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Fanatismo no Irã: Ahmadinejad desafia o mundo
O novo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, simplesmente não pára. Parece que a cada semana ele provoca Israel e o Ocidente um pouco mais. Mas o que pode ser feito? Muita gente espera que os mulás iranianos resolvam, eles próprios, o problema

Dieter Bednarz, Erich Follath e Georg Mascolo

O "Paraíso de Sahra" fica a sudeste de Teerã, na principal estrada para Ghom. Muros altos cercam o amplo terreno, como se para protegê-lo da pobreza que o cerca. A idéia é que esse paraíso não tenha contato com nenhum sinal de sofrimento humano. É um mundo em si mesmo. Um mundo de morte.

Reuters  
Presidente iraniano chegou a afirmar que o Holocausto, o massacre de 6 milhões de judeus pelos nazistas, é apenas um mito
"Behesht-a Sahra" é provavelmente o maior cemitério de mártires do mundo islâmico. Cerca de 30 mil iranianos que deram as suas vidas pela revolução e pela teocracia estão enterrados aqui. Entre os mortos há desde garotos pálidos, que foram mandados para campos minados durante a guerra Irã-Iraque, até clérigos poderosos que foram assassinados por oponentes do regime. Cada sepultura é um lamento, mas também uma declaração de fé no islamismo, na teocracia e na revolução iranianas.

Os mártires estão enterrados aqui à sombra do aiatolá Ruhollah Khomeini, cuja revolução islâmica derrubou o xá, e cujo mausoléu é visível à grande distância.

O próprio aiatolá ordenou que não fosse sepultado longe dos pobres, em um último gesto de consideração para com os "soldados descalços" da sua revolução que, mais de um quarto de século após a criação da república islâmica, ainda aguarda o cumprimento da promessa das bênçãos mundanas.

Enquanto a aristocracia de mulás na afluente zona norte da capital enriqueceu desde a revolução iraniana, que ocorreu no inverno de 1979, aos pobres do país restou pouco mais do que a esperança em uma vida melhor após a morte.

Mas, quase que como se não tivessem experimentado uma dose suficiente de revolução e guerra, são exatamente os perdedores e os desesperados, as vítimas da guerra e as permanentes subclasses da sociedade iraniana que invocam o espírito do imame com cada flor colocada no sepulcro de um mártir, e com cada oração feita no mausoléu do aiatolá.

Foram também os pobres e os miseráveis que, em uma expressão da sua fé na revolução, ajudaram a eleger presidente do Irã um homem que vê em si o verdadeiro herdeiro de Khomeini: Mahmoud Ahmadinejad.

"Limpador de ruas do povo"

Ahmadinejad, filho de um ferreiro, é mais religiosamente fanático do que qualquer outro presidente desde o início da república islâmica. Uma das suas promessas de campanha foi fechar a bolsa de valores, porque, de acordo com sua argumentação, ela viola a proibição islâmica de jogos.

Em uma tentativa de conseguir votos, Ahmadinejad prometeu aos camponeses que trabalham nas fazendas de produção de pistache uma reforma agrária em nome da justiça islâmica. Já aos moradores pobres das cidades ele prometeu a posse parcial das companhias estatais.

Ele ofereceu aos xiitas mais devotos imagens de um retorno do falecido 12º imame, chegando a desenhar, de próprio punho, um mapa mostrando a rota que esse messias seguirá quando retornar para os fiéis crentes xiitas.

E durante o seu discurso na Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro, no qual ele investiu contra aquilo que chamou de política norte-americana de "apartheid nuclear", e exigiu que o seu país tivesse o direito de implementar integralmente o seu programa atômico, ele chegou até mesmo a alegar que fora iluminado.

Ahmadinejad garantiu que se viu rodeado por uma luz enquanto discursava na ONU, e os líderes mundiais olharam para ele "como se estivessem paralisados".

De fato, o comportamento de Ahmadinejad tem causado estranheza em todo o mundo. Até mesmo os seus apoiadores em Teerã estão balançando a cabeça. No entanto, por mais solitário que ele pareça estar, seria um grave erro não levá-lo a sério.

Ahmadinejad, o conservador, que se autoproclamou o "limpador de ruas do povo", prometeu usar uma vassoura de ferro para varrer tudo o que há de impuro na sua sociedade, e tem revelado um ódio sem precedentes contra Israel. A sua retórica se tornou tão inflamada que --mesmo em um país no qual a condenação do Estado judeu e os desejos de morte aos Estados Unidos se tornaram rotineiros-- dá a impressão de ser excessiva.

Em um discurso transmitido pela televisão estatal na semana passada, o novo presidente fanático do Irã contestou - pela terceira vez - o direito de Israel à existência. Segundo Ahmadinejad, o Holocausto é um "mito" que o Ocidente "inventou", de forma a poder criar o Estado judeu "no centro do mundo islâmico".

