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É impossível Líbano desarmar Hizbollah, afirma líder druso

 
GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

É impossível Líbano desarmar Hizbollah, afirma líder druso
Marcelo Ninio/Folha Imagem
Jumblatt em seu palácio em Mukhtara diante de uma foto do pai, Kamal, assassinado em 1977 supostamente pela Síria


Para Walid Jumblatt, Israel já perdeu a guerra, e Síria e Irã conseguiram tirar foco de si

Político libanês cujo pai foi assassinado supostamente pela Síria diz que poder de Nasrallah é resultado da opressão no mundo árabe

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A MUKHTARA (LÍBANO)
A influência do líder druso libanês Walid Jumblatt vai muito além das fronteiras de sua comunidade, que representa menos de 10% da população do país. Depois do assassinato do ex-premiê Rafik Hariri, em fevereiro do ano passado, Jumblatt emergiu como um dos artífices do Movimento 14 de Março, a coalizão pelo fim da presença síria no Líbano. O movimento conseguiu o que queria, mas a crise atual mostra que a Síria continua tendo poder -por meio do Hizbollah.
Jumblatt recebeu a Folha no espetacular palácio de seus ancestrais na cidade de Mukhtara. É aqui, na região montanhosa de Shuf, cerca de 40 km a sudeste de Beirute, que fica o reduto dessa dissidência do islamismo, adepta de uma filosofia esotérica que tem traços de hinduísmo.
Das arcadas do palácio, sob as quais reuniam-se centenas de correligionários vestidos com a roupa típica dos drusos -vagamente parecida com a bombacha dos gaúchos-, surgiu um homem de mais de 1,85 metro de altura, aparência deprimida e levemente curvado, trajando jeans e um surrado casaco de couro. A história de sua família e a forma como exerce o poder tribal é ilustrativa de uma sociedade que tem 17 comunidades oficialmente reconhecidas e é marcada pela divisão entre clãs.
A seguir, trechos da entrevista à Folha na qual Jumblatt afirma que Israel já perdeu a guerra, que é impossível desarmar o Hizbollah e que não tem medo de ter o mesmo fim do avô e do pai, vítimas de assassinatos políticos.
 
