Neto de agricultores paraibanos, o advogado Toni Rabelo, 34 anos, vive com a mulher e dois filhos, de 7 e 14 anos, em Recife e começou a descobrir sua origem judaica quando veio trabalhar em São Paulo, há pouco mais de oito anos. Ele é um marrano, ou "criptojudaico", como ele mesmo prefere dizer. Foi justamente um hábito familiar e alimentar que o fez vasculhar a série de coincidências com os costumes judeus.
“Vim para São Paulo e fiquei quase três semanas sem comer carne. Disse isso a um amigo e expliquei que minha família tinha o hábito de ver o animal ser morto para comer e que, por isso, não me sentia seguro em comer carne em São Paulo”, explicou.
O advogado lembra, então, que o amigo lhe indicou um frigorífico pequeno, no bairro do Bom Retiro, região central de São Paulo, onde os animais eram abatidos para a comercialização. “Fui lá, conversei com o dono e pedi para ver o animal ser morto e assim comprar a carne para comer. Ele ficou curioso e expliquei que isso era comum na minha família. No mesmo frigorífico, conheci uma pessoa, hoje minha amiga, que me ajudou a entender as coincidências entre os costumes de minha família com os dos judeus.”
Depois disso, Rabelo passou a estudar o judaísmo. “Meus avós nunca souberam escrever o nome, mas sabiam da origem portuguesa de nossa família. Nossos costumes nunca eram comentados. Nem mesmo dentro de casa. Era assunto secreto. Depois de tanto estudar, passei a seguir o judaísmo. Me casei com uma moça que tem os mesmos hábitos que a minha família e criamos nossos filhos na comunidade judaica.”
Entre os hábitos mais comuns na família de Rabelo, não dar nome aos filhos logo que nascem é um deles. “Sempre esperamos sete dias para darmos nome aos filhos. Depois soubemos que isso tem um sentido cabalístico no judaísmo. Também enterramos o umbigo do bebê na porteira do curral. Depois soubemos ter o mesmo significado para os judeus, que é o de dar boa sorte à pessoa que nasce”, disse o advogado marrano.
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