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Cristãos-novos reivindicam sangue e direitos judaicos


Cristãos-novos reivindicam sangue e direitos judaicos
Camila Arêas

Aos 13 anos, ele ouviu os pais comentarem sobre a origem portuguesa do avô. Dentro de casa, os costumes eram diferentes. Enfatizava-se o Velho Testamento, velas eram acesas antes de surgir a primeira estrela no céu de sexta-feira e o sábado era um dia de descanso, quando não se comia carnes. Mas tudo era automático e Hélio Daniel Cordeiro não fazia comparações. Aos 18 anos, montou o quebra-cabeça e descobriu: é descendente de judeus anoussitas (em hebraico: oprimidos), também chamados de marranos (converso) ou cristão-novos, que foram convertidos ao cristianismo e expulsos de Portugal no período da Inquisição (1536-1821).

Assim como Hélio, centenas de brasileiros que carregam os sobrenomes como Oliveira, Trigueiro, Pereira, Fonseca, Pinto, Silva, Jesus e Conceição buscam na história de seus antepassados provas da hereditariedade judaica. Querem ter os mesmos direitos de todos os judeus com base na ascendência. Mas para a Lei do Retorno, judeu "é a pessoa nascida de mãe judia ou que tenha se convertido ao judaísmo e que não pertença a outra religião".

A barreira legal está sendo questionada por Asher Ben-Shlomo, chefe do Sindicato Israelita das Comunidades Anoussitas, que vive em Israel há seis anos e trabalha junto às autoridades para apresentar emendas às Constituições. No Brasil, a proposta que será entregue em breve ao presidente Lula visa a reconhecer os direitos hereditários culturais e sangüíneos, como os que os índios desfrutam. Em Israel, Asher se reuniu com parlamentares para modificar a Lei do Retorno.

Asher é brasileiro e nunca perdeu as origens judaicas, mas ao migrar para Israel encontrou centenas de brasileiros que buscavam retornar ao judaísmo e não conseguiam porque não têm o documento requerido pelos Tribunais Rabínicos.

- Não têm o atestado, mas têm o sobrenome português registrado no arquivo genealógico do Museu da Diáspora de Tel Aviv. O problema é que o rabinato de Israel está dividido e parte dele exige que o anoussita, por estar muito tempo afastado da cultura, deve se converter em um Tribunal ortodoxo para se integrar à comunidade judaica. Defendemos a conversão facilitada.

No entanto, não existe Tribunal ortodoxo ou rabino-chefe na América Latina, justamente a região que recebeu os cristão-novos durante a colonização. E mesmo que um marrano se converta com ortodoxos dos Estados Unidos, não há garantia de sua validade em Israel porque não há uniformidade legal para eles.

- Há uma ingerência do rabinato. Os próprios rabinos acham que não somos judeus porque nossos antepassados foram convertidos. Nos sentimos um peixe fora d'água porque os outros nos chamam de judeus, mas os religiosos não nos reconhecem - desabafa Ricardo Trigueiro, fundador da Sociedade Anoussita Beit Shmuel de Recife. - Quem é judeu? É quem serve o Exército e paga imposto. Então, é preciso primeiro chegar à Israel.

Os marranos querem voltar ao judaísmo sob o status de pessoas que retornam à religião dos antepassados e não como convertidos.
Quinze por cento dos imigrantes portugueses que se mudaram no Brasil nos séculos 16 e 17 eram marranos, que se instalaram em massa no Nordeste brasileiro.

- Dos cinco grandes engenhos brasileiros de 1.500, os cristãos-novos da Bahia e de Pernambuco consagraram o auge da economia açucareira colonial - ilustra Tânia Kaufman, diretora do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco. - A primeira comunidade judaica do Brasil nasceu no Recife. Hoje, ainda vivemos sob atmosfera judaica.

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Magal

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