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Hezbollah é uma aposta temerária




OPINIÃO: Hezbollah é uma aposta temerária


Sexta, 17 de novembro de 2006, Thomas Friedman, jornalista do The New York Times, publicado no AlefOnline Ed. 961


Os perfis do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, o descrevem sempre como o protagonista árabe mais "inteligente" ou "estratégico". Permito-me discordar. Quando a fumaça se dissipar, Nasrallah será recordado como o líder mais temerário e imprudente desde que o líder egípcio Gamal Abdel Nasser se enganou de rumo e desembocou na Guerra dos Seis Dias. Sim, sim, já sei. Sou um ocidental excessivamente racional. Não compreendo a mentalidade oriental e a vitória emocional que Nasrallah conseguirá depois de tanta dor. Não se trata de ganhar ou perder, mas de matar os judeus. Bem, talvez, mas em última instância, as guerras ocorrem por objetivos políticos. Haverá uma rendição das contas, de maneira que façamos alguns cálculos. Primeiro, Nasrallah fez retroceder todo o incipiente movimento democrático árabe. A propósito, esse movimento foi utilizado por partidos islâmicos — como o Hezbollah e o Hamas — para chegar ao poder pela via pacífica. O Hezbollah, na primeira vez, tinha dois ministros no gabinete libanês. O Hamas, através de uma eleição promovida pelos EUA, assumiu a Autoridade Nacional Palestina. E, em ambos os casos, assim como no Iraque, a esses partidos islâmicos foi permitido fazerem parte do governo e manterem suas próprias milícias por fora. O que o Hamas e Nasrallah fizeram — ao arrastar seus respectivos países a guerras desnecessárias contra Israel — é demonstrar que os islâmicos já não serão considerados responsáveis pelo poder político. Precisamente o contrário: não só não taparam a boca do vulcão, como também iniciaram guerras, quando assim o decidem, que deixarão vulcões inclusive muito maiores.

Significa isto que o Hamas e o Hezbollah nunca ganharão outra eleição? É claro que não. Seus partidários sempre os seguirão. O que sim significa é que se a Fraternidade Muçulmana, no Egito, ou os islâmicos na Jordânia ou no Golfo Pérsico tinham alguma esperança de assumir o poder pela via eleitoral, agora devem esquecer dos seus sonhos. Não vejo que esses governos permitam alguma vez eleições que poderiam levar os partidos islâmicos ao poder, e não vejo como os EUA irão promover alguma outra eleição na região, por ora. O experimento democrático árabe está paralisado, porque se não se pode confiar nos partidos islâmicos no governo, tampouco se pode confiar nas eleições. Todos os ditadores árabes dizem: "Obrigado, Nasrallah".

"Israel se retira do Líbano e da Faixa de Gaza e qual é a resposta do Hamas e do Hezbollah? Construir escolas, estradas e criar fontes de emprego nestes territórios? Não. A resposta é bombardear Israel"

Na frente da paz, vejamos: Israel se retira do Líbano e da Faixa de Gaza, e qual é a resposta do Hamas e do Hezbollah? Construir escolas, estradas e criar fontes de emprego nos territórios recuperados? Não. Respeitar a fronteira com Israel, mas exigir que Israel se retire da Cisjordânia? Não. A resposta é bombardear Israel de Gaza e seqüestrar soldados israelenses a partir do Líbano. O Hamas e Nasrallah substituíram a fórmula "terra por paz" por "terra por guerra", segundo o ex-enviado ao Oriente Médio dos EUA, Dennis Ross. Ao fazer isso, se asseguraram que nenhum governo israelense se retirará unilateralmente da Cisjordânia e se arriscará a que caiam foguetes sobre Tel-Aviv. Nasrallah e o Hamas fizeram com que "a profundidade territorial estratégica" estivesse de volta ao pensamento israelense. Todos os colonos judeus na Cisjordânia dizem: "Graças, Nasrallah".

Mas suponhamos que a Nasrallah não importe a democracia nem um Estado palestino. Que tem que cuidar de sua própria posição. Suas aventuras causaram a devastação de seu povo — o que está acontecendo no Líbano é uma tragédia terrível —, mas causaram relativamente pouco dano a Israel. Iniciou uma guerra em nome do Irã que arruinou um povo e o melhor resultado que se pode esperar é um cessar-fogo que exija que o Hezbollah se distancie da fronteira israelense. Além disso, o Irã deu a Nasrallah mísseis para impedir qualquer ataque israelense ou ocidental contra o programa nuclear iraniano. Agora, a julgar friamente seu menu de mísseis, o Hezbollah e o Irã puseram em risco e debilitaram a capacidade de dissuasão iraniana. Uma jogada realmente estúpida. Podem os EUA capitalizar a loucura de Nasrallah? Para mim, a grande mexida estratégica no tabuleiro é tratar de dividir a Síria e o Irã, e levar novamente a Damasco o lado árabe sunita.

Essa é a jogada que mudará a partida. Qual será o preço que exigirá em troca a Síria? Não sei, mas certamente penso que valeria a pena averiguá-lo. Depois de tudo, a Síria alberga a direção do Hamas em Damasco. É a ponte terrestre entre o Hezbollah e o Irã, sem o qual o Hezbollah não poderá sobreviver. E é o refúgio dos insurgentes do grupo Baath no Iraque. Sim, temos muito que discutir com a Síria. E também com os sauditas, os egípcios e os jordanianos, os que se preocupam que a Síria possa estar aplainando o caminho para que os xiitas iranianos se apoderem da política árabe. Por certo, me interessaria em saber se Damasco responderia positivamente a uma proposta dos EUA e Arábia Saudita, como a que conseguiu que a Líbia abandonasse suas armas nucleares. É improvável, admito, mas se a equipe de Bush tivesse o pessoal suficientemente sagaz para obter isso — algo também improvável — se produziria a mãe de todas as derrotas para o Irã e para Nasrallah.

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