Vida judaica em Cuba
terça-feira, março 06, 2007
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Article intéressant publié dans le New York Times.
Clemy
> New York Times, 06/02/07:
> Em Cuba, conhecendo pequenas esquinas da vida judaica
>
> Caren Osten Gerszeberg
>
> Claudia Barliya, uma menina cubano-judaica de 6 anos, estava por ali, numa
> rua calçada por pedras em Trinidad, uma pequena cidade de alguns séculos
> de história na costa sul de Cuba. Um burrinho carregando um homem velho
> passou por detrás; e um grupo de 30 judeus americanos, incluindo este
> repórter, estava ali, diante dela. A menina perguntou se poderia
> apresentar uma canção para o grupo, que estava em uma missão humanitária
> com o Centro Judaico de Mamaroneck, em Westchester, estado de Nova York.
> Agora tinha a atenção de todos. Quando sua canção ecoou - não em espanhol,
> mas com a letra em hebraico de "Yerushalayim Shel Zahav", ou "Jerusalem de
> Ouro" - o grupo não resistiu e se transformou num coro.
>
> Claudia é apenas uma entre aproximadamente 1.500 judeus que vivem em Cuba;
> 1.100 residem em Havana e os 400 restantes estão espalhados pelas
> províncias do país. Não há nenhum rabino vivendo na ilha e há somente um
> açougueiro kosher. Esta pequena presença judaica contrasta radicalmente
> com a emergente comunidade que existia antes de Fidel Castro assumir o
> poder em 1959. Naqueles dias, havia somente em Havana 15.000 Judeus e
> cinco sinagogas.
>
> Mesmo com todo esse contraste, os judeus no atual dia-a-dia de Cuba
> conseguem manter vivas suas cultura e tradições. Como diz Maritza
> Corrales, uma historiadora cubana que vive em Havana e é autora de "The
> Chosen Island: Jews in Cuba" ("A Ilha Escolhida: Judeus em Cuba"), depois
> rebatizado para título equivalente a "Ser cubano e judeu é ser
> sobrevivente em dobro".
>
> Numa viagem de uma semana realizada em novembro, o grupo de Westchester
> viajou ao redor da ilha de ônibus, acompanhado por duas guias para o
> idioma inglês que eram bem versadas na História e na cultura
> judaico-cubana. Quando os visitantes de Westchester entraram na Adath
> Israel, única sinagoga ortodoxa de Cuba - e uma das três sinagogas ativas
> em Havana - o sentimento da conexão entre os cubanos e os americanos era
> palpável. As palavras, as canções, eram todas as mesmas. No santuário, um
> grande bimah de madeira, ou pódio, abrigava os livros do Torá por trás de
> uma cortina vermelha de veludo, e uma parede de vidro separava os homens
> das mulheres.
>
> Após o serviço religioso, um estudante universitário de 17 anos fez
> serenata para os americanos com seu violino, tocando temas tradicionais,
> como "Hava Nagila." O músico bem poderia ser um estudante de faculdade de
> qualquer lugar dos Estados Unidos, com sua barba por fazer, tênis e jeans
> na moda. A diferença é que o jovem em questão não tem permissão para sair
> de seu país, nem mesmo para visitar seus pais, engenheiros do governo
> cubano que trabalham no exterior.
>
> Num outro quadrante de Havana, há o Centro Hebraico Sefardita de Cuba, e a
> sinagoga tradicionalista de Beth Shalom, a maior das três sinagogas, com
> mais de 500 membros. Beth Shalom abriga um centro comunitário judaico,
> conhecido como El Patronato, com uma biblioteca e uma farmácia, que
> distribui remédios - a maioria vinda de doações de grupos judeus
> visitantes dos Estados Unidos - por toda a ilha, para judeus e não-judeus.
>
> Depois que Castro assumiu o poder e nacionalizou negócios e propriedades
> particulares, 90 por cento da população judaica, muitos deles
> empreendedores, abandonaram a ilha, e os 10 por cento restantes ficaram em
> posição discreta na sociedade. Havia tão poucos judeus para rezar que num
> minyan, quando criado, bastava um Torá para iniciar as orações (um minyan
> requer normalmente 10 adultos judeus para começarem a rezar).
