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Surpresa

Os amigos de Yechiel Nahari planejaram-lhe uma surpresa: trouxeram sua mãe do Iêmen para assisti-lo desfilar na parada de sua formatura.

Por Yehudit Yechezkeli, no Yediot Ahronot

Ontem, pela manhã, o recruta da Polícia das Fronteiras, de 19 anos de idade, imaginava que o evento mais empolgante que o aguardava naquela manhã seria a cerimônia que marcava o fim de seu treinamento básico. Estava redondamente enganado! Seus comandantes e companheiros de Batalhão lhe tinham preparado uma surpresa muito mais emocionante…

A parada de formatura da Polícia das Fronteiras, ontem realizada nas redondezas do Moshav Hadid e de Lod, começou como todas as demais cerimônias militares. Pais e mães, sentados nas arquibancadas de concreto, e bem equipados com cestas com guloseimas e máquinas fotográficas, aguardavam pela entrada dos novos formandos na praça.

A cerimônia começou precisamente às 13:00 horas. Os comandantes saudaram os soldados após terem sido condecorados com suas patentes e insígnias. Em seu pronunciamento, o Comandante da Polícia das Fronteiras, General-de- Divisão Hasin Faris, afirmou: “Os soldados da Polícia das Fronteiras são a sentinela avançada na guerra contra o crime e na defesa das fronteiras de Israel”.

Terminou seu discurso dizendo: “Concluo com uma mensagem pessoal aos pais. Vocês depositaram sob nossos cuidados o que tinham de mais precioso – os seus filhos. Estejam certos de que faremos todo o possível para mantê-los afastados de qualquer perigo; e peço a sua licença para me desviar de todo o protocolo imposto pelo cerimonial militar. Não somos apenas conhecidos por ser uma corporação unida, mas também uma família carinhosa – e fazemos por manter esta reputação”.

Yechiel Nahari, da Companhia Dror, foi instado a dar um passo à frente, enquanto o Comandante continuava: “Trouxemos-lhe sua mãe, de lá do Iêmen”. Incrédulo e boquiaberto, Yechiel arregalou os olhos para aquela senhora, trajada com a vestimenta típica iemenita, que vinha em sua direção.

Ele não a via há 12 anos, desde quando tinha apenas 7 anos, lá no Iêmen...

Incapaz de controlar sua emoção, Yechiel irrompeu em lágrimas, no que foi acompanhado por muitos da platéia. Até o mais durão entre os soldados da Polícia das Fronteiras não conseguiu conter a emotividade. “Vi-a caminhar em minha direção e não conseguia acreditar em meus olhos. Era minha mãezinha, a quem eu não via desde que deixara o Iêmen, ainda criança. Olhei-a fixamente, atônito, sem poder impedir as lágrimas, Yechiel contaria mais tarde. Ele e a mãe ficaram abraçados por vários minutos. “Não chora, filho. Um soldado não gosta de ser visto chorando”, pediu-lhe a mãe. “Espera até estarmos sós e choraremos junto, abraçados”.

Os responsáveis pela operação sigilosa da vinda da mãe de Yechiel do Iêmen foram seus comandantes e amigos, chefiados por Zohar Bushari, Sargento-Ajudante da Escola de Treinamento da Polícia das Fronteiras. “Conheci Yechiel através de um amigo dele que também viera do Iêmen, há dez anos, e era um de meus recrutas um semestre antes da chegada de Yechiel”. “Ele vivia sozinho em um apartamento alugado, em Rehovot. Eu e minha mulher, Ronit, nos apaixonamos por ele logo à primeira vista e o apresentamos à Polícia das Fronteiras. Sugerimos, também, que durante o treinamento básico ele passasse seu tempo livre conosco. Foi assim que conhecemos sua irmã, Tzan'a, que vive com o marido e os filhos no Moshav Avnei Hefetz. Lá pelo final do período de treinamento básico, começamos a dar corpo à idéia de trazer sua mãe para a parada de formatura. Itzik Peretz, pai de um outro recruta, ofereceu-se para arrecadar US$ 2.000 para financiar o projeto.

Foram auxiliados por Shlomo Grafi, responsável pelo resgate dos últimos judeus remanescentes no Iêmen e por trazê-los para Israel. Grafi, obviamente comovido, disse ontem: “Tenho acompanhado o Yechiel – na época, Yichye – desde que ele era um jovem abandonado em um abrigo para crianças, nos EUA. Seu pai morrera no Iêmen, quando ele tinha apenas 7 anos, deixando a mãe, Laúda, sozinha com 6 filhos.

Os Chassidim de Satmar prometeram à mãe que seus filhos teriam uma boa educação e os levaram para os Estados Unidos. Yechiel foi logo separado de seus 2 irmãos e 1 irmã, que tinham ido junto. Ele foi forçado a falar o iídiche e a abandonar seus costumes e raízes iemenitas. Quando se revoltava, era humilhado e surrado. Conseguiu fugir do grupo Satmar e foi então que o encontrei, abandonado e vagando pelas ruas de Nova York. Trouxe-o a Israel quando estava com 14 anos. Desde então ele mora com a irmã, que naquele ínterim emigrara para Israel. De criança miserável e abandonada, ele se desenvolvera, tornando-se um israelense de primeira linha e um soldado exemplar, grandemente admirado por seus amigos e comandantes”.

Na segunda-feira passada, Grafi trouxe Laúda para Israel através da Jordânia. Ela ficará um mês antes de retornar ao Iêmen. Disse que apenas emigraria para Israel após voltar a se reunir com suas duas filhas mais novas que foram forçadas a desposar iemenitas da região e se converter ao islamismo. “Pretendemos ajudá-la a se encontrar com os dois filhos que estão nos Estados Unidos. Pode ser que ela até consiga trazer essas duas filhas que estão no Iêmen e, assim, ter toda a sua família reunida em Israel”, agregou Bushari.

Ontem, ao término da cerimônia, a família toda sentou-se na grama, como os demais grupos familiares – Laúda e Yechiel, a filha Tzan'a e Zachi, seu genro. Comeram uma refeição tradicional iemenita, que incluía kubana, jachnun e grande quantidade de schug. Os olhos de Yechiel brilhavam de alegria – finalmente ele não estava só. “Não houve um momento sequer em que eu não estivesse pensando em minha mãe. Quando a vi descendo as escadas em minha direção, fiquei assombrado. Não quis acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo, que não era apenas um doce devaneio. Mas era a minha mãe querida, aquela que aparecia em meus sonhos. Não havia mudado nada. E ela foi-se aproximando de mim e quando me abraçou, apertado contra seu regaço, e me beijou, não pude mais me conter e desatei em um pranto há muito acumulado... Soldados não choram, sei disso. Mas sentia tanto a sua falta e, de repente, fiquei tão feliz de vê-la, que perdi totalmente o auto-controle”.

O garoto do pôster

Em 1992, Arik Haddad, ex-presidente do Conselho Municipal de Kiryat Ekron e, hoje, assessor sênior do Ministro Binyamin Ben Eliezer, viajou para conhecer os últimos remanescentes do judaísmo iemenita. Conheceu a família Nahari, fotografando o pequeno Yichye (Yechiel). A fotografia foi publicada em um pôster distribuído em todo o mundo pela Agência Judaica, com a seguinte legenda: “Não se esqueçam, de mim – Judeus Iemenitas pró Israel”.

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