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Escritor Saul Bellow

Escritor Saul BellowEscritor Saul Bellow, decano das letras americanas, morre aos 89 anos. Romancista de sucesso venceu prêmio Nobel de literatura em 1976

Saul Bellow, o Nobel de literatura e autoproclamado historiador da sociedade, cujos heróis fictícios --e cujo exame mordaz, implacável e sombriamente cômico de sua luta por significado-- deram nova relevância ao romance americano na segunda metade do século 20, morreu nesta terça-feira (5/4) em sua casa em Brookline, Massachusetts. Ele tinha 89 anos.

Viking/The New York Times

"Herzog" e "O Legado de Humboldt" são os maiores sucessos do autor

Sua morte foi anunciada por Walter Pozen, advogado e amigo de Bellow.

"Eu não posso exceder o que vejo", ele disse certa vez. "Eu estou atado, em outras palavras, como um historiador está atado ao período sobre o qual escreve, pela situação em que vivo."

Mas sua história foi de um tipo particular e idiossincrático. O centro de seu universo ficcional era Chicago, onde ele cresceu e passou grande parte de sua vida, e que ele tornou a primeira cidade das letras americanas.

Muitas de suas obras se passam lá, e quase todas elas têm a impetuosidade e simplicidade do Meio-Oeste. Como seu criador, os heróis de Bellow eram totalmente cabeça e totalmente corpo. Eles tendiam a ser sonhadores, buscadores ou intelectuais literários, mas eles viviam em um mundo adoravelmente descrito de excêntricos, golpistas, vendedores de fala rápida e inescrupulosos.

Em romances como "As Aventuras de Augie March", seu romance de estréia em 1953, "Henderson, o Rei da Chuva" e "Herzog", Bellow estabeleceu um caminho para personagens à moda antiga, superdimensionados, e igualmente grandes temas e idéias.

Toda sua obra, romances e contos, foi redigida em um estilo distinto, imediatamente reconhecível que mistura erudito e popular, coloquial e mandarim, gracejo e aforismo, como na introdução do poeta Humboldt no início de "O Legado de Humboldt":

"Ele foi um conversador maravilhoso, um monologuista e improvisador febril que não parava, um detrator campeão. Ser atacado por Humboldt era realmente uma espécie de privilégio. Era como ser tema de um retrato com dois narizes de Picasso, ou um frango eviscerado por Soutine."

Bellow se manteve em um caminho individualista, e desviou de clichês, modismos e escolas literárias. Ele freqüentemente era associado a Philip Roth e Bernard Malamud como um escritor judeu-americano, mas ele rejeitava o rótulo, dizendo que não tinha interesse em fazer parte da "Hart, Schaffner & Marx" das letras americanas.

Bellow cresceu lendo o Velho Testamento, Shakespeare e os grandes romancistas russos do século 19, e sempre olhava com respeito para os mestres, mesmo enquanto tentava se remodelar no idioma americano. Um erudito tanto quanto professor, ele lia muito e citava amplamente, freqüentemente referindo-se a Henry James, Marcel Proust e Gustave Flaubert.

Enquanto outros estavam prontos para proclamar a morte do romance, ele continuava pensando nele como uma forma vital. "Eu nunca me canso de ler os mestres do romance", disse ele. "Será que algo tão vívido como os personagens de seus livros pode morrer?"

Em uma carreira longa e incomumente produtiva, Bellow se esquivou de muitas das armadilhas que geralmente prendem os escritores americanos. Ele não bebia muito, e apesar de passar quatro vezes por análise, sua saúde mental era tão robusta quanto sua saúde física. Seu sucesso não chegou nem tão cedo e nem tão tarde, e ele o aceitou mais ou menos com tranqüilidade. Ele nunca ficou sem idéias e nunca deixou de escrever.

O Prêmio Nobel, que ele ganhou em 1976, foi a pedra angular de uma carreira que também incluiu um Prêmio Pulitzer, três National Book Awards, uma Medalha Presidencial e mais honrarias que qualquer outro escritor americano.