O que fazer?

Anteriormente, em uma conferência chamada "O Mundo sem o Sionismo", Ahmadinejad, citando o seu modelo Khomeini, exigiu que Israel fosse "varrido do mapa". Depois, em uma conferência em Meca, ele propôs que o problema palestino fosse resolvido com a transferência do Estado de Israel para a Alemanha ou a Áustria.

Os comentários antiisraelenses de Ahmadinejad geraram uma poderosa e unânime onda de indignação. O presidente francês Jacques Chirac e todos os seus colegas europeus se sentiram ultrajados, bem como o normalmente cauteloso secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e o papa Bento 16.

A retórica do presidente iraniano também fez com que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, voltasse a caracterizar o Estado dos mulás como parte do seu "Eixo do Mal". De fato, se o governo em Washington está irritado, esses incidentes também encorajarão os seus aliados europeus a seguirem a liderança norte-americana e imporem rapidamente sanções contra o Irã.

Resta saber, entretanto, que tipo de sanções seriam essas. Afinal, qualquer providência que não fosse um embargo ao petróleo provavelmente não surtiria efeito. "Precisamos de uma ameaça convincente", disse o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, durante uma visita oficial a Washington.

Mas um embargo ao petróleo é a última coisa da qual os Estados Unidos necessitam. A China e o Japão, dois dos maiores clientes de Teerã, dificilmente aceitariam a medida, e o conseqüente aumento pronunciado dos preços do petróleo também prejudicaria a economia dos Estados Unidos.

Além disso, os iranianos, durante negociações anteriores com os europeus, indicaram que uma escalada do conflito poderia facilmente se tornar muito perigosa para o Ocidente. O Irã conta com um arsenal de mais de 2.000 minas marítimas, com as quais a marinha iraniana poderia facilmente fechar o crucial Estreito de Ormuz. "Isso faria com que a economia mundial batesse no teto", alerta Michael Mazarr, do Colégio Nacional de Guerra, com sede em Washington.

Daniel Cohn-Bendit, membro do Parlamento Europeu e do Partido Verde Europeu, sugeriu que o Irã seja excluído da Copa do Mundo de Futebol. Thomas de Maizière, chefe do gabinete da chanceler alemã Angela Merkel, surpreendentemente disse que a proposta de Cohn-Bendit é "uma idéia interessante", frisando, entretanto, que só poderia ser implementada pelo mundo do esporte.

Em um artigo no semanário "Welt am Sonntag", Maizière anunciou que o governo alemão pretende estudar a aplicação de "medidas contra o Irã no âmbito das Nações Unidas". Ao dar esse passo, os alemães esperam encorajar a União Européia a lançar uma iniciativa conjunta.

Israel preocupado

O governo israelense tem estado comparativamente silencioso com relação ao problema, o que fez com que crescessem as especulações de que a reticência israelense seria um sinal de que o primeiro-ministro Ariel Sharon estaria planejando secretamente um ataque preventivo contra o Irã.

Há muito tempo Israel está convencido de que o Estado dos mulás busca vigorosamente a fabricação de armas nucleares, e que
Teerã deveria ser impedida, de forma proporcionalmente vigorosa, de atingir essa meta.

Em uma tentativa de intensificar a condenação internacional ao suposto programa nuclear iraniano, Israel recentemente começou a usar fontes de inteligência para fornecer informações sobre o programa nuclear de Teerã à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em Viena, chegando até mesmo a entregar aos inspetores da agência imagens obtidas por satélites espiões israelenses de locais suspeitos de serem instalações ligadas a atividades nucleares.

Até recentemente, Israel, uma potência nuclear que não faz parte da AIEA, acusava o diretor da agência e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Mohammed ElBaradei, de ser muito leniente com Teerã. Mas, em uma reversão dessa postura, Jerusalém de repente vê em ElBaradei um potencial aliado.

Em um discurso ao parlamento israelense, o Knesset, na última terça-feira, o chefe geral do gabinete israelense, Dan Hanuz, advertiu que o Irã será capaz de enriquecer uma quantidade suficiente de urânio com um grau de pureza para fazer armas atômicas nos próximos três meses, a fim de fabricar bombas nucleares modernas. No entanto, os especialistas acreditam que Teerã ainda enfrenta "obstáculos significantes" para que possa desenvolver a sua primeira arma nuclear capaz de ser lançada contra outros países.

Até agora, Benjamin Netanyahu, o oponente conservador de Sharon, foi o único grande político israelense a solicitar que se "pense em um ataque militar preventivo". O próprio primeiro-ministro não fez comentários sobre qualquer ataque planejado, chegando apenas a dizer, na semana passada, que "as forças armadas israelenses têm condições de prevenir uma segunda solução final".

