Análise: Cresce polarização entre judeus e árabes de Israel
CLAIRE BOLDERSONda BBC Brasil, em Israel
"Há apenas uma coisa em comum entre os árabes e os judeus em Israel", diz Amnon Rubinstein com um sorriso irônico. "Eles se detestam. É triste, mas verdade."
O ex-ministro da Educação de Israel, atualmente trabalhando para o Centro de Estudos Interdisciplinares de Herzliya, não é o único israelense tenso por causa da deterioração das relações entre os judeus e a minoria árabe no país.
Uma série de eventos que ocorreram desde a guerra no Líbano, no ano passado, reacendeu temores em Israel de um inimigo interno.
Na época, alguns árabe-israelenses foram extremamente críticos às ações israelenses. E, nesta semana, um dos mais ativos críticos renunciou ao seu assento no Parlamento israelense, o Knesset.
Relatos nesta quinta-feira dizem que Azmi Bishara está sendo investigado pela polícia israelense por ter supostamente ajudado o inimigo durante a guerra.
Mas Bishara, que deixou o país, disse que está sendo perseguido por causa de suas críticas ao Estado judeu. O caso exacerbou a crescente polarização das comunidades judaica e árabe em Israel.
Minoria
Os árabes constituem quase 20% da população, mas há muito tempo eles reclamam de discriminação, uma acusação que os números oficiais parecem confirmar.
Grande parte das vilas árabes recebe menos ajuda financeira do Estado do que as cidades judias, apesar de serem geralmente mais pobres.
A expectativa de vida dos árabes é menor, assim como seu desempenho escolar.
Mas tão ruim quanto esses problemas é a postura da maioria judia, de acordo com os árabes-israelenses.
"Quando eles olham nos seus olhos, você sabe. Eles não precisam falar com você. Você sabe se alguém gosta de você ou não", diz Ahlam, de 18 anos, em um café de Nazaré.
Ela planeja ir à universidade, mas reclama que terá que trabalhar o dobro de qualquer estudante judeu para conseguir uma vaga, só porque é árabe.
Futuro
São descontentamentos como esse que estimularam líderes árabe-israelenses a compilar uma série de relatórios sobre o status dos árabes em Israel --ou cidadãos palestinos de Israel, como muitos se denominam-- e a sugerir soluções.
O relatório mais provocativo para os judeus de Israel foi o encomendado pelos prefeitos de cidades árabes e escrito por importantes acadêmicos árabes.
O relatório intitulado "Visão Futura dos Palestinos em Israel" não apenas lista os problemas de discriminação.
O documento quer que Israel deixe de ser um Estado judeu, que o hino nacional e a bandeira com a estrela-de-davi sejam eliminados.
Israel se tornaria um Estado com dois povos iguais, os judeus e os árabes.
Para que isso aconteça, diz o relatório, os árabes precisariam de muito mais autonomia política e cultural, com seu sistema próprio de educação e um currículo separado, por exemplo.
Solução
Tudo isso é completamente fora de questão para os judeus de todas as orientações políticas em Israel.
"Israel pertence não só a seus cidadãos, mas também aos judeus do mundo", disse um comentarista de esquerda.
"Nós queremos preservar nossa exclusividade e, se houver uma ameaça a isso, então ficaremos amedrontados", acrescentou.
O relatório deu aos judeus israelenses uma razão para ter medo.
No momento, o pouco do processo de paz com os palestinos que existe na faixa de Gaza e na Cisjordânia é baseado na noção de que um dia haverá dois Estados, um judeu e um palestino, existindo lado a lado.
Mas o que os árabe-israelenses fizeram foi propor dois Estados, só que sem que nenhum dos dois seja judeu. E isso confirmou o antigo medo dos israelenses de que nunca seriam aceitos na região.