FOLHA - O sr. foi um dos principais líderes do movimento pela retirada da Síria do Líbano. Um ano depois, a Síria parece estar recuperando o poder de definir os rumos do país. O que deu errado?
WALID JUMBLATT
- Os sírios usaram o Hizbollah para deflagrar esta guerra, com o apoio do Irã. Se esse eixo sair vitorioso será às custas da independência do Líbano e da esperança dos libaneses de ter um país livre. Até agora os fatos mostram que o Hizbollah conseguiu derrotar Israel. Se a comunidade internacional conseguir um cessar-fogo, o governo libanês talvez possa exercer sua autoridade. Não há como garantir a independência do Líbano sem um governo central forte. Para que isso ocorra o Hizbollah tem de aceitar ser parte do Estado. Mas ele é um Estado dentro do Estado, com Exército próprio.
FOLHA - Qual o interesse da Síria em desestabilizar o Líbano?
JUMBLATT
- Os iranianos querem desviar a atenção do mundo de seu programa nuclear e de ter uma arma contra os EUA. O Irã tem ambições no Oriente Médio e no golfo Pérsico e está aumentando sua influência terrivelmente. E um de seus principais instrumentos políticos é o regime sírio, que também está usando o Hizbollah para mandar um recado ao Líbano. Dois terços dos libaneses disseram não à Síria no ano passado. O que os sírios querem evitar é uma corte internacional, o que nós estávamos conseguindo por meio da ONU. É claro que isso agora está sob risco. Há um ódio histórico do Bashar [Assad, ditador sírio] contra nós.
FOLHA - Os sírios e iranianos estão por trás desta guerra?
JUMBLATT
- Eles estão destruindo o país de forma indireta. O momento do seqüestro dos soldados israelenses não tem a ver somente com a troca de prisioneiros. Ele ocorreu após o fracasso da mediação entre a União Européia e o Irã em Bruxelas. Quando há uma guerra, é claro que o governo central [libanês] fica mais fraco.
FOLHA - Por que o assassinato do ex-premiê Rafik Hariri ainda não foi esclarecido?
JUMBLATT
- Há uma investigação internacional. Parte do cenário [pretendido] foi criar esta guerra para que a investigação fosse adiada. A maioria dos libaneses acusa a Síria pelo assassinato de Hariri e vários outros atentados políticos.
FOLHA - No ano passado o Líbano era apontado como o ponto de partida para a democratização do Oriente Médio. O que houve?
JUMBLATT
- Fizemos todos os esforços que podíamos. Tentamos persuadir o Hizbollah integrando-o ao governo, afirmando que eles deveria agir segundo o interesse libanês. Não foi um erro, mas uma ilusão, afinal de contas o Hizbollah é financiado e armado pelos iranianos e defende o regime sírio. Há um conflito de interesses.
FOLHA - Qual será o desfecho desta crise? O Hizbollah será desarmado?
JUMBLATT
- Não. Só depende do Hizbollah, que no momento é vitorioso, decidir se respeita o governo central ou se defende interesses estrangeiros no Líbano, da Síria e do Irã. Nós não temos esse poder.
FOLHA - O sr. está dizendo que é quase impossível para Israel vencer esta guerra?
JUMBLATT
- Israel já perdeu a guerra. Perdeu em 1982, perdeu em 2000, quando o Hizbollah conseguiu expulsá-lo daqui, e perdeu agora. O mito da invencibilidade do Exército israelense acabou. A única coisa que conseguiram fazer foi destruir o Líbano.
FOLHA - O que o sr. acha do fato de Hassan Nasrallah, líder do Hizbollah, ter virado um herói no mundo árabe?
JUMBLATT
- Posso entender isso. O mundo árabe é uma grande prisão. Os povos oprimidos buscam um herói. Mas o campo de batalha é o Líbano. Quando as massas são governadas por ditadores, elas não têm nenhum senso crítico e acabam liberando suas emoções em outras partes do mundo árabe. O Líbano é uma sociedade livre, e Nasrallah se beneficiou dessa liberdade. O mundo árabe está satisfeito às custas do incêndio do território libanês. O Golã está ocupado desde 1967 por Israel, e não vejo a Síria lutar contra isso. E não são só as massas, mas a chamada classe intelectual que acaba fazendo o mesmo. Noam Chomsky [lingüista e ativista político americano de esquerda], quando veio ao Líbano, foi visitar Nasrallah. Posso entender que a Universidade de Columbia [Nova York] seja um lugar agradável de se viver e trabalhar. Tudo bem que ele odeie Bush, mas Chomsky não está pensando no Líbano. É o mesmo com Azmi Bishara [membro palestino do Parlamento israelense]. Ele se beneficia da democracia israelense para apoiar o regime sírio contra o Líbano.
FOLHA - A vitória do Hizbollah pode beneficiar o Líbano?
JUMBLATT
- A questão crucial é se eles vão oferecer a vitória ao Estado libanês ou ao regime sírio e às ambições iranianas. Ela será benéfica se reforçar a autoridade central. Será ruim se conduzir a um golpe de Estado que leve ao retorno da influência síria sobre o Líbano.
FOLHA - Com suas críticas abertas ao Hizbollah e à Síria o sr. não teme ter o mesmo fim do seu pai?
JUMBLATT
- Meu pai foi assassinado pela Síria. Mas eu não posso ter medo. Tenho de continuar lutando pelo que acredito.

 
 
FRASE

Os iranianos querem desviar a atenção do mundo de seu programa nuclear. O Irã tem ambições no Oriente Médio e no golfo Pérsico e está aumentando sua influência terrivelmente. E um de seus principais instrumentos políticos é o regime sírio, que também está usando o Hizbollah para mandar um recado ao Líbano
 
 
 
FRASE

Fizemos todos os esforços que podíamos. Tentamos persuadir o Hizbollah integrando-o ao governo, afirmando que eles deveria agir segundo o interesse libanês. Não foi um erro, mas uma ilusão, afinal de contas o Hizbollah é financiado e armado pelos iranianos e defende o regime sírio. Portanto, há um conflito de interesses
 

 

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