Mas um ataque às instalações nucleares de Teerã seria altamente arriscado. Em 1981, jatos de caça israelenses conseguiram acabar por vários anos com as ambições nucleares do então ditador Saddam Hussein, quando, com um único ataque ousado, destruíram o reator nuclear do complexo de pesquisas iraquiano de Tuweitha, próximo a Bagdá.

Para se obter um efeito similar no Irã, seriam necessários ataques bem-sucedidos contra pelo menos doze alvos. O governo de Teerã espalhou a sua estrutura de produção nuclear por todo o país, construindo instalações-chave em sítios subterrâneos bem protegidos.

Mordechai Kedar, professor de estudos árabes em Ramat Gan, leva a retórica de Teerã bastante a sério. Ele encara as provocações de Ahmadinejad como a expressão do "teísmo nuclear" que atualmente prevalece em Teerã.

De acordo com Kedar, uma compreensão do conceito de Welayat-e Fakih --as supremacia dos acadêmicos religiosos-- é fundamental para que se entenda o poder dos mulás. Ele afirma que, segundo esse conceito, o poder de um governo dos devotos é uma expressão da vontade de Deus, tornando o regime "isma" --ou infalível.

As preocupações de Israel derivam primariamente da convicção de que o discurso de ódio disseminado pelo líder político de cerca de 70 milhões de iranianos é mais do que apenas conversa fiada. Muitos vêem a iniciativa de Ahmadinejad de retirar cerca de 40 diplomatas iranianos de várias capitais ocidentais --diplomatas que ele acreditava não abraçarem integralmente a sua agenda radical-- como sendo uma prova de que ele é capaz de agir com base nas suas aparentes convicções.

Até os mulás estão preocupados

Observadores no Ocidente estão começando gradualmente a temer que sanções, ou mesmo ataques militares, não sejam suficientes para lidar com um fanático como Ahmadinejad. Confrontar os infiéis em uma batalha incondicional --tanto melhor se tal batalha terminar com a morte de um mártir-- é uma das facetas mais importantes da vida religiosa do presidente.

Mais do que qualquer outro líder desde Khomeini, Ahmadinejad encarna a visão xiita de mundo, segundo a qual se atinge a redenção por meio do sofrimento. Para fanáticos como Ahmadinejad, aqueles preparados a fazer sacrifícios --ainda que isso implique no sacrifício da própria vida-- podem esperar ser recompensados com a maior proximidade possível de Deus.

Como seguidor devoto de Khomeini, Ahmadinejad rapidamente conseguir se transformar de pessoa de origens modestas em um astro em ascensão - primeiro junto à Pasdaran, a guarda revolucionária iraniana, e mais tarde junto à Bassij, a temida milícia paramilitar de linha dura.

Após obter um doutorado em planejamento de transportes, Ahmadinejad entrou para a política quando fundou a "Sociedade dos Devotos da Revolução Islâmica", uma mistura de seguidores ultra-ortodoxos de Khomeini. Eles acabaram se transformando em apoiadores de Ahmadinejad. Primeiro o elegeram prefeito de Teerã, e, mais tarde, juntamente com um grande número de ex-integrantes e membros da ativa da Pasdaran e da Bassij, presidente do país.

Não se sabe se os clérigos iranianos são suficientemente poderosos para usarem o poder desse fanático popular em benefício próprio. O principal líder religioso do país, aiatolá Khamenei, já advertiu o seu protegido, avisando que ele foi eleito "para resolver os problemas sociais do país, e não para entrar em guerra com Israel". Ao mesmo tempo, Khamenei aumentou os poderes do Conselho de Conveniência, cuja função é fiscalizar o governo.

O ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, que se acredita que seja o segundo homem mais poderoso do país, controla esse conselho. Após perder para Ahmadinejad no segundo turno da eleição presidencial, Rafsanjani está agora aproveitando todas as oportunidades para humilhar o seu adversário.

"Não temos nenhum problema com os judeus", disse Rafsanjani na semana passada, em uma tentativa de reduzir a indignação global com as declarações de Ahmadinejad. De fato, o Irã possui mais de 30 mil cidadãos judeus que vivem no país sem serem praticamente incomodados, freqüentando as suas sinagogas e até mesmo contando com representação política no parlamento iraniano.

E até a maioria conservadora no parlamento está tornando a vida difícil para Ahmadinejad, forçando-o a apresentar quatro candidatos para o cargo de ministro do Petróleo, antes de aprovar um nome --o que se constitui nitidamente em um reflexo da repulsa à idéia de entregar o controle sobre as receitas advindas do petróleo a um seguidor leal de Ahmadinejad.

Existem até mesmo boatos circulando em Teerã segundo os quais os dias de Ahmadinejad estariam contados, e forças pragmáticas no seio do regime estariam se preparando para dar um golpe. Aparentemente, a elite política iraniana quer impedir que esse presidente faça com que o país intensifique a posição de pária no cenário internacional.

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