
O Hamas, grupo militante que controla a Autoridade Palestina, e a Liga Árabe estão tentando solucionar a crise financeira por que passa a entidade palestina com uma medida pouco ortodoxa.
A idéia é que a Liga Árabe pague diretamente os salários dos funcionários da Autoridade Palestina, sem que o dinheiro passe pelo Hamas.
O plano para transferir o dinheiro da Liga diretamente para as contas bancárias dos funcionários palestinos é uma tentativa de contornar as ameaças dos Estados Unidos contra bancos que façam negócios com o Hamas.
Cerca de US$ 70 milhões enviados por países árabes para estancar a crise ainda não foram usados para pagar os salários atrasados desde março por causa dos temores de bancos árabes de que poderão sofrer sanções americanas.
Diplomatas ocidentais disseram à agência de notícias Reurers, entretanto, que Washington estaria tentando bloquear o plano.
A crise nas finanças da Autoridade Palestina se agravou desde a eleição do Hamas porque Estados Unidos e União Européia – que consideram o grupo "terrorista" – suspenderam a ajuda econômica à organização.
Tanto os americanos como os europeus exigem que o Hamas reveja a sua política e reconheça o direito de existência de Israel. Atualmente o grupo prega a destruição do Estado israelense.
Economia palestina
A Autoridade Palestina tem cerca de 165 mil empregados na sua folha de pagamentos, com a qual gasta US$ 116 milhões.
A ONU estima que um quarto da população dos territórios ocupados dependa desses ordenados e tem alertado que a situação humanitária e as condições de segurança vão se deteriorar rapidamente se eles não forem pagos logo.
Representantes da AP disseram à agência Reuters que o Ministério das Finanças já enviou uma lista com os nomes dos funcionários públicos que não recebem desde março e os seus detalhes bancários à Liga Árabe.
"Eu posso dizer que logo, logo nós vamos acabar com a crise dos salários", disse o primeiro-ministro palestino, Ismail Haniya, à Reuters.
O presidente francês, Jacques Chirac, defendeu a criação de um fundo do Banco Mundial especialmente para pagar os funcionários palestinos.
A proposta foi apoiada pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que pertence ao Fatah, outra facção da política palestina. O Hamas disse que ia considerar a idéia, mas os Estados Unidos já indicaram que são contra.
Em outro desdobramento, a agência de notícias Reuters diz ter obtido uma cópia do relatório final do ex-enviado especial do "quarteto da paz" (EUA, UE, Rússia e ONU), James Wolfensohn, em que ele questiona a decisão ocidental de cortar fundos à Autoridade Palestina.
Wolfensohn, que já foi presidente do Banco Mundial, deixou o posto no fim de semana alegando a dificuldade de trabalhar com as restrições ao seu trabalho como coodenador econômico para Gaza desde a eleição do Hamas.
"Eu ficaria surpreendido se alguém pudesse ganhar (uma briga) tirando todas as crianças da escola e condenando os palestinos à fome. E eu não acho que ninguém no Quarteto acredita que a política seja essa", disse o ex-enviado en uma entrevista coletiva em Washington.
No relatório obtido pela Reuters, o ex-enviado pergunta se, após ter investido US$ 1 bilhão para construir instituições e uma economia necessária para um "Estado palestino viável", "nós vamos simplesmente abandonar esses objetivos?".
Wolfensohn diz ainda que os fundos da Liga Árabe proverão apenas un alívio temporário e que a ONU e as ONGs humanitárias não serão capazes de preencher um vácuo eventualmente deixado pelo colapso, por causa da pressão ocidental, das instituições palestinas.