Israel impede novos estudantes palestinos em suas universidades
Dina Kraft
em Anata, Cisjordânia
Sawsan Salameh, uma palestina da Cisjordânia, ficou empolgada ao receber uma bolsa de estudos plena da Universidade Hebraica de Jerusalém para iniciar um doutorado em química teórica.
Mas uma recente medida do exército israelense que barra novos estudantes palestinos nas universidades israelenses, por motivos de segurança, a impede de estudar no campus, a apenas três quilômetros de sua casa.
"A primeira vez que requisitei a permissão ela foi negada", disse Salameh, 29 anos, uma muçulmana que veste lenço de cabeça preso firmemente e um saia jeans preta que desliza pelo chão. "Eu fiquei chocada, porque achei que devia ser algum erro, então continuei tentando. Eu continuo tendo esperança."
Sua situação é familiar para muitos palestinos cuja liberdade de movimento foi limitada nos últimos anos devido à continuidade do conflito entre israelenses e palestinos.
Salameh disse que após ter apelado seis vezes ao órgão do governo israelense que cuida dos assuntos palestinos, ela decidiu seu voltar à Suprema Corte. Na terça-feira, o Gisha, um grupo israelense que defende os direitos dos palestinos, impetrou uma petição em nome dela na Justiça, questionando a legalidade da proibição.
"O Gisha pede a Israel que não impeça os estudantes palestinos de estudar apenas por serem palestinos", disse a diretora do grupo, Sari Bashi. "Ninguém deve ter seu acesso negado à educação com base em sua identidade nacional."
A prática de analisar as permissões para estudantes está em vigor desde 2001, a última vez em que novos estudantes palestinos receberam permissão, disseram as autoridades. Mas antes da proibição total ter início nos últimos meses, o exército analisava os requerimentos caso a caso, algo que disse que não fará agora. O Gisha está pedindo que as análises individuais sejam retomadas.
A proibição oficial começou antes do início do ano acadêmico israelense, no final de outubro. Mas, na prática, ela remonta o levante palestino, que teve início no segundo semestre de 2000, quando a situação da segurança começou a se deteriorar, disse o tenente Adam Avidan, um porta-voz do governo civil na Cisjordânia.
A Universidade Hebraica foi cenário de um atentado suicida em julho de 2002, quando um palestino explodiu a si mesmo no café dos estudantes, matando sete pessoas.
O Ministério da Defesa disse que está dando atenção especial à questão da permissão estudantil e as autoridades israelenses disseram que precisam equilibrar as necessidades de segurança do país com o que descreveram como sendo o desejo compreensível dos palestinos de receber educação.
Atualmente 14 palestinos, todos tendo recebido suas permissões durante ou antes de 2001, estudam em universidades israelenses, disse Avidan. Eles foram autorizados a continuar seus estudos. Mas os registros das universidades sugerem que um pequeno número de estudantes pode ter sido autorizado a ingressar além de tal número, disse Bashi.
Como Salameh, a maioria dos estudantes vem a Israel buscando doutorados, porque não há programas de doutorado nas universidades palestinas.
Os palestinos que têm dinheiro ou recebem bolsas tendem a estudar no
exterior para obtenção de doutorados. Mas para aqueles sem apoio financeiro, isto é um sonho impossível, e as mulheres que vêm de lares muçulmanos tradicionais freqüentemente são proibidas por suas famílias de viver sozinhas no exterior.
Não há número disponível de quantos palestinos estudaram em Israel no
passado, mas as autoridades israelenses e os defensores de direitos dos
palestinos disseram que aparentemente o número era maior antes de meados dos anos 90, quando as restrições de viagem começaram a ser impostas.
O dr. Suheil Ayesh, 43 anos e morador da Faixa de Gaza, está entre os
palestinos que receberam mestrado e Ph.D. pela Universidade Hebraica. Ele atualmente é um professor visitante de biologia molecular e terapia genética lá e divide seu tempo entre Jerusalém e Gaza.
Ele é autorizado a entrar em Israel apenas com permissão de trabalho, que deve ser renovada a cada mês.
Ele é o único professor palestino que leciona em uma universidade
israelense, ele disse. Como muitos outros acadêmicos israelenses e
palestinos, ele está abatido com a proibição, que dificultará para que
futuras gerações de palestinos consigam o mesmo que ele: obter uma educação de qualidade, forjar laços com os israelenses e contribuir para um futuro Estado palestino.
"É difícil e confuso", disse Ayesh. "A distância física entre nós é muito pequena e a cooperação pode ser de muita ajuda."
O dr. Raphael Levine, o professor de química da Universidade Hebraica que aceitou Salameh como sua aluna, disse que entende as preocupações de segurança de Israel, mas que ficou desconcertado com a proibição. "Eu acho que é do interesse de Israel fortalecer a classe média palestina, e fortalecer as instituições acadêmicas nas áreas palestinas é uma forma garantida de obter isto", ele disse.
"Há uma tradição judaica que dá valor ao aprendizado. Ben-Gurion disse que queria que Israel fosse uma luz brilhante para todas as nações", ele disse, se referindo ao primeiro primeiro-ministro de Israel. "É preciso cumprir estas coisas."
"Tanto em sentimento como no frio pragmatismo, não é do nosso interesse agir desta forma", disse Levine em uma entrevista por telefone de Los Angeles, onde está lecionando na Universidade da Califórnia.
Enquanto isso, Salameh, um professora colegial de ciências, prossegue sua vida em Anata. Ela participa de reuniões como vereadora eleita e está trabalhando para estabelecer o primeiro centro para mulheres da aldeia.
Ela anseia pelo início do trabalho em seu doutorado e um dia se tornar um exemplo para outras mulheres e meninas palestinas, como a primeira
professora palestina de química na Cisjordânia.
Ela comparou sua busca à química. "É preciso olhar por um longo tempo para obter as respostas", ela disse. "Não é um processo direto. É preciso ser paciente, portanto eu serei paciente. Eu não desistirei."
Tradução: George El Khouri Andolfato
Israel impede novos estudantes palestinos em suas universidades.
sexta-feira, outubro 13, 2006
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