Henrique Cymerman
A central nuclear de Dimona é o lugar mais importante da defesa de Israel, e o ponto mais sagrado do Estado judaico. Por isso, e depois de um número cada vez maior de escândalos relacionados a abuso sexual, Israel sofreu grande impacto diante das novas revelações de que mulheres de 18 a 20 anos que fizeram parte de seus 20 meses de serviço militar obrigatório nas instalações da central nuclear apresentaram queixas contra um dos diretores da organização por assédio sexual.
De acordo com a investigação do Ministério da Defesa, as queixas se referem a diversos casos de assédio verbal. Aparentemente, o dirigente costumava elogiar os corpos das militares com muita freqüência. A Comissão de Energia Atômica israelense, que é responsável pela central nuclear, divulgou um comunicado no qual reconhece que existe uma investigação em curso devido às acusações de abuso sexual ¿e que há um investigador estrangeiro envolvido-, e sinaliza que comportamento desse tipo contraria suas normas disciplinares.
Em uma sociedade na qual não faltam temas controversos, a questão dos abusos sexuais se converteu recentemente em tema de discussão número um, tanto nas festas quanto nos chamados "parlamentos da sexta-feira", quando amigos costumam se reunir nos cafés (o final de semana judaico começa na sexta) e debater as questões mais quentes da sociedade.
O poeta Yonatan Guefen, sobrinho do mitológico general Moshe Dayan, herói da independência israelense, comenta que, se seu tio continuasse vivo, certamente seria processado por dezenas de mulheres. "Ele era com certeza muito mais atraente do que o atual presidente Moshe Katsav, acusado de estuprar uma secretária e assediar outras três".
Por décadas, os rumores sobre contatos entre os dirigentes militares e políticos do país e suas assistentes foram muito intensos. Avirama Golan, uma renomada jornalista do diário Haretz, diz que "em uma sociedade que deseja projetar uma imagem de força, essas ações tendiam a ser toleradas". Os oficiais militares e os líderes do governo ocasionalmente "passam semanas longe de suas casas e famílias, em bases militares nas quais mulheres fazendo o seu serviço militar estão muitas vezes longe de casa pela primeira vez. Os líderes e as jovens soldados trabalham lado a lado, passam muito tempo juntos e os abusos sempre foram tanto freqüentes quanto inevitáveis", diz Golan.
O exército proibiu toda espécie de relacionamento entre pessoas de patentes distintas, e em 1998 o Parlamento aprovou uma lei que define como ilegal qualquer forma de abuso sexual, nas ruas, bases militares ou locais de trabalho. Curiosamente, a lei foi proposta por Yael Dayan, filha do general, o que ocasionou muitos gracejos e ironias em todo o país.
Algum tempo mais tarde, o ministro da Defesa e candidato a primeiro-ministro Yitzhak Mordechai, um herói de guerra, foi forçado a admitir assédio sexual e perdeu sua patente, depois de condenado por diversos casos de abuso sexual ao longo de sua carreira. Mijael Oren, um historiador de Jerusalém que fez serviço militar há 30 anos, afirma que em sua época a equipe feminina de um escritório era vista pelos líderes como uma espécie de harém pessoal. "O machismo israelense era necessário, no passado, mas nos últimos anos as coisas todas mudaram. Aos 58 anos, Israel está deixando a adolescência e entrando na idade adulta", explica.
Os psicólogos afirmam que os fundadores de Israel queriam mudar a personalidade dos judeus perseguidos da diáspora, e criar cidadãos poderosos, capazes de transmitir uma imagem de força. Só dessa maneira, dizem, o país poderia enfrentar sua longa sucessão de guerra contra os vizinhos árabes. Nos últimos anos, as mulheres israelenses se conscientizaram mais de seus direitos. O exército deu início a uma campanha que exige que as soldados apresentem queixas em caso de assédio sexual. As forças armadas vêm realizando debates para mulheres e homens das forças armadas sobre o tema, e numerosos oficiais foram obrigados a abandonar suas carreiras depois de serem condenados por esse tipo de problema.
Não é por acaso que o ex-ministro da Justiça Haim Ramon, 57 anos, um dos políticos mais poderosos do país, talvez veja sua carreira encerrada porque beijou uma soldado de 19 anos, em julho. Ela primeiro o havia abraçado e pedido para que tirassem uma foto juntos, mas apresentou queixa depois de ser beijada pelo ministro.
Tradução: Stella Cardoso ME
La Vanguardia
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Magal
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