http://www.euronews.net/pt/article/12/07/2008/paris-gathering-will-not-lead-to-normalisation/
Numa entrevista exclusiva à euronews, o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, propõe a criação de um Fórum que reúna os 27 da União Europeia com os 22 países que constituem a Liga Árabe. Há 7 anos à frente da organização, Moussa, estima que a Cimeira de Paris não é, nem uma normalização, nem o início de uma relação especial entre árabes e israelitas. O secretário-geral aborda ainda outras questões da actualidade, nomeadamente a alteração com o presidente israelita Shimon Peres, e declara que os árabes não se deixam enganar.
euronews: Uma primeira cimeira com os países do Mediterrâneo. Como vê o futuro desta união?
Amr Moussa: Ainda estão por resolver várias questões sobre a União para o Mediterrâneo, mas para nós é preciso trabalhar mais de forma a que cada projecto, cada passo, cada decisão tenham por base uma reconciliação entre as 2 partes. É importante que o projecto de união não vise a normalização das relações entre árabes e israelitas sem o nosso consentimento".
euronews: Propôs a ideia de criação de um Fórum….
AM: "A minha proposta foi a seguinte: que exista um fórum que se reúna ao mesmo tempo ou à margem da reunião da União para o Mediterrâneo e que reúna em permanência e na presença dos 27 países da União Europeia e dos 22 países da Liga Árabe".
euronews: Esta ideia do Fórum, será uma forma de resolver problemas de oposição, como a da Líbia que vê a União para o Mediterrâneo com algo que vai eliminar o papel da Liga Árabe?
AM: "A problemática colocada pelo líder Muammar Khadafi é lógica. Ele quer assegurar-se que esta iniciativa não irá funcionar em detrimento de outros compromissos e temos de ter em consideração os pontos que alimentam as desconfianças".
euronews: Acha que a problemática responde às inquietações de Merkel e aos medos dos árabes?
AM: "Eu penso que vai resolver uma boa parte das inquietações".
euronews: A Cimeira vai reunir pela primeira vez na história do Estado hebreu, o primeiro-ministro israelita e o presidente sírio. Não será isto o começo de uma mudança nas relações entre os 2 países?
AM: "Não. Esta é uma reunião internacional que reagrupa um grande número de países, estejam eles em acordo ou não, da mesma maneira que as reuniões das Nações Unidas ou de Barcelona e isso não quer dizer que vá acontecer uma normalização das relações entre o mundo árabe e Israel".
euronews: E a questão coloca-se por existirem negociações indirectas?
AM: "E elas continuarão a ser indirectas até que seja decidido passar a negociações directas… é tudo".
euronews: Mas Olmert declarou que as negociações com a Síria não estão longe…
AM: "Esse é outro problema. Não escutamos o ponto de vista sírio. Não podemos tomar apenas em consideração o ponto de vista do primeiro-ministro israelita. é preciso ouvir a Síria. E se Israel aceita a retirada dos territórios sírios ocupados, nesse momento, a porta vai abrir-se para as negociações directas entre Israel e a Síria".
euronews: A posição israelita incomoda-o?
AM: "Muito".
euronews: Porquê?
AM: "Porque o problema da colonização muda completamente a demografia e a natureza geográfica dos territórios ocupados, o que torna a criação de um Estado palestiniano uma questão particularmente difícil. E a partir disto, exprimo a minha oposição extrema à política israelita tal como ela está".
euronews: Acredita que os árabes não são ingénuos?
AM: "Que haja uma parte de ingénuos é já uma história antiga. Hoje já não podemos fazer batota. Todos os dias Israel constrói colonatos nos territórios palestinianos e ao mesmo tempo diz-nos: venham, vocês vão ficar satisfeitos. Eu respondo: parem com a vossa política de colonização. É inacreditável.
euronews: Há quem diga que os árabes são ingénuos. Acha que Israel e os Estados Unidos, tratam-nos assim?
AM: "Eu li essa passagem na imprensa e espero que o que se diz seja verdade e que tem de se acabar com esta história de tentar enganar".
euronews: O lado israelita continua a dizer que os árabes estão divididos…
AM: "Mesmo que estejam divididos, não o estão no que diz respeito à colonização, à criação do Estado da Palestina, ao fim do conflito israelo-palestiniano e quanto à retirada completa dos territórios ocupados".
euronews: Mesmo que Olmert e Obama tenham declarado que Jerusalém é a capital eterna de Israel?
AM: "Então não haverá paz. O que eu sei é que Jerusalém Ocidental é a capital de Israel. Mas Jerusalém-Este é a capital do Estado palestiniano".
euronews: Quanto ao dossier iraniano existem informações sobre um provável ataque aéreo israelita ou norte-americano contra as bases nucleares iranianas…
AM: "Escute: eu já disse no passado que a invasão do Iraque ia abrir as portas do inferno. E foi o que se passou. Se isso se reproduzir no Irão, toda a região do Médio Oriente vai ser um verdadeiro inferno".
euronews: Que espera do papel da Europa e sobretudo do que se vai passar depois da Cimeira de Paris?
AM: "A Europa é chamada a reforçar o seu papel económico com um papel político, sobretudo porque as acções precedentes não resultaram. Resolver o conflito israelo-árabe de uma forma justa faz-se com a criação do Estado da Palestina, a retirada israelita dos territórios ocupados. Depois destas acções vai haver um reconhecimento e uma normalização com Israel. É isso que nos vai conduzir à estabilidade no Médio Oriente. E quando falamos de estabilidade no Médio Oriente isso significa estabilidade no Mediterrâneo e nomeadamente na Europa".
euronews: Existem muitas críticas a propósito da ausência de democracia no mundo árabe que implica a violação dos direitos do Homem…
AM: "A ausência de direitos do Homem é um problema que se pode resolver. Já a violação dos direitos do Homem tornou-se num exercício mundial".
euronews: Pensa que é a Europa ou o mundo árabe, o responsável por isso?
AM: "A meu ver é necessário resolver o problema de uma forma sincera. Somos todos responsáveis pela deterioração dos direitos o Homem".
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Magal
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