Haifa Wehbe é o símbolo sexual internacional dos árabes, algo que nunca havia ocorrido no Oriente Médio. Mas o erotismo de sua dança custou a Haifa a rejeição de seu vilarejo natal, no sul xiita do Líbano: de acordo com o jornal La Vanguardia, a cantora não pôde assistir ao funeral de seu irmão, um miliciano da Amal que foi morto a tiros pelos israelenses.
Cantora posa em sua casa, em Beirute, capital do Líbano. Ela canta em inglês e também árabe.
Cantora posa em sua casa, em Beirute, capital do Líbano. Ela canta em inglês e também árabe
Nascida em um remoto vilarejo xiita do abrupto sul do Líbano, em Marajuna, onde morava com sua família em uma modesta casa de dois quartos e sem banheiro, a cantora se transformou em símbolo sexual. Sua canção difundida por todas as emissoras de rádio e seu vídeo exibe movimentos de corpo sensuais, provocativos, às vezes quase lascivos.
Haifa está rodando um filme em Hollywood, acompanhou o veterano ator egípcio Omar Sharif à cerimônia do Oscar e faz com um famoso jogador de futebol europeu a campanha publicitária de uma cerveja sem álcool. A CNN exibiu uma entrevista de uma hora de duração com ela. Seu sucesso ultrapassou os limites da canção e do entretenimento dos povos do Oriente Médio. Os árabes nunca haviam conseguido um símbolo sexual internacional próprio.
"Olha a pupa, beija a pupa, deixe que ela cure, quando você beija a pupa, ela desaparece."
É esse o refrão da famosa canção, que todos cantam. Não é a voz e nem a graça da letra, que Haifa modula com peculiar picardia, que conquistaram esse público sem fronteiras. Haifa, com seu erotismo suavizado, mas à flor da pele, comove até nas ondas do rádio e nos discos. Com sua arte leve e seu corpo em liberdade, encarna o espetáculo. É vedete e dançarina oriental ao mesmo tempo. Representa a provocante imagem de um novo estilo da canção árabe, muito distante das imortais Um Kalsum e Fairuz.
Sua apresentação de véspera de Ano Novo na sala do teatro dos Embaixadores, no cassino do Líbano, foi o grande acontecimento artístico da pálida temporada de festas em Beirute. Com sua longa cabeleira negra, vestida com uma calça branca curta e justa e um transparente e grande véu que mostrava os encantos de suas pernas nuas e de seu busto, Haifa se movia com desenvoltura pelo palco, com o microfone na mão, disparando suas canções.
A cada vez que se aproximava das mesas ocupadas pelo público, sempre cercada por seus guarda-costas de smoking, provocava uma revoada dos espectadores, que quase a tocavam para poderem ser fotografados ao seu lado. Haifa é a mais fulgurante estrela do Oriente.
Dominando a bela baía de Junie, com seus milhares de luzes tremulantes, o cassino do Líbano, com seu suntuoso vestíbulo e suas escadarias solenes, foi o símbolo da vida alegre e despreocupada da capital libanesa antes das guerras.
Desde 1959 e durante duas décadas, a reputação deste cassino, o maior do Oriente Médio, só perdia no cenário internacional para o de Montecarlo. Duke Ellington, Juliette Gréco, Sacha Distel, Dalida, Johnny Halliday e Farid al Atrash se apresentaram em seu teatro. Em um de seus fascinantes espetáculos, perambulavam pelo palco elefantes e cavalos brancos, enquanto no fosso da orquestra, transformado em um canal de água, navegava uma lancha a vapor.
Haifa Wehbe voltou a triunfar no cassino, e é a mais esplêndida estrela árabe da canção. Mas em seu vilarejo, onde seu pai ainda vive humildemente e em cuja praça principal está o retrato de seu irmão Ahmad, miliciano da Amal morto em combate contra soldados israelenses, ela não é bem vinda. Seus vizinhos não a deixaram assistir ao funeral do irmão.
Magal
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