Trump ironiza sotaque de jornalista francesa e reacende debate sobre tratamento dado à imprensa internacional
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se recusou a responder a uma pergunta sobre a situação em Gaza feita por uma jornalista francesa durante uma entrevista coletiva, alegando não compreender seu sotaque. Com tom irônico, o chefe de Estado disse não entender a repórter, que vive há anos em Washington. O episódio reacendeu discussões sobre o possível desprezo de Trump pela imprensa internacional.
Durante a coletiva na Casa Branca, nesta quinta-feira (23), a jornalista Sonia Dridi perguntou em inglês ao republicano: “Ontem houve uma votação no Knesset [o Parlamento israelense] sobre a anexação da Cisjordânia. O senhor vê isso como uma ameaça aos seus esforços de paz?”
“Você pode repetir isso mais alto, por favor?”, respondeu Trump após a pergunta da repórter, que então repetiu a questão. Em seguida, ele se virou para Pam Bondi, sua ministra da Justiça, e pediu para que ela respondesse à pergunta. “Eu não entendo uma palavra do que ela diz”, lançou o chefe da Casa Branca.
Na sequência, Trump questionou a jornalista: “De onde você é?” Ao ouvir que ela era francesa, ele ironizou, antes de repetir: “França? Belo sotaque, mas não dá para entender uma palavra do que você diz…”
Pouco depois, o presidente finalmente respondeu à pergunta feita pela jornalista. “Não se preocupe com a Cisjordânia. Israel não vai fazer nada na Cisjordânia, não se preocupe”, disse o presidente. “Era essa sua pergunta? Israel não vai fazer nada, não se preocupe.”
Incompreensão ou condescendência?
Essa não foi a primeira vez que Trump alegou não compreender o sotaque de jornalistas estrangeiros. Em fevereiro, ele ignorou a pergunta de uma repórter afegã, justificando a recusa pela dificuldade de entendimento. “Você tem uma voz bonita e um sotaque bonito. O único problema é que não entendo uma palavra do que você diz. Mas vou apenas dizer o seguinte. Boa sorte e viva em paz”, declarou.
Dias depois, fez comentário semelhante a um jornalista indiano, durante uma coletiva ao lado do presidente da Índia. “É o sotaque, é um pouco difícil para mim”, explicou, sem responder à pergunta.
A própria Sonia Dridi já havia sido alvo de comentários por parte da equipe de Trump. Em fevereiro, ela foi mencionada em um tuíte da deputada Marjorie Taylor Greene. “E o que dizer sobre o sotaque dessa jornalista? Acho que devemos nos livrar de toda a imprensa estrangeira! Mídia americana em primeiro lugar!”, escreveu Greene em sua conta no X, ao compartilhar um trecho de um diálogo entre a porta-voz da Casa Branca e a correspondente francesa.
Sonia Dridi atua há anos como correspondente em Washington para diferentes canais de televisão - incluindo France 24, do mesmo grupo que a RFI - e é atualmente a única jornalista francesa credenciada na Casa Branca. Ela cobre notícias da capital americana para os canais TF1 e LCI, do principal grupo de televisão privada da França.
O episódio recente envolvendo a repórter gerou inúmeras reações nas redes sociais. Alguns internautas ironizaram a situação, mencionando a fama do forte sotaque dos franceses ao falar inglês. No entanto, a maioria das manifestações foi crítica à postura do presidente, considerada condescendente e reforçando a percepção de que Trump tenta, sempre que possível, desprezar ou contestar o papel da imprensa, especialmente a internacional.
Desde que reassumiu a presidência em janeiro deste ano, para seu segundo mandato, Trump tem adotado um tom mais duro com a imprensa. Em discursos, entrevistas coletivas e em sua rede Truth Social, ele ataca regularmente veículos estrangeiros. Além disso, no fim de agosto, sua administração propôs reduzir o tempo de permanência nos Estados Unidos para jornalistas estrangeiros.
(Com agências)
