Yossi Alpher*
Em um dos discursos mais memoráveis de Hassan Nasrallah, há dois anos, o carismático líder do Hezbollah comparou a sociedade israelense a uma teia de aranha: complexa, elegante, mas frágil e passível de ser destruída com uma passada de mão. *Yossi Alpher foi diretor do Jaffee Center for Strategic Studies e consultor do ex-primeiro-ministro Ehud Barak. Atualmente, co-edita os sites bitterlemons.org e bitterlemons-international.org. Escreveu este artigo para o 'International Herald Tribune '
A estratégia militar de Israel no combate ao Hezbollah pode parecer dura e pouco imaginativa, e suas chances de resultar num acordo político aceitável são certamente problemáticas.
Mas, embora o governo de Ehud Olmert esteja basicamente seguindo o padrão de seus predecessores em termos de objetivos militares, ele adotou uma estratégia bastante inovadora e até agora bem-sucedida para provar a Nasrallah que o meio civil israelense é muito, muito mais resistente que uma teia de aranha.
No que toca ao público israelense, Olmert está abatendo vacas sagradas com o objetivo de incorporar o escalão civil num perfil dissuasor israelense reforçado, que fará o Hezbollah e o Hamas pensarem duas vezes antes de atacar de novo.
Primeiro, Olmert disse à retaguarda civil israelense que ela precisa se sacrificar para esta guerra dar certo. Aliás, ele anunciou que suas decisões estratégicas não serão influenciadas por baixas civis. Isso depois de sucessivos primeiros-ministros nos últimos seis anos terem evitado desafiar o arsenal de foguetes do Hezbollah e a operação de suprimento de foguetes do Irã ao Líbano precisamente por temer pela segurança da população israelense.
Segundo, Olmert anunciou que quebrará o precedente e não pagará um resgate humano desproporcional (soltando centenas de prisioneiros árabes de prisões israelenses) pelos três soldados israelenses retidos pelo Hamas e pelo Hezbollah. Ele aspira a ficar imune às pressões das famílias aflitas desses soldados, do público em geral que simpatiza com eles, e mesmo do Exército, que se orgulha de jamais abandonar um soldado.
Olmert, o ministro da Defesa, Amir Peretz, e o alto escalão militar também deixaram claro que os israelenses não ocuparão território palestino ou libanês - outro precedente em tempos de guerra. Note-se que cada unidade do Exército que entra na Faixa de Gaza se retira em poucos dias.
Os estrategistas de guerra de Israel entendem que um dos objetivos dos radicais islâmicos é arrastar o Exército para uma ocupação em que seus soldados possam ser de novo atacados por guerrilheiros apoiados por uma população hostil a Israel, sem um plano de saída viável, até que o público israelense fique cheio da ocupação e peça a retirada a qualquer preço.
O perfil dissuasor reforçado que Olmert pretende oferecer em termos de poder militar e de determinação civil visa não só a impedir futuros seqüestros e lançamentos de foguetes. Olmert espera também emergir desta crise com seu plano de convergência na Cisjordânia mais forte do que nunca.
Daqeui para a frente, ele será respaldado pelo reconhecimento árabe de que a retirada de territórios ocupados, longe de indicar uma fraqueza israelense, reflete, na verdade, uma sociedade forte, capaz de infligir um castigo extremamente duro a seus atacantes e absorver o que de mais forte o Hezbollah e Hamas podem lhe infligir. Eles saberão que Israel pode agüentar uma guerra precisamente porque foi atacado dentro de limites internacionalmente reconhecidos.
Por enquanto, a população correspondeu ao desafio de Olmert. Mais de 80% dos israelenses apóiam sua estratégia. Esse apoio quase certamente se enfraquecerá se os objetivos mais amplos de Israel com respeito ao Hamas e ao Hezbollah não forem atingidos em breve. Também não estão claras quais iniciativas quanto aos palestinos Olmert realmente será capaz de invocar quando isto acabar.
Mas, ao menos por enquanto, é importante notar como a primeira equipe de liderança inteiramente civil de Israel em muitas décadas, sem experiência significativa na tomada de decisões sobre segurança nacional e com pouco mais de 100 dias no governo, entendeu bem os sentimentos da população e, de fato, a liderou.