Ultra-ortodoxos espalham medo
12/10/2008 - Tribuna do Norte
Amy Teibel - Associated Press
Jerusalém - Numa comunidade de judeus ultra-ortodoxos em Israel, onde o domínio da lei às vezes cede lugar ao domínio de Deus, os zelotes estão em uma campanha para coibir comportamentos por eles considerados impuros ou lascivos. Eles jogam pedras em mulheres por "pecados" como vestir uma blusa vermelha e atacam lojas que vendem computadores e outros equipamentos digitais que possibilitam o acesso à internet. Nas últimas semanas, as autodenominadas "patrulhas do recato" foram acusadas de invadir o apartamento de uma mulher em Jerusalém, que foi espancada por ter, supostamente, encontros com homens.
As "patrulhas do recato" incendiaram uma loja que vendia tocadores de MP4, com medo de que judeus devotos usassem os aparelhos para baixar pornografia da internet. "Essas infrações à pureza e ao recato colocam em perigo a nossa comunidade", argumenta Elchanan Blau, um israelense de 38 anos, em defesa dos zelotes barbudos e vestidos de preto. Muitos judeus ultra-ortodoxos estão preocupados e tristes com a violência, mas as "patrulhas do recato" muitas vezes contam com o apoio do rabinato, contente em proteger sua reputação de guardião da fé, dizem os integrantes da comunidade. Embora alguns dêem boas-vindas a qualquer coisa que mantenha a cultura secular afastada do seu mundo enclausurado, outros ultra-ortodoxos estão aterrorizados, ao saber que qualquer desconfiança de indecência, da parte dos zelotes, pode arruinar suas vidas.
"Eles têm olhos e ouvidos em todos os lugares, o que é muito parecido com o que você escuta de países como o Irã", observa a escritora israelo-americana Naomi Ragen, que respeita as regras do judaísmo e tem escrito sobre os problemas das mulheres judias que integram o mundo ultra-ortodoxo. A violência já ajudou a aprofundar o antagonismo entre os 600 mil israelenses 'haredim', ou tementes a Deus, e a maioria secular do país, que se ressente pela pretensão do grupo em ditar as normas religiosas a todos.
Os espiões religiosos operam em uma sociedade que garantiu sua influência muito além da sua proporção numérica - em parte, através do compromisso de reviver os grandes centros de ensino religioso judaico destruídos pelo Holocausto, ou genocídio dos judeus europeus, mas também porque os ortodoxos são um peso político determinante nas coalizões de governo em Israel. Assim, o transporte público é reduzido de maneira radical a cada sábado para respeitar o Sabá judaico e os rabinos têm controle sobre todos os casamentos e divórcios em Israel.
Nos últimos anos, de qualquer maneira, os 'haredim' suavizaram suas longas campanhas para impor suas regras sobre aspectos seculares da vida em Israel, e agora muitos restaurantes e shopping centers abrem aos sábados. Atualmente, a maioria dos ataques está concentrada nas vizinhanças das comunidades e bairros habitados por zelotes. O porta-voz da polícia israelense, Micky Rosenfeld, comentou que as "patrulhas do recato" não são um movimento organizado, porque têm realizado apenas ataques isolados.
Pichações pedem sobriedade às mulheres
Os muros de Beit Shemesh, um subúrbio próximo de Jerusalém onde os zelotes têm sido particularmente violentos, estão pichados com avisos pedindo às mulheres que se vistam de maneira sóbria - o que, na visão ultra-ortodoxa judaica, significa cobrir o pescoço, usar saias longas e não mostrar os cabelos. O Estado de Israel, suscetível à pressão dos grupos religiosos, têm subsidiado ônibus exclusivos e segregados nas rotas que servem os bairros habitados por ultra-ortodoxos. A escritora Naomi Ragen e várias outras mulheres desafiaram a prática na Suprema Corte de Israel, após uma mulher israelo-canadense na faixa dos 50 anos, e ortodoxa, ter apanhado e sido jogada no chão de um ônibus por homens ultra-ortodoxos. Ela se recusou a ir para o fundo do ônibus, como os ultra-ortodoxos haviam ordenado.
Outra garota de Beit Shemesh disse que os zelotes jogaram pedras em uma amiga que usava blusa com a cor vermelha - segundo os ultra-ortodoxos, algo inconcebível, porque a cor vermelha seria chamativa demais. Yitzhak Polack, um professor de 50 anos que vive em Jerusalém, deplora o comportamento dos ultra-ortodoxos. "Eles são uns cretinos criadores de problemas que estão trazendo vergonha e desgraça à comunidade inteira", ele disse.
Mas o rabinato está com medo de denunciar os ultra-ortodoxos, diz Yehuda Meshi-Zahav, outro integrante da comunidade. "Eles não podem ir contra os zelotes, que defendem o recato. Às vezes eles escrevem contra a violência, mas ultimamente os militantes é que têm dado as cartas", ele disse. Em agosto, um homem foi detido e depois colocado em prisão domiciliar sob a suspeita de ter tocado fogo a uma loja, em um bairro 'haredi'.
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Magal
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