Berlim vê o primeiro congresso dos neonazistas desde a 2ª Guerra
Diante do ressurgimento embaraçoso do NPD, a classe política e a sociedade civil não sabem o que fazer para se livrar deste "fantasma" do passado
Antoine Jacob
correspondente em Berlim
Pela primeira vez desde a Segunda Guerra mundial, o Partido Nacional Democrata (NPD), a principal agremiação neonazista alemã, pôde realizar o seu congresso anual em Berlim. "Sejam bem-vindos na capital do Reich", anunciou Udo Voigt, o presidente do partido, diante de uma platéia de cerca de 260 delegados que compareceram a este encontro, sábado (11) e domingo (12/11).
Na opinião deste dirigente, este evento, por mais simbólico que ele seja, é apenas uma etapa no caminho que leva para o Bundestag (o legislativo) dentro da perspectiva das eleições legislativas de 2009. Trata-se de uma situação que a classe política alemã gostaria de evitar a qualquer custo, mas não sabe como fazer.
Será necessário tirar da gaveta um processo visando a proibir este partido que se reclama da ideologia nacional-socialista? A idéia já está "no ar" na Alemanha unificada, em conseqüência do recrudescimento dos delitos perpetrados por integrantes da extrema-direita e dos recentes sucessos eleitorais do NPD no leste do país.
Entre os políticos, sejam eles de direita ou membros do Partido Social-Democrata (SPD), alguns se dizem favoráveis a essa proibição. Mas a recordação deixada pelo fracasso de uma precedente tentativa incita à prudência, pois muitos temem uma nova recusa da justiça ou ainda fazer o jogo da extrema-direita, pintando-a nas cores do demônio e tornando-a assim atraente aos olhos de uma juventude desocupada.
Nesta segunda-feira (13), um porta-voz do governo anunciou que uma nova tentativa não estava na ordem do dia.
Em março de 2003, a Corte constitucional havia anulado um requerimento de proibição do NDP que havia sido apresentado pelo governo de Gerhard Schröder e o Bundestag. Os juízes haviam estimado que os elementos suscetíveis de conduzir à dissolução do partido eram com freqüência excessiva causados por militantes infiltrados ou influenciados pela polícia.
Propaganda
Desde então, o NDP pôde dar prosseguimento ao seu trabalho de propaganda, eficaz nas regiões da ex-República Democrática Alemã (Alemanha do Leste). Em 2004, ele havia causado uma enorme surpresa ao obter 9,2% dos votos nas eleições regionais na Saxônia. Há dois meses, ele acedeu ao Parlamento de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental (7,3%). A União Popular Alemã (DVU), uma agremiação de extrema-direita com a qual o NPD celebrou um pacto com o objetivo de compartilhar com ela o território, conta vários eleitos regionais não só no Brandeburgo como também em Bremen, no oeste.
Segundo uma recente pesquisa da Fundação Friedrich Ebert, ligada ao SPD, as idéias de extrema-direita tendem a banalizar-se na sociedade. E, diferentemente das idéias mais difundidas, a sua penetração dá-se mais ainda no oeste que no leste do país. Esta pesquisa teve tanto mais repercussão que ele foi divulgada logo após uma série de incidentes alarmantes.
Em 9 de novembro, em Frankfurt an-der-Oder, cerca de quinze ativistas neonazistas destruíram as coroas de flores que haviam sido depositadas em frente a um monumento comemorativo da onda de violência anti-semita que ocorreu durante a Noite de Cristal, em 1938. Em outubro, colegiais obrigaram um dos seus camaradas a circular pelas ruas carregando um cartaz no qual estava escrito um slogan anti-semita da época nazista. Em junho, exemplares do livro "O Diário de Anne Franck", uma jovem judia holandesa que foi morta num campo de concentração em 1945, foi queimado por jovens militantes. A lista não é exaustiva.
Neste contexto, a presidente do Conselho central dos Judeus na Alemanha, Charlotte Knobloch, afirmou em outubro que esses atos lhe lembravam o período que se seguiu a 1933, data da ascensão de Adolfo Hitler ao poder. Enquanto, para alguns, esta afirmação era exagerada, ela foi levada muito a sério pelas autoridades alemãs. Contudo, estas esperavam, seis décadas depois da Guerra, que a página estivesse prestes a ser virada. O ímpeto de patriotismo jovial que tomou conta do país durante a Copa do mundo de futebol, neste verão, havia alimentado essa esperança.
Tradução: Jean-Yves de Neufville