Diferente de outros vencedores, que desconfiavam do albatroz do Nobel, Bellow o aceitou naturalmente. "A criança em mim está encantada", disse ele. "O adulto em mim está cético." Ele aceitou o prêmio, ele disse, "de forma equilibrada", ciente da "humilhação secreta" de que "alguns dos grandes escritores do século não o receberam".

Biografia

Este mais americano dos escritores nasceu em Lachine, Québec, um subúrbio pobre de imigrantes de Montreal. Chamado Solomon Bellow, sua data de nascimento é listada tanto como 10 de junho ou julho de 1915, apesar de seu advogado, Pozen, ter dito na terça-feira que Bellow costumava celebrar em junho. (Os imigrantes judeus naquela época costumavam não dar atenção ao calendário cristão, e os registros são inconclusivos.)

Ele foi o último de quatro filhos de Abram e Liza Bellow, mas ele sempre foi rápido em apontar, o primeiro a nascer no Novo Mundo. Seus pais emigraram da Rússia dois anos antes, apesar da sorte deles não ter sido muito melhor no Canadá.

Em 1924, quando o filho deles tinha 9 anos, os Bellows se mudaram para Chicago, onde a família começou a prosperar um pouco à medida que Abram conseguia trabalho. A família conservou seus velhos hábitos nos Estados Unidos, e durante sua infância, Saul mergulhou na tradição judaica, aprendendo hebreu e iídiche.

Mas eventualmente ele se rebelou contra o que considerava ser uma "ortodoxia sufocante" e encontrou em Chicago não apenas um lar físico, mas espiritual. Eventualmente Chicago se tornou para ele o que Londres foi para Dickens e Dublin foi para Joyce --o centro tanto de sua vida quanto de sua obra, e não apenas um lugar ou pano de fundo, mas quase um personagem à sua própria forma.

Em 1933, ele se matriculou na Universidade de Chicago, mas dois anos depois se transferiu para a Noroeste. Ele esperava estudar literatura, mas ficou desconcertado com o que considerava um anti-semitismo casual no Departamento de Inglês, e se formou em 1937 com honras em antropologia e sociologia, assuntos que ele posteriormente inseriu em seus romances.

Mas ele ainda era obcecado pela ficção. Enquanto realizava seu trabalho de graduação em antropologia pela Universidade de Wisconsin, ele descobriu que "toda vez que trabalhava na minha tese, ele revelava ser uma história". Ele acrescentou: "Eu às vezes acho que a Depressão foi de grande ajuda. Não havia utilidade estudar para qualquer outra profissão".

Abandonando seus estudos de graduação na Wisconsin após vários meses, ele participou no WPA Writers' Project em Chicago, preparando biografias de romancistas do Meio-Oeste, e posteriormente se juntou ao departamento editorial da Encyclopaedia Britannica.

Ele veio para Nova York "no final dos anos 30, com a cabeça confusa mas disposto a me educar". Ele tentou escrever ficção, sem rumo e com pouco sucesso no início.

Ele posteriormente se juntou à marinha mercante e, durante seu serviço, ele concluiu "Dangling Man", sobre a alienação de um jovem de Chicago aguardando pela convocação do Exército. Ele foi publicado em 1944, antes de o autor completar 30 anos, e foi seguido por "A Vítima", um romance sobre anti-semitismo que ele disse ter sido influenciado por Dostoyevsky.

Em 1948, financiado por uma bolsa Guggenheim, Bellow foi para Paris.

Seu primeiro grande romance, "As Aventuras de Augie March", foi publicado em 1953, e se tornou o livro que projetou Bellow, seu primeiro best-seller e o livro que o estabeleceu como um escritor de importância.

O início do romance era tão marcante e inesquecível quanto o início de "As Aventuras de Huckleberry Finn", e anunciava uma voz nova na ficção americana, jovial, impetuosa, exuberante, com sotaques tanto iídiche quanto whitmanianos:

"Sou um americano nascido em Chicago --cidade sombria-- e avanço pela vida a meu modo, de um jeito muito meu, batendo primeiro à porta para abrir caminho, pedindo para entrar. Às vezes, com uma batida inocente, outras vezes com uma batida não muito inocente."

