Saída do Líbano serviu de modelo para o Hamas
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
A ruidosa campanha montada pela direita israelense no ano passado, em oposição à retirada de Gaza liderada pelo ex-premiê Ariel Sharon, repetiu exaustivamente um precedente que considerava perigoso: a saída do sul do Líbano, em maio de 2000, que pôs fim a 22 anos de ocupação também de forma unilateral. O argumento era que, assim como a retirada israelense do Líbano permitiu que o Hizbollah assumisse o fim da ocupação como resultado de sua resistência armada, o Hamas e seus métodos terroristas também sairiam fortalecidos.
Seis meses depois, com Sharon já em estado de coma e o atual premiê, Ehud Olmert, interinamente no cargo, a tese ganhou o respaldo das urnas quando o Hamas venceu de forma categórica as eleições palestinas. Sua campanha vitoriosa foi baseada em dois pontos: críticas à corrupção do Fatah -a facção de Yasser Arafat que por quatro décadas dominou o nacionalismo palestino- e exaltação da "resistência" que levou Israel a desocupar a faixa de Gaza.
Apesar de suas diferenças religiosas -o Hamas é sunita, o Hizbollah é xiita-, ambos se encontram na luta intransigente contra Israel, que consideram um organismo estranho que deve ser extirpado do Oriente Médio. Em comum também têm o fato de figurarem na lista de grupos terroristas do governo americano.
Ideologicamente unidos na luta contra Israel, Hamas e Hizbollah têm no Irã um generoso patrocinador. "O Hizbollah, que é uma espécie de terceirização do Irã, tem a chance de demonstrar sua capacidade de liderar o combate contra Israel, fortalecer o Hamas e criar uma guerra em duas frentes", disse à Folha Nahum Barnea, o mais conhecido repórter político de Israel, atualmente atuando como pesquisador do Centro de Estudos Saban, do Brookings Institution, em Washington.
Olhos em Teerã
Para Barnea, todos os olhos devem se voltar para Teerã. "Até agora o Irã é o grande vencedor. O envolvimento do Hizbollah representa um problema formidável para Israel e um problema nada desprezível para o resto do mundo."
Eyal Zisser, chefe do Departamento de Oriente Médio e Estudos Africanos da Universidade de Tel Aviv, considera que a entrada em cena do Hizbollah reflete o temor do líder do movimento, o xeque Hassan Nasrallah, de ficar isolado, caso a crise seja resolvida por meios diplomáticos.
"Nasrallah aproveitou a oportunidade para, mais uma vez, reivindicar um papel central nos assuntos da região", disse Zisser ao jornal israelense "Yediot Ahronot". Ele vê a ação como uma aposta arriscada. "Até agora o Hizbollah atuava em uma área cinzenta, alegando que seus alvos em Israel eram legítimos, mas garantindo que o Líbano não sairia perdendo. Se ficar claro que o grupo foi longe demais e Israel retaliar duramente, o Hizbollah pagará o preço."
Hamas e Hizbollah mantêm programas sociais amplos, o que reforçou sua penetração nas camadas carentes da população e permitiu a criação da base eleitoral sobre a qual se tornaram partidos políticos bons de voto. Na luta armada, o grupo libanês também serve de modelo para os palestinos: o seqüestro de soldados israelenses para serem trocados por prisioneiros é uma prática há muito usada pelo Hizbollah.
DA REDAÇÃO
A ruidosa campanha montada pela direita israelense no ano passado, em oposição à retirada de Gaza liderada pelo ex-premiê Ariel Sharon, repetiu exaustivamente um precedente que considerava perigoso: a saída do sul do Líbano, em maio de 2000, que pôs fim a 22 anos de ocupação também de forma unilateral. O argumento era que, assim como a retirada israelense do Líbano permitiu que o Hizbollah assumisse o fim da ocupação como resultado de sua resistência armada, o Hamas e seus métodos terroristas também sairiam fortalecidos.
Seis meses depois, com Sharon já em estado de coma e o atual premiê, Ehud Olmert, interinamente no cargo, a tese ganhou o respaldo das urnas quando o Hamas venceu de forma categórica as eleições palestinas. Sua campanha vitoriosa foi baseada em dois pontos: críticas à corrupção do Fatah -a facção de Yasser Arafat que por quatro décadas dominou o nacionalismo palestino- e exaltação da "resistência" que levou Israel a desocupar a faixa de Gaza.
Apesar de suas diferenças religiosas -o Hamas é sunita, o Hizbollah é xiita-, ambos se encontram na luta intransigente contra Israel, que consideram um organismo estranho que deve ser extirpado do Oriente Médio. Em comum também têm o fato de figurarem na lista de grupos terroristas do governo americano.
Ideologicamente unidos na luta contra Israel, Hamas e Hizbollah têm no Irã um generoso patrocinador. "O Hizbollah, que é uma espécie de terceirização do Irã, tem a chance de demonstrar sua capacidade de liderar o combate contra Israel, fortalecer o Hamas e criar uma guerra em duas frentes", disse à Folha Nahum Barnea, o mais conhecido repórter político de Israel, atualmente atuando como pesquisador do Centro de Estudos Saban, do Brookings Institution, em Washington.
Olhos em Teerã
Para Barnea, todos os olhos devem se voltar para Teerã. "Até agora o Irã é o grande vencedor. O envolvimento do Hizbollah representa um problema formidável para Israel e um problema nada desprezível para o resto do mundo."
Eyal Zisser, chefe do Departamento de Oriente Médio e Estudos Africanos da Universidade de Tel Aviv, considera que a entrada em cena do Hizbollah reflete o temor do líder do movimento, o xeque Hassan Nasrallah, de ficar isolado, caso a crise seja resolvida por meios diplomáticos.
"Nasrallah aproveitou a oportunidade para, mais uma vez, reivindicar um papel central nos assuntos da região", disse Zisser ao jornal israelense "Yediot Ahronot". Ele vê a ação como uma aposta arriscada. "Até agora o Hizbollah atuava em uma área cinzenta, alegando que seus alvos em Israel eram legítimos, mas garantindo que o Líbano não sairia perdendo. Se ficar claro que o grupo foi longe demais e Israel retaliar duramente, o Hizbollah pagará o preço."
Hamas e Hizbollah mantêm programas sociais amplos, o que reforçou sua penetração nas camadas carentes da população e permitiu a criação da base eleitoral sobre a qual se tornaram partidos políticos bons de voto. Na luta armada, o grupo libanês também serve de modelo para os palestinos: o seqüestro de soldados israelenses para serem trocados por prisioneiros é uma prática há muito usada pelo Hizbollah.