>
> A presença judaica seguiu desvanecendo por alguns anos, e o panorama só
> começou a mudar em 1992, depois da queda da União Soviética, quando Cuba
> mudou sua constituição, permitindo a liberdade religiosa. Aí a comunidade
> judaica começou a se reerguer. Rabinos do Chile, de Argentina, de Panamá e
> de México vieram ensinar aos judeus cubanos restantes como rezar e
> conduzir serviços religiosos, e as organizações judaicas no Canadá
> passaram a enviar alimentos kosher para a Páscoa dos judeus.
>
> Na época, as sinagogas deram boas-vindas aos judeus que vieram receber os
> alimentos, incentivando que voltassem para o Shabbat e para várias outras
> celebrações religiosas. Num espaço de 10 anos, muitas atividades foram se
> firmando, incluindo a escola dominical no Patronato, onde crianças de
> idades entre 6 e 14 anos aprendem a cultura e a tradição judaicas. Começou
> com 10 crianças e agora tem quase 70. Há também um grupo das mulheres
> judias com 150 participantes, encontrando-se a cada seis semanas para
> ajudar a lidar com questões femininas como violência doméstica e sobre
> como manter um lar judaico.
>
> A vida judaica não é tão organizada assim fora de Havana, onde a população
> judia é muito menor. Por exemplo, há somente 27 judeus praticantes vivendo
> em Cienfuegos, uma pitoresca cidade diante de uma baía. Por lá não há
> sinagogas para as orações. Em vez disso, a comunidade judaica de
> Cienfuegos se encontra a cada noite de sexta-feira, para serviços de
> Shabbat na sala de estar do apartamento de Rebecca Langus, situado num
> segundo andar.
>
> A comunidade judaica de 25 membros em Santa Clara, a capital da província
> central de Villa Clara, levantou dinheiro o bastante para comprar uma casa
> e convertê-la em uma sinagoga, mas ainda está em busca do terreno ideal.
> Por enquanto, eles se orgulham bastante do sombrio memorial do Holocausto,
> construído em 2003, situado no cemitério judaico local. Por lá está uma
> lápide vinda do Museu Memorial do Holocausto em Washington, e na parte
> dianteira há uma trilha feita de pedras oriundas do gueto de Varsóvia.
>
> Ao lado do memorial está um candelabro menorá com uma estrela de Davi e
> com candeeiros para seis velas, simbolizando os 6 milhões de judeus que
> morreram no Holocausto.
>
> Apesar de toda essa luta tão difícil para preservar a cultura judaica, os
> líderes permanecem otimistas em relação ao futuro. Mesmo Israel sendo o
> único país com quem o país rompeu relações diplomáticas, não há nenhuma
> evidência de anti-semitismo em Cuba. "Eu me senti mais seguro vestindo meu
> gorro yarmulke em Cuba do que se estivesse em White Plains", disse Jeffrey
> Segelman, rabino do centro judaico de Westchester. E é assim que a
> presença judaica se estabelece.
>
> "Se você tivesse me perguntado isso há 10 anos, quando a comunidade
> perigava, eu poderia ter dito que a comunidade judaica não existiria
> hoje", disse Adela Dworin, presidente da comunidade judia em Cuba. "Não
> será a mesma como havia em 1959, mas agora pelo menos nós temos gente
> variada, nova, de meia idade e velhos."
>
> Dworin teve a oportunidade de encontrar-se com Fidel em 1998, e lhe
> perguntou porque nunca tinha visitado a comunidade judaica. Castro
> respondeu: "Porque eu nunca fui convidado." Prontamente Adela Dworin lhe
> convidou para a celebração do Hanukkah no Patronato. Quando Castro
> perguntou o que era Hanukkah, Dworin explicou que o feriado comemora a
> "revolução" - uma palavra adorada por Fidel - do povo hebreu.
>
> Para surpresa de Adela, Castro apareceu numa celebração com 200 pessoas,
> sentou-se ao lado dela na fileira dianteira e se dirigiu à congregação num
> longo discurso.
>
> Já Joseph Levy, líder do templo sefardita, tem uma perspectiva mais
> sombria para a vida dos judeus em Cuba. Enfatiza como foi difícil manter
> vivas as tradições judaicas, porque sem um rabino, diz ele, "a comunidade
> judaica aqui fica quase como se fosse uma casa sem a presença dos pais".