Com "Henderson, o Rei da Chuva" em 1959, Bellow imaginou uma tela ainda maior do que a de "Augie March", com a história de um milionário americano que viaja para a África em busca de regeneração.

"Herzog", em 1964, exibia como seu personagem título um homem comum judeu que é corneado pela esposa e seu melhor amigo. O romance ganhou um National Book Award.

Com "O Planeta do Sr. Sammler" em 1970, um romance sobre um sobrevivente do Holocausto vivendo e ponderando em Nova York, Bellow ganhou seu terceiro National Book Award.

"O Legado de Humboldt", em 1975, foi um de seus maiores sucessos. Nele, Charlie Citrine, um escritor vencedor do Prêmio Nobel, precisa confrontar a morte de seu mentor, o poeta Von Humboldt Fleischer.

"Humboldt" conquistou o Prêmio Pulitzer para ficção. O Prêmio Nobel de literatura veio logo em seguida, com a Academia Real Sueca citando suas "idéias exuberantes, ironia reluzente, comédia hilária e compaixão ardente", e Bellow agora estava na mesma classe que Ernest Hemingway e William Faulkner.

Seu primeiro livro após o Nobel foi "Jerusalém, Ida e Volta", um livro de não-ficção sobre sua viagem a Israel. Ele foi seguido por "Dezembro Fatal", um romance sobre a decadência de uma cidade americana; a coleção de contos "Him With His Foot in His Mouth" e, em 1987, o romance "A Mágoa Mata Mais".

Em 1993, após anos vivendo em Chicago e lecionando na Universidade de Chicago, ele deixou sua cidade adotiva. Ele se mudou para Boston e começou a lecionar na Universidade de Boston. Explicando por que continuava lecionando, apesar ser um dos romancistas americanos sérios mais bem-sucedidos financeiramente, ele disse:

"Você fica totalmente só quando é um escritor. Às vezes você sente que necessita de um banho de humanidade. Mesmo uma viagem de metrô é capaz disto. Mas é muito mais interessante falar sobre livros. Afinal, é o que a vida costumava ser para os escritores: eles falam de livros, política, história, América. Nada substituiu isto".

Em "O Legado de Humboldt", o protagonista, Charles Citrine, diz: "Que vida repleta de mulheres e sempre vivi". Estas são palavras que poderiam ser repetidas pelo autor, que teve inúmeros casos e se casou cinco vezes.

Suas esposas foram Anita Goshkin, Alexandra Tsachacbasov, Susan Glassman, Alexandra Ionescu Tuleca e Janis Freedman. Todos os casamentos de Bellow, exceto o último, terminaram em divórcio.

Além de sua esposa Janis, ele deixa três filhos, Gregory, Adam e Daniel; uma filha, Naomi Rose; e seis netos.

Um desfile de humanidade

Por obras publicadas ao longo de cinco décadas, Saul Bellow recebeu três vezes o National Book Award, o Prêmio Pulitzer e o Prêmio Nobel de Literatura. Suas principais obras são:



"Dangling Man" (1944);


"A Vítima" (1947);


"As Aventuras de Augie March" (1953, National Book Award);

"Agarre a Vida" (1956);

"Henderson, o Rei da Chuva" (1959);

"Herzog" (1964, National Book Award);

"Mosby's Memoirs and Other Stories" (1968);

"O Planeta do Sr. Sammler" (1970, National Book Award);

"Technology and the Frontiers of Knowledge" (1974);

"O Legado de Humboldt" (1975, Prêmio Pulitzer, Prêmio Nobel);

"Jerusalém, Ida e Volta" (1976);

"Dezembro Fatal" (1982);

"Him With His Foot in His Mouth" (1984);

"A Mágoa Mata Mais" (1986);

"Um Furto" (1989);

"Conexão Bellarosa" (1989);

"Something to Remember Me By: Three Tales" (1991);

"Occasional Pieces" (1993);

"Tudo Faz Sentido" (1994);

"The Actual" (1997);

"Ravelstein" (2000) e

"Collected Stories" (2001)

Tradução: George El Khouri Andolfato

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