, vê refletido um rosto tenso e irritado.
Nos ensina Shlomo Hamelech que assim também ocorre entre as pessoas, vemos
refletido nas outras pessoas o nosso próprio comportamento. Se sorrimos
recebemos de volta um sorriso, se gritamos recebemos de volta
um grito. O que sentimos por outra pessoa no nosso coração, ela também
sente por nós.
Yaacov conhecia muito bem as leis do mundo espiritual. Quando estava
voltando e recebeu a notícia de que seu irmão estava vindo contra ele com um
exército, entendeu que o ódio era grande demais, maior do que havia imaginado,
pois continuava fervendo mesmo depois de 34 anos. Ele entendeu que se Essav o
odiava tanto era porque ele provavelmente também deveria estar mantendo no
coração, mesmo sem perceber, um ódio pelo seu irmão. A Torá nos ensina que
devemos odiar o pecado e não o pecador. Por mais que Yaacov estava correto em
odiar os atos abomináveis de seu irmão Essav, ele entendeu que havia ido além,
havia
guardado em seu coração um grande ressentimento por Essav. Quando
percebeu isso, Yaacov começou imediatamente a se esforçar para arrancar do
coração todo o ódio que estava guardado. E finalmente, quando eles se
encontraram, o ódio do coração de Yaacov já havia sido retirado e, como um
espelho, o ódio do coração de Essav também desapareceu.
Essa lei espiritual também se aplica para nós. Quando temos algum
problema de relacionamento com outra pessoa, é muito fácil colocar a culpa no
outro. Mas Yaacov nos ensinou que se há algo de errado no relacionamento,
certamente há algo de errado no nosso próprio coração. Como em um espelho, não
adianta tentar mudar o reflexo sem mudar algo
em nosso próprio comportamento.
Quando há um incêndio, todos sabem que não se combate fogo com fogo.
Gritos não resolvem problemas, apenas os pioram. Em momentos de
nervosismo, falar de maneira tranquila pode mudar o rumo das coisas.
Guardar rancor faz mal para nós e para os outros. Um sorriso, um pedido
de desculpas quando erramos e um abraço carinhoso são atos aparentemente
simples, mas que podem tocar no fundo da alma de uma pessoa. É fácil criticar a
violência no mundo, o difícil é cada um dar a sua contribuição para a paz.
"A vida é como jogar uma bola na parede. Se você joga uma bola
azul, recebe de volta uma bola azul. Se joga uma bola com força, recebe de
volta uma bola com força. Por isso, nunca "jogue uma bola" na vida de
forma que você não esteja pronto a recebê-la de volta" (Albert Einstein).
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
O Shabat Shalom Mail também está disponível no Blog www.ravefraim..blogspot.com